segunda-feira, 26 de março de 2018

A REGRA DE OURO - DUAS COMPONENTES?

Regra de ouro é, ao decidir uma ação que afeta o outro, colocar-se no seu lugar.

É bom distinguir duas formas de aplicação da regra.

A negativa, que também pode ser chamada de respeito. Não fazer ao outro o que não gostaria que ele fizesse a você.

A positiva, que também pode ser chamada de empatia. Fazer para o outro o que você deseja que o outro faça em relação a você.

A disposição de cooperação tem as duas componentes, que saem de campo se a relação é de competição.

JUSTIÇA

Todos querem justiça. Os muito poderosos são exceção, eles já estão satisfeitos.

Justiça vai se tornando cada vez mais completamente em mercadoria, ou seja, algo que é efetivada mediante um preço. Leva quem é capaz de pagar o preço.

Ela sempre (particularmente no Brasil) sempre foi um instrumento de poder das classes dominantes, no regime colonial, na escravidão, nas várias ditaduras e nos vários períodos parcialmente democráticos. Em tempos contemporâneos, a adoção da ideologia neoliberal, que promove a primazia do mercado sobre as aspirações das pessoas também pelos operadores do direito, moderniza essa atuação. 

A classe judiciária - advogados, promotores e juízes, operacionalizam essa transformação da justiça em objeto de compra e venda. De todo modo, um forte componente da vocação para o judiciário sempre foi o de assegurar que a lei funcione bem sobretudo para seus profissionais. 

O caos crescente nas relações sociais trazido pelo golpe, completa-se com a insegurança jurídica introduzida ao se ignorarem os direitos e garantias individuais dos golpeados. O fato de essa insegurança jurídica se estender a todos os cidadãos e empresas brasileiros favorece a dominação da economia por interesses estrangeiros, que por disporem de foros internacionais e da possibilidade de simplesmente ir embora, aumentam ainda mais seu poder econômico e político no país.

UM OU VÁRIOS GOLPES NO BRASIL?

Para lembrar apenas as instituições e processos violentos que influem decisivamente sobre nossa realidade atual, aqui vai uma enumeração do que está aí a desestruturar os processos democráticos desde antes da promulgação da pobre Constituição de 1988.

São o que é incompatível com a prática democrática, em que todos têm uma chance, mesmo que desigual, de influir sobre as coisas que os afetam. Convido quem me lê a refletir se a enumeração que vem a seguir não é incompleta, ou não está sendo formulada de forma inadequada. Coloco aqui o que me parece importante hoje, independente de ter sido importante também durante a ditadura de 1964-1985 ou anteriormente.

Acima de tudo existe um sistema não explicitado de hierarquias e crenças, o Mercado, que em suas ações políticas emerge como o Partido Neoliberal, e que atua para monopolizar o poder desde os anos 1970. 

Em primeiro lugar, existe um país, que é o império que há muito tempo condiciona tudo o que ocorre neste "quintal" deles. Esse mesmo, os Estados Unidos. A grande potência que deixou de ser hegemônica na medida em que perde gradualmente a anteriormente esmagadora predominância econômica, e que vem substituindo a persuasão cada vez mais com a ameaça militar e as ações de guerra em todo o mundo.

Quando os EUA participaram como sócio e mentor maior do golpe de 1964, eles já estavam bastante envolvidos no Vietnam. Muitos de nós na esquerda torcíamos pelo Vietcong, por Cuba contra eles. Tínhamos uma crença de que, se derrotados, eles poderiam se sentir menos propensos a intervir nos outros países, mesmo sabendo que na divisão do mundo com a União Soviético a América Latina era considerada território privativo deles.

Não sabíamos da profundidade de envolvimento de pseudo brasileiros como agentes pagos do império. Os ativos, "assets" deles. Acreditem, eles sempre estiveram em todas as partes. Nasceram de famílias brasileiras. Muitos foram recrutados nas universidades estadunidenses.

Eles não trabalham só para o governo do império. Agem a favor de seus interesses como operadores dos bancos e de outras grandes corporações internacionais. Como tal, pressionam, montam e mantêm "think tanks" dedicados tanto a propagar o credo neoliberal como a desmoralizar toda a ideia de um Brasil nação independente. Cultivar o viralatismo. 

