segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

CONVERGÊNCIA NA PERCEPÇÃO


Este senhor quase foi candidato lá nos Estados Unidos. Tem muito apoio, principalmente entre os jovens. Obrigado Igor Fuser, pela indicação em seu Facebook. Claro, mesmo sem uma ditadura judiciária por lá (só algumas criminalizações de movimentos sociais), faltam instrumentos para esse enfrentamento. Vida que segue.

Bernie Sanders: é hora de nova rebeldia global

berniecampaigncover.nbcnews-ux-1080-600Às vésperas do Fórum de Davos, ex-candidato rebelde à presidência dos EUA propõe um movimento articulado para enfrentar, em todo o mundo, os poderosos, os bilionários e a desigualdade estrutural
Por Bernie Sanders | Tradução: Mauro Lopes
Eis onde estamos como planeta em 2018: depois de todas as guerras, revoluções e grandes encontros  internacionais nos últimos 100 anos, vivemos em um mundo onde um pequeno punhado de indivíduos incrivelmente ricos exercem níveis desproporcionais de controle sobre a vida econômica e política da comunidade global.
Difícil de compreender, o fato é que as seis pessoas mais ricas da Terra agora possuem mais riqueza do que a metade mais empobrecidada população mundial — 3,7 bilhões de pessoas. Além disso, o top 1% tem agora mais dinheiro do que os 99% de baixo. Enquanto os bilionários exibem sua opulência, quase uma em cada sete pessoas luta para sobreviver com menos de US$ 1,25 [algo como R$ 4] por dia e – horrivelmente – cerca de 29 mil crianças morrem diariamente de causas totalmente evitáveis, como diarreia, malária e pneumonia.
Ao mesmo tempo, em todo o mundo, elites corruptas, oligarcas e monarquias anacrônicas gastam bilhões nas mais absurdas extravagâncias. O Sultão do Brunei possui cerca de 500 Rolls-Royces e vive em um dos maiores palácios do mundo, um prédio com 1.788 quartos, avaliado em US$ 350 milhões. No Oriente Médio, que possui cinco dos 10 monarcas mais ricos do mundo, a jovem realeza circula pelo jet set ao redor do mundo, enquanto a região sofre a maior taxa de desemprego entre os jovens no mundo e pelo menos 29 milhões de crianças vivem na pobreza, sem acesso a habitação digna, água potável ou alimentos nutritivos. Além disso, enquanto centenas de milhões de pessoas vivem em condições de vida indignas, os comerciantes de armas do mundo enriquecem cada vez mais, com os gastos governamentais de trilhões de dólares em armas.
Nos Estados Unidos, Jeff Bezos — fundador da Amazon, e atualmente a pessoa mais rica do mundo — tem um patrimônio líquido de mais de US$ 100 bilhões. Ele possui pelo menos quatro mansões que, em conjunto, valem várias dezenas de milhões de dólares. Como se isso não bastasse, está gastando US$ 42 milhões na construção de um relógio dentro de uma montanha no Texas, que supostamente funcionará por 10.000 anos. Mas, nos armazéns e escritórios da Amazon em todo o país, seus funcionários usualmente trabalham em jornadas longas e extenuantes e ganham salários tão baixos que precisam crucialmente do Medicaid, de cupons de alimentos e subsídios públicos para habitação, pagos pelos contribuintes dos EUA.
TEXTO-MEIO
Não só isso: neste momento de riqueza concentrada e desigualdade de renda, pessoas em todo o mundo estão perdendo a fé na democracia. Eles percebem cada vez mais que a economia global foi manipuladapara favorecer os que estão no topo à custa de todos os demais — e estão revoltados.
Milhões de pessoas estão trabalhando mais horas por salários mais baixos do que há 40 anos, tanto nos Estados Unidos quanto em muitos outros países. Elas olham à frente e sentem-se indefesas diante de poucos poderosos que compram eleições e uma elite política e econômica que se torna mais rica, enquanto futuro de seus próprios filhos torna-se cada dia mais incerto.
Em meio a toda essa disparidade econômica, o mundo está testemunhando um aumento alarmante do autoritarismo e do extremismo de direita — que alimenta, explora e amplifica os ressentimentos dos que ficaram para trás e inflamam o ódio étnico e racial.
