terça-feira, 18 de dezembro de 2018

UMA DAS MAIORES AMEAÇAS

E onde será importantíssimo resistir, é a Educação, onde os neoliberais liderados pelo coiso tratarão de infligir a maior destruição. Reportagem de Tomás Chiaverini, meu primo, publicada no site Agência Pública, e reproduzida no Diário de Centro do Mundo.

Planos para a educação devem enfraquecer professores e beneficiar negócios de Guedes

Fundos de investimento criados pelo futuro superministro lucraram com educação privada e a distância em operações que são alvo de investigação da PF e do MPF; citados por Bolsonaro, vouchers e ensino remoto são rejeitados por docentes

12 de dezembro de 2018

Tomás Chiaverini

Novo ministro da Educação criticou atuação de fundos na educação 

Sócio diz que Guedes não é movido por interesses particulares 

Professores temem desvalorização ainda maior da profissão 

Na noite de 13 de novembro, centenas de professores se reúnem numa audiência pública contra o projeto Escola sem Partido, na Assembleia Legislativa de São Paulo. Cansados, apreensivos e irritados, eles parecem refletir as condições gerais da categoria. Alguns dias antes, uma pesquisa da Varkey Foundation tinha mostrado que o Brasil passara da penúltima para a última colocação no ranking de valorização dos professores.

“Vamos ver se o pessoal vai conseguir falar hoje”, diz um assessor do deputado Carlos Giannazi (Psol), responsável pelo encontro. Diante da dúzia de policiais militares que fazem a segurança do evento, a fala soa exagerada. Não é.

Pouco antes das 19 horas, uma mulher sobe ao palco e agita uma bandeira de Israel. A irritação da plateia vira raiva. Professores, alunos e seus apoiadores se levantam e berram em uníssono: “Machistas, fascistas não passarão!”. No palco, a mulher se anima. Aponta os dedos para o público com o gesto de metralhadora imaginária popularizado pelo presidente eleito Jair Bolsonaro. Quando o coro engrossa, ela muda o gesto. Ergue os dois dedos do meio. “Eu vou lá. Vou meter a mão nela”, diz uma espectadora na penúltima fila. A frase soa como figura de linguagem. Não é.

O deputado Giannazi sobe ao palco e consegue que a manifestante pró-Escola sem Partido desça de lá. Mas não há refresco. Um deputado recém-eleito pelo PSL –partido de Bolsonaro – consegue um microfone. Douglas Garcia. Ele começa a falar, mas é encoberto por vaias da plateia. Na mesa, Giannazi esbraveja. Em um lapso, os dois futuros colegas estão atracados, um agarrado à lapela do paletó do outro. A plateia vem junto.

A mulher lá de trás como que se teletransporta para o lado do palco e cumpre o prometido: mete a mão na que tinha agitado a bandeira israelense. Professores, deputados e militantes do presidente eleito rolam no chão aos socos. Policiais tentam intervir. Um deles gesticula assustado, mandando o colega chamar reforço.

Por volta das 19h30, a polícia consegue retirar os militantes do PSL e a audiência tem início. O economista e professor da Unicamp filiado ao Psol Plínio de Arruda Sampaio Jr. é um dos primeiros a falar. “O objetivo real do Escola sem Partido é negar a educação à nossa juventude”, diz. “Eles não querem pessoas que pensem. Eles querem pessoas que sejam vítimas de fake news. É disso que eles precisam.”

Arquivado ontem pela Comissão Especial da Câmara dos Deputados, o Projeto Escola sem Partido não é o único fator de risco para os professores, e não apenas porque ele pode ser novamente proposto na próxima legislatura. O enfraquecimento dos 2,5 milhões de professores do país se daria principalmente por meio do aumento do ensino a distância (que substituiria docentes por aulas gravadas) e da expansão das instituições particulares em detrimento das públicas (que tenderiam a precarizar as condições de emprego e carreira).


O projeto Escola sem Partido foi arquivado ontem pela Comissão Especial da Câmara dos Deputados
Na época da audiência, o temor dos professores provinha de três fontes: de falas do presidente eleito, que prometeu educação a distância desde o ensino fundamental (a partir dos 6 anos) e propôs um sistema de vouchers para alunos de baixa renda; do plano de governo do PSL, que também fala, de forma genérica, em ensino a distância e em mais parcerias entre universidades e empresas privadas; por fim, da figura do superministro da Economia, Paulo Guedes, que tem tudo para funcionar como um catalisador tanto do ensino a distância quanto do incentivo à privatização.