Não haveria possibilidade de o país ser sabotado tão profundamente sem a ajuda dessas legiões de agentes brasileiros, dos EUA e de suas corporações. Se você ama este país, cuidado com o que você ouve e com o que você passa. Amigos das redes sociais ou pessoais podem estar trazendo, não reflexões próprias ou informações confiáveis, mas coisas do interesse deles lá. No passado, eu mesmo fui enrolado por um amigo, e até hoje me irrito ao lembrar de minha ingenuidade.

Outros componentes do golpe, que já abordei lá atrás: a mídia, os grandes jornais e revistas, o judiciário. É preciso, entretanto, destacar o papel que as Polícias Militares vêm desempenhando sem parar, durante todo o intervalo semi democrático que vivemos a partir de 1985.

Elas participaram ativamente da ditadura de 1964. Foram inclusive reorganizadas e de alguma forma integradas às forças armadas no período. Doutrinadas dentro dos parâmetros da Segurança Nacional, que o império estadunidense estava passando na época para os países clientes.

A postura violenta, repressiva, radicalmente anticomunista das PMs, cristalizada durante o período militar eventualmente atenuou-se em algumas ocasiões. Mas a doutrinação nos quarteis e as práticas permaneceram quase as mesmas. Mantiveram-se os esquadrões da morte, agora voltados contra os negros e pobres, grande parte deles integrados por policiais militares. Que ajudaram na fase subversiva do golpe,  desde 2013, dando cobertura e confraternizando com as manifestações pela deposição de Dilma. 

Sob esse arcabouço institucional: EUA e aliados, Mídia, Judiciário, Financiadores estrangeiros e nacionais atuando a mando dos 1 % mais ricos, o Povo do Golpe. Setores reacionários e proto fascistas da classe média, e parte dos trabalhadores, que reagiram contra a ascensão relativa dos mais pobres voltando-se contra o governo que elas consideravam responsável por essa quebra da hierarquia social. Como uma tal reação é politicamente incorreta, foi invocada uma antiga arma contra a democracia, já aplicada em várias ocasiões históricas no Brasil, o ataque à corrupção. 

Grupos da PM e da ala fascista da classe média, no momento, realizam ataques terroristas. Mataram Marielle Franco, têm atacado componentes da caravana de Lula no Rio Grande do Sul, contando com a cumplicidade da Brigada Militar daquele estado.

É aqui que é necessário voltar a abordar as questões da prática democrática, tema de minha estada no IEE como pesquisador autônomo voluntário. 

Temos as entidades que articulam os interesses difusos dos objetos dos grandes projetos: entidades de trabalhadores sem terra e sem teto, associações ad hoc de populações afetadas, ONGs dos pobres e ONGs das grandes empresas. Sua situação institucional permanece nominalmente a mesma. No entanto, os componentes institucionais do golpe passaram a atuar ainda mais intensamente contra as parcelas mais vulneráveis da população, aquelas que mais necessitariam de uma intervenção do Estado em seu favor.

Ações judiciais pelos interesses difusos têm perdido cobertura pela mídia e atenção pelo judiciário. Do outro lado, interesses concentrados do capital financeiro têm conseguido garantir uma situação progressivamente mais predominante.





segunda-feira, 19 de março de 2018

SOBRE A ACUSAÇÃO DE QUE A RÚSSIA SE METEU NAS ELEIÇÕES DOS ESTADOS UNIDOS

Aposto que tem alguma verdade nisso aí. Já não seria um escândalo, dado que o império mete-se não só nas eleições, mas promove golpes e guerras civis nos países cujos governos não estão fazendo integralmente o que eles querem. Mas acreditar que russos foram decisivos para eleger Trump... Tem muita trapaça para explicar o que aconteceu, inclusive que o sistema de lá elegeu alguém que recebeu três milhões menos de votos populares.

Sem contar que é o dinheiro que domina (lá como cá), tanto que a adversária do Trump, a Clinton, era outra queridinha do poder financeiro. O que a Cambridge Analytica, citada abaixo fez, possivelmente os irmãos Koch, financiadores do MBL, e os órgãos de espionagem estadunidenses fizeram e continuam a fazer, lá, aqui e no resto do mundo.