Agora, mais do que nunca, aqueles que acreditamos na democracia e em governos progressistas devemos mobilizar as pessoas de baixa renda e trabalhadoras em todo o mundo para uma agenda que atenda suas necessidades. Em vez de ódio e divisão, devemos oferecer uma mensagem de esperança e solidariedade. Devemos desenvolver um movimento internacional que rejeite a ganância e a ideologia da classe bilionária e conduza-nos a um mundo de justiça econômica, social e ambiental. Isso será uma luta fácil? Certamente não. Mas é uma luta que não podemos evitar. Os riscos ao futuro são altos demais.
Como o Papa Francisco observou corretamente em um discurso no Vaticano em 2013: “Criamos novos ídolos; a adoração do antigo bezerro de ouro encontrou uma nova e impiedosa imagem no fetichismo do dinheiro e na ditadura da economia sem rosto nem propósito verdadeiramente humanos.” Ele continuou: “Hoje, tudo está sob as leis da competição e da sobrevivência dos mais aptos enquanto os poderosos se alimentam dos sem poder. Como consequência, milhões de pessoas encontram-se excluídas e marginalizadas: sem trabalho, sem possibilidades, sem meios de escapar”.
Um novo movimento progressista internacional deve comprometer-se a enfrentar a desigualdade estrutural tanto entre as nações como em seu interior. Tal movimento deve superar o “culto do dinheiro” e a “sobrevivência dos mais aptos”, como advertiu o Papa. Deve apoiar políticas nacionais e internacionais destinadas a aumentar o nível de vida das pessoas pobres e da classe trabalhadora — desde o pleno emprego e salário digno até o ensino superior e saúde universais e acordos de comércio justo. Além disso, devemos controlar o poder corporativo e interromper a destruição ambiental do nosso planeta que tem resultado nas mudanças climáticas.
Este é apenas um exemplo do que precisamos fazer: apenas alguns anos atrás, a Rede de Justiça Fiscal (Tax Justice Network) estimou que as pessoas mais ricas e as maiores corporações em todo o mundo esconderam entre US$ 21 trilhões e US$ 32 trilhões em paraísos fiscais, para evitar o pagamento de sua justa contribuição em impostos. Se trabalharmos juntos para eliminar o abuso tributário offshore, a nova receita que será gerada poderá pôr fim à fome global, criar centenas de milhões de novos empregos e reduzir substancialmente a concentração de renda e a desigualdade. Tais recursos poderão ser usados para promover de forma acelerada uma agricultura sustentável e para acelerar a transição de nosso sistema de energia dos combustíveis fósseis e para as fontes de energia renováveis.
Rejeitar a ganância de Wall Street, o poder das gigantescas corporações multinacionais e a influência da classe dos bilionários globais não é apenas a coisa certa a fazer — é um imperativo geopolítico estratégico. Pesquisa realizada pelo Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas mostrou que a percepção dos cidadãos sobre a desigualdade, a corrupção e a exclusão estão entre os indicadores mais consistentes para definir se as comunidades apoiarão o extremismo de direita e os grupos violentos. Quando as pessoas sentem que as cartas estão  empilhadas na mesa contra si e não veem caminho para o recurso legítimo, tornam-se mais propensas a recorrer a soluções prejudiciais a elas próprias e que apenas exacerbam o problema.
Este é um momento crucial na história do mundo. Com a explosão da tecnologia avançada e os novos paradigmas que ela permitiu, agora temos a capacidade de aumentar substancialmente a riqueza global de forma justa. Os meios estão à disposição para eliminar a pobreza, aumentar a expectativa de vida e criar um sistema de energia global barato e não poluente.
Isto é o que podemos fazer se tivermos a coragem de nos unir e confrontar os poderosos que querem cada vez mais para si mesmos. Isto é o que devemos fazer pelo bem de nossos filhos, netos e o futuro do nosso planeta.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

VEJA A OPINIÃO DE BRIZOLA SOBRE TUDO ISSO

Peguei no Tijolaço. Afinal de contas, precisamos do apoio de todos, inclusive de alguém que sofreu muitas derrotas e teve muitas vitórias com o povo brasileiro.
Aproveito para enviar saudação aos fãs deste blog da Polônia (69 visualizações até agora, o maior número indicado nas estatísticas do Google!)



Brizola, sobre a condenação de Lula. Por Marceu Vieira

brizlul
Meu bom amigo Marceu Vieira, hoje exilado em terras paulistanas, por muitas vezes entrevistou Brizola e pegou-lhe o jeito personalíssimo, arrisca-se a fazer o que eu jamais faço com Brizola – embora o  tenha feito com Darcy Ribeiro – porque fui seu porta-voz e não exerceria esta confiança sem o poder: escrever o que ele diria do que se passa hoje.
Marceu pode fazê-lo e, em seu blog, publica a imaginária entrevista, com as pitadas de humor de não lembrar, nunca, o seu nome.

Brizola: ‘Julgamento de Lula foi um teatro’

Marceu Vieira, em seu blog
Em nova alucinação, o cronista digital voltou a entrevistar sua lembrança de Leonel Brizola – desta vez, no dia da condenação de Lula em segunda instância.
Governador, daí onde está agora, o senhor acompanhou o julgamento do Lula?
Sim, Romeu. Eu, de cá onde estou, a tudo assisto e tudo ouço. Vi tudo isso com grande apreensão e tristeza. Francamente, sinto muita tristeza. Este velho coração, já parado, ficou mais engelhado, tu podes acreditar. Vi tudo isso, principalmente, com a preocupação de quem não pode mais estar aí para manifestar a sua indignação. Por isso, mais uma vez, pedi permissão aos líderes do universo, que um dia tu, que és novilho precoce, também saberás quem são, para acompanhar mais esse calvário, que não é só do Lula, creias, mas de todo o povo brasileiro. Pedi permissão também para dizer através de ti, novilho precoce, como tantos que aí vejo, algumas palavras.
Novilho precoce?
Tu me perdoes. Não te ofendas, Orfeu. Novilho precoce é aquele abatido quando ainda não completou 30 meses. É como vejo os sonhos da tua geração. A tua geração foi abatida em tantos sonhos desde que esses facínoras, não é verdade?, se aferraram ao poder no fim da ditadura. Deu-se, então, a ditadura econômica, comandada por esses filhotes da ditadura militar. Houve a vitória do povo com Lula, depois com a dona Dilma, mas, no fundo, tisc, no fundo, eles, os facínoras, estiveram sempre ali, de prontidão, o tempo todo, comandando os carreiros com suas varas finas, a guiar a boiada rumo ao abatedouro da ditadura econômica. Francamente, acredito que o PT, num dado momento, achou que a fatura já estava ganha e deu rédeas a esta gente. Eu sinto pena de ti e de tantos novilhos precoces abatidos em seus sonhos. E sinto, sobretudo, creias, uma profunda dó do Brasil.
O julgamento do Lula foi injusto?
Só a maldição do Coisa Ruim poderia fazer alguém, em sã consciência, acreditar que o que se passou com o Lula transcorreu de uma maneira limpa e justa. Francamente! Lula, vá lá, cometeu por aí os seus equívocos. Pecados veniais. Francamente, Lula costeou o alambrado algumas vezes, e até ultrapassou a cerca em ocasiões importantes, fazendo festa de cusco interessado num naco de carne, ou mesmo cegando os olhos para os donos do poder econômico e político, que ameaçavam a sua governabilidade. Mas, a rigor, não vejo em nada um crime que justifique esse calvário imposto pelo juiz Louro ao ex-presidente.
O senhor fala do juiz Moro?
Alfeu, perdoes este velho já morto, que vem de longe, e ainda não se habituou ao nome do magistrado. Mas, francamente, com todo o respeito aos louros, ele, o juiz, está mais para Louro, a ave, não é verdade?, aquele que reproduz o que o dono repete e não pensa nem sabe o que diz. Só reproduz o que lhe ensinam na repetição.
O juiz Moro estaria a serviço de que dono?
Francamente, a rigor, não vejo de outra forma. Ele, o Mouro, não parece ter a virtude da isenção, que se presume que os magistrados devam ter. Está claro, nas suas decisões, a quem ele serve. Veja como ele se comporta com os do lado de lá! Chega a ser perigoso para o Judiciário ter o destino do Brasil nas mãos desse jovem juiz, cujo objetivo, a mim me parece, é apenas o de esmagar Lula e suas possibilidade de retorno à Presidência. E a quem interessa que Lula esteja fora da disputa?! Não sei quais são as convicções políticas do meritíssimo, o que ele supõe como país ideal para os seus filhos. Mas se tem tem rabo de jacaré, dente de jacaré, couro de jacaré, só pode ser jacaré! Vejo essa artilharia contra o Lula diferente do bombardeio daquele cantor, por exemplo, o Tigrão, francamente, que ataca, ataca, ataca com sua língua afiada, e nada propõe para pôr no lugar do que deseja desconstruir. Essa gente a que o juiz Louro serve sabe muito bem o que quer perpetuar.