Agora, vejam o que está sendo publicado no jornal inglês Guardian, que reproduzo da newsletter Meio (canalmeio.com.br):


Facebook sob pressão política

Na sexta-feira, o Facebook ameaçou ir à Justiça contra o diário britânico Guardian que pretendia publicar — e publicou — uma longa reportagem sobre a empresa. No sábado, além do Guardian, o New York Times também tinha a mesma história: Christopher Wylie, um cientista da computação canadense de 28 anos, revelou como descobriu o truque para extrair do Facebook os perfis detalhados de 50 milhões de pessoas. Este material foi utilizado pela consultoria em que trabalhava, a Cambridge Analytica, nas campanhas vencedoras que tiraram o Reino Unido da União Europeia — o Brexit — e levaram Donald Trump à presidência. A empresa de Mark Zuckerberg passou o fim de semana sob fogo cerrado de legisladores nos dois lados do mundo anglo-saxão.
A segurança do Facebook não foi quebrada. Trabalhando pela consultoria, Wylie criou um app de quiz no qual usuários respondiam a perguntas sobre seus hábitos para receber como resposta uma caracterização de seu perfil digital. Ao fim, cada participante dava permissão para que o aplicativo acessasse dados não só de seu perfil como também o de todos seus amigos. Sim: em 2014, um usuário poderia, inadvertidamente, permitir que alguém puxasse os dados pessoais completos de todos seus amigos. 320 pessoas fizeram o teste, com em média 160 amigos cada. Pouco mais de 51 milhões de perfis foram para os bancos de dados da Cambridge Analytica.
O app foi baseado em um estudo científico sobre como utilizar redes sociais para pesquisa social. O paper, em PDF.
Com estes dados — os likes, os posts, idade, estado civil, local de residência etc. — a CA pôde fazer cruzamentos para perceber que um percentual alto de pessoas que odeiam Israel costuma gostar de chocolates KitKat. São padrões de comportamento sutis que parecem aleatórios, mas não são: há correlação. Cruzando este imenso volume de informações, a consultoria traçou perfis detalhados de eleitores que poderiam se inclinar pelo Brexit e por Trump. Sabia, para cada subgrupo, que argumento preciso costurar, que ponto fraco cutucar. O Facebook lhes entregou dados que ninguém mais tinha.
A primeira reação do Facebook foi suspender as contas da Cambridge Analytica, de Wylie e de Aleksandr Kogan, um professor da Universidade de Cambridge que ajudou na construção do app. (A Consultoria leva o nome por contratar pesquisadores da universidade britânica.) Mas a rede social tem um problema: vem, há anos, dizendo que é muito difícil extrair dados para usos ilegítimos. “É hora de Mark Zuckerberg parar de se esconder atrás de sua página no Facebook”, disse o deputado conservador Damian Collins, em Londres. Collins quer convocar Zuck para um depoimento formal. A senadora democrata Amy Klobuchar, em Washington, também vai convocá-lo. “Ficou evidente que estas plataformas não conseguem cuidar de si mesmas”, afirmou. Alex Stamos e Andrew Bosworth, executivos do Facebook, foram ao Twitter para defendê-lo: “Não houve um vazamento”, disse Boz. “As pessoas escolheram compartilhar suas informações.”
Aliás... De Steve Bannon, o assessor de Trump que montou com a Cambridge Analytica a estratégia de campanha nas redes. “Mussolini era adorado pelas mulheres, um homem entre homens. Viril. Sou fascinado por ele.”


sábado, 17 de março de 2018

O GOLPE E O ASSASSINATO DE MARIELLE

O par de sicários que interromperam a luta e o sorriso de Marielle Franco são parte do golpe. Junto com os paneleiros e os coxinhas da classe média, mais os esquadrões de PMs que nunca deixaram de agir contra os pobres e os negros.

Utilidades do assassinato: reprimir a esquerda pelo terror, mostrar a autonomia dos grupos de extermínio dentro e fora dos corpos policiais.

Quanto aos setores reacionários da classe média que não estão aplaudindo, saem a explicar a ação de seus companheiros com raciocínios longos ou confusos, tentando inclusive de responsabilizar as vítimas, Marielle e Anderson. Não tenho, nem recomendo, paciência para ouvir ou ler suas idiotices.

Vale compreender o crime como parte do processo do golpe, coerente com os interesses da Casa Grande, dos rentistas e sob supervisão dos milhares de olhos e operadores dos Estados Unidos.