Quem é esse Tigrão, governador?
O cantor… Eu não saberia classificar. Funkeiro talvez não seja. Acho que é do iê-iê-iê, uma espécie de astro do iê-iê-iê brasileiro, que anda apartado da grande mídia. Ele tem uma música que admiro, que diz: “A vida passa na TV.” Nem sempre a vida real passa na TV. Mas este verso desse Tigrão, na verdade, diz um pouco do meu sentimento.
Governador, não seria Lobão?
Sim, é esse. Peço perdão a ele pelo meu engano, Aristeu.
Marceu, governador.
Ah, quanto a ti, já me desculpei muitas vezes. Sempre troquei teu nome. Tu me desculpes, Marcel. Mas deixe-me concluir. O juiz não é como esse Tigrão, que expõe seu desejo de demolir tudo isso que aí está sem oferecer uma alternativa capaz de estancar o sangue do povo brasileiro. Tu sabes que eu também jamais morri de amores pelo Lula. Há questões fundamentais nas quais divergimos ao longo de toda a minha passagem por este plano. Mas não vejo no Brasil alternativa melhor neste momento do que o Lula. O povão humilde, as nossas crianças de pés descalços e canelas ruças, as mulheres oprimidas, os nossos irmãos negros, quem melhor para olhar por eles? Penso que esse seja o Lula. Por isso, os interésses econômicos o temem tanto, porque querem o leite da vaca só para si! Quem melhor para estancar as perdas internacionais que mantêm tudo isso que aí está?! No meu entendimento, honestamente, o Lula.
Governador, o presidente Temer disse que…
Um momento, Argeu! Tu me desculpes interromper. Não quero falar desse Temer. Esse Temer, a rigor, não é nada! É um rito de passagem, um bonecão do posto, não é verdade?, tu me entendes, um bonecão do posto que está ali, tisc…, está ali só para cumprir a tarefa de quem de fato comanda as ações, que é o poder econômico, que é essa elite apodrecida, que, daqui onde estou eu pressinto, um dia vai morrer de velha sem que ninguém vá ao seu funeral! A rigor, é o que vai acontecer! A elite brasileira vai morrer de velha, podre, sem que ninguém vá ao seu funeral!
Voltando ao julgamento, o senhor acreditava na possibilidade de absolvição do Lula?
Veja, Pirineu. Como se diz nos pampas, o cenário sempre esteve mais feio do que o diabo chupando limão, não é verdade? Tudo se deu como o grande poder desejava que as coisas sucedessem. Mas, honestamente, mantenho a minha fé no bom senso dos juízes que ainda julgarão novos recursos do ex-presidente. A mim, sempre pareceu improvável o cenário de 3 a 0 a favor do Lula. Mas acreditava numa análise mais equilibrada nessa segunda instância do que os 3 a 0 contra ele. Eu me recolho com grande tristeza depois de assistir ao que assisti em Porto Alegre.
O aumento da pena de Lula, na sua opinião, sinaliza que…
Permita-me concluir. O tempo é o maior de todos os juízes. O tempo também julgará esses desembargadores, como também julgará o juiz Louro. Os regentes dessa sustentação ao juiz, a meu ver, são mais assanhados do que lambari de sanga. São mais ásperos do que língua de gato. Mas, a rigor, esse julgamento do Lula não passa de uma bazófia para o juiz Mouro. Na verdade, foi um teatro apenas! Um teatro! A rigor, foi um teatro, com final já previsto. Lula, para eles, já estava esgualepado que nem cincha de bagual. Mas lhe asseguro, Doalcei, Lula é forte e resistirá. Disso, creias, eu não tenho dúvidas. Confio que algo de positivo ainda vai de acontecer.
No Judiciário?
Se não for pela ação do Judiciário, será pelo poder das ruas.
O senhor acompanhou o comício do Lula e da Dilma em Porto Alegre na véspera do julgamento?
Sim. Confesso que assisti a tudo com muita alegria e saudade daquele cenário. Eu mesmo já estive ali, diante de multidão até maior, modéstia à parte, proferindo as minhas crenças e as minhas verdades. No meu último quarto de hora neste ambiente terreno de vocês, era do que mais sentia falta, de falar co franqueza para o nosso povão.
O senhor ainda acredita que Lula consiga se candidatar?
Veja, Ateneu. Quando eu estava no exílio, e aqui ainda mal se falava em abertura política, ninguém acreditava que o Leonel Brizola pudesse voltar e se eleger governador. Sobretudo de um estado como o Rio de Janeiro, onde funcionava o intestino da ditadura, não é verdade? No Rio de Janeiro, estava o intestino grosso da ditadura! Mas este velho combatente, como tu sabes, desembarcou na Guanabara e derrotou até mesmo a fraude! E tiveram de nos engolir! De modo que não duvido das possibilidades do Lula. Uma nuvem escura se precipitou sobre o campo popular, que é o nosso, que é o do Lula, mas a tempestade, tu creias, tisc…, não dura para sempre. Nem o dilúvio de Noé durou para sempre. De modo que mantenho a minha crença.

CONDENAÇÃO, ELEIÇÕES, OUTRAS COISAS

Em 2014, o povo grego elegeu a Coalização de Esquerda Radical conhecida pela sigla Syriza (Συνασπισμός Ριζοσπαστικής Αριστεράς), porque não aguentava mais os programas de austeridade impostos pela troika - grupo formado pelo Banco Central Europeu, o Fundo Monetário Internacional e a Comissão Europeia. Esses programas incluíam medidas para baixar salários dos pobres, venda de patrimônio público e corte de serviços e benefícios sociais.

Em troca, rolavam a dívida da Grécia, que havia levado a breca a partir da quebradeira financeira mundial de 2008. Mas a dívida não diminuía, só aumentava, num mecanismo parecido com o sistema de barracão praticado em países como o Brasil. Em inglês, debt peonage. A dívida não diminuía porque tinha passado do ponto em que o país podia pagar, mesmo arrasando com as despesas de governo, e porque com a austeridade a economia mergulhou em profunda recessão, sem perspectiva de reverter o quadro com crescimento, já que as pessoas que não foram lançadas à miséria não tinham dinheiro para comprar nada.

O Syriza se elegeu  no fim de 2014 com a promessa de negociar duro com a troika e sair desse buraco da debt peonage. O Ministro das Finanças escolhido, um professor de economia de esquerda com relações com outros importantes economistas inclusive conservadores, assumiu no começo de 2015, Yanis Varoufakis. Ele tinha uma estratégia de ficar na zona do Euro mas conseguir uma restruturação da dívida (eliminação ou obtenção de prazos bem longos para uma parcela, já que era impossível pagar tudo) e manter um mínimo de serviços públicos e benefícios e combate à miséria extrema.Ele era o negociador, adotou uma estratégia de "desobediência construtiva", que consistia em recusar uma nova rolagem e em troca  apresentar propostas que não negassem os propósitos do governo eleito enquanto satisfazia as formalidades dos compromissos financeiros herdados. 

Quando o resto do governo, inclusive o primeiro ministro Alexis Tsipras, acabou cedendo, traindo o mandato que havia sido dado nas eleições, Varoufakis renunciou. Ele desde o início havia combinado com os colegas de gabinete que a pior coisa seria continuar com a prisão da dívida, e que se não conseguissem um acordo com a troika se preparariam para sair da zona do Euro. Esta é a situação que vige até hoje. História de um fracasso perante a banca internacional, capitaneada pela Alemanha. Varoufakis iniciou com outros europeus de esquerda um movimento DIEM25, pela democratização da União Europeia. O governo do Syriza permanece no poder, e deve ter obtido algumas concessões simbólicas da troika.

Pula rápido para o Brasil de hoje, 25 de janeiro de 2018. Um governo proveniente de golpe em 2016 aplica a cartilha neoliberal: austeridade nos gastos público e desmonte do país e do Estado brasileiros. Aqui, como no Grécia, permanece  a corrupção real, além da corrupção dos tolos que serviu pretexto para depor o governo do PT e cassar na prática os direitos políticos da esquerda.

Esta corrupção real, ou corrupção grande, que já transferiu para grupos privados e para os estadunidenses muitas das antigas estatais brasileiras nos governos Coollor, FHC e agora Temer, trata de usar o desmonte e a austeridade para enriquecer mais ainda Lehman e seus companheiros dos um por cento mais rico. Assim, eliminando benefícios e serviços públicos e entregando-os a empresas regidas pelo lucro, e financiadoras do golpe e de eleições de lobistas. Ajudados, de dentro do Estado pela máquina auxiliar:


  • Ministério Público e Judiciário, com seus salários abusivos que os tornam sócios dos donos do dinheiro, livres de qualquer controle externo.
  • Agências reguladoras dos serviços públicos, todas sem exceção ocupadas de fato pelas empresas que elas deveriam regular.
  • As quadrilhas do executivo - de alto e baixo escalão, que servem como estafetas e office-bois dos ricos.
O circo da mídia com os desembargadinhos do TRF4 que confirmaram e ampliaram a condenação de Lula no dia 24 de janeiro faz parte do processo de desmonte, privatização e aplicação sádica da austeridade sobre os menos favorecidos. 

A eleição de 2018 é parte do processo de luta. Parte.








quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

DAVID HARVEY

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Professor de formação marxista, inglês vivendo nos EUA, David Harvey dá um show de lucidez na entrevista e conversa dele com Jeremy Scahil, no The Intercept. Infelizmente, ao abordar acontecimentos recentes e perspectivas lá no centro do Império e no resto do mundo, não dá para ser otimista. Se você lê inglês e tem um tempinho, não deixe de ler. O livro recém lançado por Harvey é Marx, Capital and the Madness of Economic Reason

Abaixo estão a cara dele, e a cara do livro, e aqui o link para a entrevista:







sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

O GOLPE NO BRASIL E A EPIDEMIA DE ANALGÉSICOS OPIÁCEOS NOS ESTADOS UNIDOS

Tem, sim, tem muito mais a ver do que pode parecer num primeiro instante.

É assim. Há alguns anos atrás, uma série de televisão americana, House muito famosa, mostrou um médico muito competente e um tanto louco, chefe de diagnósticos em um hospital. House é o sobrenome dele. 

Pois aparece que ele é viciado em oxicodona, e ficou assim como resultado do tratamento dele, de alguma coisa na perna que o faz andar com uma bengala. E ele consome de maneira abusiva, ou seja em uma quantidade que ele não consegue adquirir de maneira legal. Isto na época da série (2004 a 2012 segundo a WikiPédia).