Por enquanto, veja neste link, a repercussão entre pessoas do nosso lado (obrigado, Gato!).

quinta-feira, 15 de março de 2018

COMO O PNL IMPEDE QUE AS COISAS POSSAM MELHORAR

Entendamos. Em posts anteriores coloquei um nome de Partido para ajudar a identificar as forças que impedem trabalhar pela emancipação das pessoas. Assim, emancipações não de um grupo ou grupos, mas das pessoas.

No livro How Will Capitalism End?, Wolfgang Streeck mostra com outras palavras a ação global do Partido Neoliberal. Ele assinala a transição do estado capitalista, de Estado baseado em impostos para Estado baseado na dívida. Distingue dois públicos, ou tipos de cidadãos - o povo do Estado e o povo do Mercado (Staatsvolk e Marktvolk), para mostrar como este último é quem dá as cartas, e desloca o que se entende por democracia. Uma tabela do livro ilustra bem a distinção:


Povo do Estado                            Povo do Mercado
nacional                                         internacional         
cidadãos                                        investidores
direitos civis                                   itens contratuais
eleitores                                        credores
eleições (periódicas)                       leilões (contínuos)
opinião pública                               taxas de juros
lealdade                                         “confiança”
serviços públicos                            serviço da dívida



Essas diferenças de discurso não comparecem de maneira explícita no discurso da mídia e da imprensa corporativas, e dos estados baseados na dívida - quase todos os atuais, começando por exemplo nos Estados Unidos, Reino Unido e terminando em Brasil, Argentina. Não aparecem porque o povo do Estado e seus valores são cada vez mais ignorados. A primeira coluna é mostrada cada vez mais como paisagem, comparada com o que interessa, na coluna da direita.

Os critérios e valores do Povo de Mercado são esses. Eles querem fazer parecer que são únicos (lembrar da dona TINA da Margareth Thatcher). Têm sido muito bem sucedidos até agora. Nesse processo as forças da cidadania são, mais do que reprimidas, afogadas na ideologia e nas práticas do dia a dia do Povo do Mercado (também conhecidos como os 1% e seus auxiliares).

terça-feira, 13 de março de 2018

EINSATZGRUPPEN, OS ESQUADRÕES DA MORTE DO NAZISMO NA SEGUNDA GUERRA

Há uma série documentário na Netflix que trata de mostrar a primeira fase do assassinato em massa de povos da Europa Central e Oriental, no início da Segunda Guerra Mundial.

O que chamou minha atenção foi a participação, mostrada principalmente nos primeiros episódios, de parcelas das populações locais, nos massacres. Os nazistas no início incitavam Pogroms domésticos. Há cenas horríveis. 

É interessante lembrar o esforço de um governante idiota de extrema direita, da Polônia, que conseguiu aprovar uma lei proibindo e punindo que se indique a participação de poloneses na ajuda ao genocídio de judeus naquele país.

E a tentativa secular dos governos e elites da Turquia, de negar o genocídio de grande parte da população armênia em 1015.

Os germes da maldade estão sempre entre nós. É bom lembrar isso, quando a crise do capitalismo lança o caos às vidas econômicas e à política e ao sistema de justiça, da desordem começam a brotar as hordas de zumbis morais, prontos a atacar as pessoas mais vulneráveis.

sexta-feira, 2 de março de 2018

CHAME O LADRÃO

Outra vez?








Acorda Amor

  

Acorda, amor
Eu tive um pesadelo agora
Sonhei que tinha gente lá fora
Batendo no portão, que aflição
Era a dura, numa muito escura viatura
Minha nossa santa criatura
Chame, chame, chame lá
Chame, chame o ladrão, chame o ladrão
Acorda, amor
Não é mais pesadelo nada
Tem gente já no vão de escada
Fazendo confusão, que aflição
São os homens
E eu aqui parado de pijama
Eu não gosto de passar vexame
Chame, chame, chame
Chame o ladrão, chame o ladrão
Se eu demorar uns meses
Convém, às vezes, você sofrer
Mas depois de um ano eu não vindo
Ponha a roupa de domingo
E pode me esquecer
Acorda, amor
Que o bicho é brabo e não sossega
Se você corre, o bicho pega
Se fica não sei não
Atenção!
Não demora
Dia desses chega a sua hora
Não discuta à toa, não reclame
Clame, chame lá, chame, chame
Chame o ladrão, chame o ladrão, chame o ladrão
(Não esqueça a escova, o sabonete e o violão)