Esses analgésicos são produzidos e vendidos normalmente, lá nos EUA. Mas a venda é regulada, porque eles viciam. Oxicodona e todo um grupo de outros analgésicos são produzidos com alguns dos componentes do ópio, aquele das guerras no Paquistão, Afeganistão, Laos, Vietnam, Birmânia e outros, e do qual é extraída a heroína, campeã entre viciados de drogas ilegais.

Pulando rápido para o presente, nos EUA a família de analgésicos opiáceos é gravíssima, mata mais que qualquer outra doença. As grandes farmacêuticas, que produzem e impulsionam as vendas dos remédios através das relações de compadrio com a classe médica (lá como cá...), igualzinho às empresas de tabaco, tratam de todas as formas de ocultar os problemas. Inclusive escondendo os problemas e fraudando pesquisas médicas sobre o assunto. Igualzinho fizeram as tabaqueiras nos anos 1950 e 1960.

E a ligação que eu sugeri no título? 

Está no avanço das grandes corporações sobre o estado, neste presente caso para enfraquecer o controle do Estado sobre drogas, usando seu poder econômico para investir na mídia, na justiça, nos legisladores, nos órgãos reguladores, usando falsidades... Como é mesmo que o golpe vem avançando no Brasil (e outros países da América Latina, para ficarmos só aqui)? Só falta uma campanha de ódio político e racista para completar a semelhança. Mas se lembrarmos a ascensão do Trumpismo, vemos o modo de operar da minoria dos 1 ou 0,1% dos super ricos em seu avanço, tanto lá como cá.

Veja abaixo a matéria publicada no Outras Palavras sobre a epidemia e seus beneficiários.


Opiáceos, a epidemia mortal que rende bilhões







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EUA afundam numa gigantesca onda de overdoses. Mas ninguém controla as drogas que engordam a indústria farmacêutica e financiam o sistema político
Por Luis Miguel García, no La Marea Tradução: Ricardo Cavalcanti-Schiel
Há alguns anos que os Estados Unidos padecem de uma epidemia de mortes produzidas por analgésicos opiáceos vendidos com receita médica, como o Vicodin, o Percocet e o OxyContin. A venda desse tipo de analgésico quadruplicou desde 1999, uma vez que passaram a ser indiscriminadamente prescritos. E isso multiplicou por três as mortes por overdose. Com efeito, de acordo com os dados oficiais, em 2016 registraram-se 52 mil mortes por overdose, entre opiáceos legais e ilegais, incluindo sua alternativa mais barata: a heroína ‒ além das outras mais potentes que ela, como o fentanil e o carfentanil, este último 10 mil vezes mais potente que a morfina.
A overdose já é a maior causa de mortes entre menores de 50 anos, e se estima que 2,2 milhões de norte-americanos sejam dependentes de opiáceos, dos quais, apenas 20% chegam a receber tratamento. Estima-se também que, nessa epidemia, já teriam morrido 200 mil pessoas, uma cifra consideravelmente elevada se a comparamos, por exemplo, com as 36 mil mortes na Guerra de Coreia (1950-1953) ou as 58.000 na Guerra do Vietnã (1955-1975). Veja o quadro:
Fonte: Centers for Disease Control and Prevention (EUA)
Fonte: Centers for Disease Control and Prevention (EUA)
Após a epidemia de heroína protagonizada pelos veteranos de guerra que voltavam do Vietnã, os opiáceos passaram a ter péssima fama, e ficaram reservados às doenças graves e aos pacientes terminais. No entanto, a partir dos anos 90 começaram a ser usados para tratar enfermidades mais leves, como a artrite e as dores de coluna, e essa tendência foi aumentando por conta das novas diretrizes médicas, das políticas dos planos de saúde privados e das campanhas de marketing, que acabaram fazendo com que agora sejam receitados para qualquer dor de cabeça, apesar do seu potencial para gerar dependência, o que, a princípio, já constituiria uma má prática médica. De acordo com um levantamento do National Safety Council, 71% dos médicos receitam opiáceos para tratar dor nas costas crônica e 55% para uma simples dor de dente.
Essa epidemia não surgiu do nada. Ela é fruto do investimento bilhonário das grandes indústrias farmacêuticas, que, com pleno conhecimento, promoveram a massiva prescrição de opiáceos e o desprezo pelos riscos implícitos no seu uso. Basta como exemplo citar o caso da Purdue Pharma, fabricante do OxyContin (que tem como base o opioide oxycodona), que em 2007 foi condenada a pagar mais de 600 milhões de dólares de multa, depois de provado que a empresa enganou pacientes, médicos e agências reguladoras sobre os riscos de dependência do medicamento; riscos conhecidos pelo fabricante antes mesmo da aprovação da sua venda, como ficou provado pelos emails internos da empresa. Além de duplicar o número de comerciais entre 1996 e 2002 e de aconselhar os médicos a aumentar a dose, ao invés de reduzir o tempo entre uma ingestão e outra, a empresa distribuiu cupons aos médicos para que seus pacientes recebessem amostras grátis de opiáceos para um tratamento de um mês, entre outras práticas de marketing agressivo.
Outras companhias que dominam esse mercado lucrativo são: Johnson & Johnson, Depomed, Insys Therapeutics e Mylan. Todas elas investiram milhões de dólares em ações de lobby no Congresso norte-americano. O resultado é que a população dos Estados Unidos, que representa 5% da população mundial, consome 75% dos medicamentos prescritos mundo e 80% dos opiáceos ‒ enquanto o Canadá e a Europa Ocidental somam outros 15%, e o resto do mundo fica com os 5% restante. Não por casualidade, os Estados Unidos são o país do mundo com o maior gasto em saúde, montando 17% do PIB, o dobro de qualquer país europeu, enquanto 12% da sua população em idade laboral sequer têm acesso à assistência médica.
TEXTO-MEIO
Frente aos abusos no uso e às overdoses, as companhias farmacêuticas encontraram soluções lucrativas. Assim, as compras de naloxona, o antídoto contra os opiáceos, foram estimuladas pelo governo Obama, que pretendia que ele estivesse acessível em prédios e espaços públicos, proporcionando créditos para a aquisição de grandes lotes. O resultado é que seu preço foi multiplicado até 17 vezes e os hospitais logo se viram desabastecidos.
Do mesmo modo, para fazer frente ao uso indevido (recreativo) de opiáceos, os fabricantes patentearam variantes dos medicamentos nas quais sua pulverização ‒ para posterior inalação ou injeção venosa ‒ torna-se mais difícil. Essas variantes, vendidas como “antiabuso”, por irritar as fossas nasais se pulverizadas e cheiradas, ou por vir combinadas com outras substâncias que atenuam os efeitos narcóticos, não chegaram a comprovar que podem diminuir o risco de overdose. No entanto, seu patenteamento as torna mais caras e renova o ciclo comercial, uma vez que os grupos de pressão buscam implementar novas regulações federais que obrigam a FDA (Food and Drug Administration ‒ que tem ¾ do seu orçamento financiado pela indústria farmacêutica) a substituir os atuais opiáceos por essas novas versões. No âmbito das legislações estaduais, em complemento, a tendência passa a ser a de obrigar os planos de saúde a oferecer as novas variantes de opiáceos. Assim, por exemplo, um mês de tratamento com Embeda (da Pfizer) custa cerca de 268 dólares, frente aos 38 dólares do que seria com morfina genérica. Buscando preços mais baratos na Internet, é possível conseguir essa mesma morfina por 27 dólares.
Outra vertente de lucro é a dos tratamentos contra a dependência de opiáceos. Medicamentos como a buprenorfina são produzidos pelos mesmos laboratórios, que tratam de produzir novas versões assim que as patentes das versões anteriores estejam para caducar.
Gasta-se muito dinheiro nos Estados Unidos com medicamento recém-patenteado. As novas versões “antiabuso” dos opiáceos são maciçamente prescritas para veteranos de guerra, já na terceira idade, que representam um risco muito baixo de que possam cheirar ou injetar substâncias desse tipo. Todo esse dinheiro talvez fosse melhor usado em campanhas de prevenção e de informação à comunidade médica, como também em centros de tratamento à dependência, uma vez que, até agora, nenhuma versão conseguiu reduzir a forma mais comum de abuso de opiáceos: ingerir uma dose maior que a indicada.
Por outro lado, uma vez que o ácido cítrico dissolve alcaloides como a diamorfina (ou heroína ‒ por sua vez uma acetilização da morfina) [N. do T.: operação que é a base de drogas como a krokodil, a droga que “devora carne humana”, por conta destruição do tecido muscular pelos compostos ácidos], é possível encontrar no Youtube ou em fóruns digitais instruções para converter os caros comprimidos “inquebráveis” em algo facilmente injetável, tornando inúteis suas pretensões “antiabuso”.
Outra frente aberta pela indústria farmacêutica é a dos supostos grupos de pacientes, como o obscuro Pain Care Forum, subvencionados por laboratórios, que pressionam os legisladores para não dificultar a prescrição de analgésicos opioides ou impor a informação médica sobre os riscos do seu uso. A propósito, apenas no lobby em favor dos opiáceos, a indústria farmacêutica nos Estados Unidos investiu 880 milhões de dólares no apoio a mais de 7.000 candidaturas políticas em todo o país. Isso pode ser comparado com os escassos 4 milhões de que dispõem os grupos que defendem limites à prescrição de opiáceos. Com uma enxurrada de dólares, a indústria farmacêutica, martela na opinião pública a ideia de que um limite à disponibilidade de opiáceos prejudicaria milhões de doentes crônicos. E assim conseguem que sejam aprovadas leis como as que favorecem os opiáceos e seu circo de patentes.
Para isso, em 2011 realizou-se uma maciça campanha de marketing apoiada sobre o mito de que 100 milhões de norte-americanos sofrem de dor crônica, precedida de outra, poucos anos antes, que afirmava que menos de 1% dos usuários de opiáceos tornam-se dependentes. Ambas as proposições são falsas. De acordo com um estudo de 1999 financiado pela farmacêutica Purdue, 13% dos pacientes que tomavam OxyContin para dores de cabeça se tornavam dependentes. Outro estudo, como o publicado no Journal of Pain por pesquisadores da Washington State University, reduzem a cifra dos 100 milhões de sofredores de dores crônicas para 39 milhões. Nas palavras de Andrew Kolodny, presidente da Associação de Médicos para a Prescrição Responsável de Opiáceos (PROP, organização que não aceita dinheiro proveniente de companhias farmacêuticas), a ideia de que um em cada três norte-americanos sofre de dor crônica é simplesmente ridícula. Se para sua próxima campanha, a indústria farmacêutica necessitar de dados verdadeiros, eles são facilmente encontráveis na Internet. Por exemplo: o de que 86% dos usuários de heroína eram antes usuários de medicamentos opiáceos. Eles passam dos comprimidos para a heroína pelo fato singelo de que esta última é muito mais barata que os cada vez mais caros medicamentos processados.
E, claro, não poderia faltar também o jogo perverso de vasos comunicantes: Desde o ano 2000, pelo menos 56 agentes da DEA (Drug Enforcement Administration) responsáveis pelo planejamento estratégico de repressão ao comércio de opiáceos foram recrutados pela indústria farmacêutica em troca de generosos salários.
De outra parte, a FDA (aquela que tem ¾ do seu orçamento financiado pela indústria farmacêutica) opôs-se à necessidade de abordar a prescrição de opiáceos nos cursos obrigatórios certificados para os médicos, bem como à necessidade de registros eletrônicos que possam identificar usuários que deles façam uso abusivo. Em lugar disso, ela apoia aulas opcionais para os médicos em formação e folhetos nas farmácias, que informem sobre os riscos dos opiáceos. Mais estranho ainda é que esse órgão regulador aprove tais medidas contra o parecer do seu próprio comitê independente de assessoria científica. Não surpreende, portanto, que 99% dos médicos prescrevam opiáceos durante tempo maior que o recomendado (72 horas) pelos CDC (Centros para o Controle e Prevenção de Doenças, dos Estados Unidos); que quase um quarto deles os prescrevam durante pelo menos um mês, tempo suficiente para produzir mudanças nas estruturas cerebrais; e que quase a metade deles acredite que as novas e mais caras versões “antiabuso” produzam menos dependência, o que não é absolutamente verdade.
Os profissionais médicos tampouco estão livres de culpa. Estudos demonstram que a maioria dos médicos foi ou convencida pela propaganda da indústria farmacêutica ou influenciada pelos luxuosos simpósios a que são convidados por ela. Os documentos internos da Purdue indicam, por exemplo, que os médicos que foram convidados para seus congressos em 1996 receitavam mais que o dobro de OxyContin que aqueles que não foram. Os médicos também sofrem a pressão da avaliação por parte dos seus pacientes, e essa avaliação depende de estes últimos terem recebido a receita que desejavam, e não aquela que lhes fosse mais apropriada. Alguns desses pacientes praticam o que se chegou a chamar de “doctor shopping”: ir de médico em médico (às vezes, até, em grupo e em vans alugadas) pedindo receitas de opiáceos. Para evitar essa prática, foi criado um sistema que designa um único médico e uma única farmácia ao mesmo paciente. Esse é basicamente o sistema usado tanto pelos planos de saúde como pelo programa de assistência médica para a população mais pobre (Medicaid), que com isso podem reduzir a fatura farmacêutica que são obrigados a pagar, já que eventuais abusos são mais facilmente detectáveis. Além disso, a legislação passou a determinar que a assistência médica à terceira idade (Medicare) se incorpore a esse sistema. No entanto, nenhuma lei impede ainda que 60% dos médicos recebam comissões dos laboratórios farmacêuticos.
Em suma, um mastodôntico sistema de saúde privado, que custa o dobro que qualquer sistema público europeu, foi corrompido, parte por parte, para criar um exército de dependentes aos opiáceos, para a glória maior dos acionistas de um punhado de indústrias farmacêuticas. Os chefões da droga no século XXI já não protagonizam mais as séries famosas da Netflix, ambientadas em países caribenhos, nem trocam tiros com a polícia. Eles se sentam nas confortáveis poltronas dos conselhos de administração das grandes multinacionais farmacêuticas, de onde ditam leis sob medida para os congressistas que fazem parte da sua folha de pagamento.