Guedes já se mostrou disposto a influenciar diversas áreas do governo, e com a educação não deve ser diferente. Foi dele, por exemplo, a ideia dos vouchers, segundo reportagem da revista Piauí. O sistema foi testado na Universidade do Chile, onde Guedes deu aulas, à época sob intervenção da ditadura de Augusto Pinochet.
A influência de Guedes no futuro das políticas educacionais, contudo, pode ter motivações que vão além de sua visão neoliberal da economia. O futuro ministro atuou com investimentos no setor de educação privada e de educação a distância.

De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), o futuro ministro captou R$ 1 bilhão de fundos de pensão, entre eles Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobras), Funcef (Caixa) e Postalis (Correios). Os primeiros aportes foram feitos em janeiro de 2009, com prazo previsto de seis anos de duração.

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Apenas o Fundo de Investimento em Participações (FIP) BR Educacional levantou R$ 400 milhões. Em outubro, as operações de Guedes com os fundos de pensão foram alvo de uma investigação pelo MPF e levaram à abertura de inquérito pela Polícia Federal, no final de novembro.

A apuração se originou na Operação Greenfield, que mira esquemas de pagamento de propina em fundos de pensão com base em relatórios da Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc). Ainda em estágio preliminar e agora correndo em segredo de justiça, o inquérito investiga se houve gestão fraudulenta envolvendo Guedes e os responsáveis pelos fundos.

“O aporte de recursos nesse fundo foi feito às cegas, como que num voto de confiança na equipe de Paulo Guedes”, diz o MPF em um dos documentos sobre o caso.

O primeiro aspecto que chamou atenção da promotoria foi a cobrança de uma taxa de administração de 1,75% sobre o capital subscrito, não sobre o capital de fato investido. Como o capital do fundo vai crescendo aos poucos, as despesas relativas sobem muito quando a cobrança é feita dessa forma. Só no primeiro ano, os custos de gestão somaram R$ 6,6 milhões, 19% do patrimônio líquido médio do fundo no período.

No mesmo documento, o MPF elenca uma série de outras suspeitas. Paulo Guedes era ao mesmo tempo presidente da gestora que captava investimentos e conselheiro de investimentos da nima, uma das empresas de educação que receberam aportes do fundo. Além disso, os R$ 62 milhões aplicados no primeiro ano foram injetados numa única empresa ligada a Guedes, a HSM Educacional S.A. Em seguida essa companhia comprou outra, de um grupo argentino, a HSM do Brasil. Segundo a versão da Previc, o fundo pagou pelas ações dessa empresa R$ 16,5 milhões a mais do que o valor de mercado.

A HSM, na época, era apenas uma marca, não estava realmente em operação, o que tornaria a operação mais suspeita. Ainda segundo a Previc, a ideia era que essa empresa gerasse lucro com eventos, mas ocorreu o contrário: perdas em cascata, principalmente com a remuneração de palestrantes (quase R$ 12 milhões entre 2011 e 2012). Entre eles, estava Paulo Guedes. Em 2013, o fundo remanejou seus investimentos adquirindo outra empresa, a Gaec Educação, dessa vez com um ágio de 1.118% sempre de acordo com informações da Previc.

Atualmente parte dos fundos criados por Guedes está no portfólio da Bozano Investimentos, e uma fatia do dinheiro aplicado ali é reinvestida em oito empresas de educação. Entre elas estão a “Ser Educação”, que tem uma rede de universidades com 150 mil alunos; a “NRE”, com focos em cursos de medicina e 8 mil alunos; e a “Q Mágico”, que vende soluções para ensino digital e ensino a distância.

Além do dinheiro dos fundos de estatais, os fundos de educação da Bozano contaram também com investidores estrangeiros de peso. Em 2014, o grupo alemão de mídia Bertelsmann anunciou um aporte de € 30 milhões (cerca de R$ 100 milhões à época). Na ocasião, Thomas Mackenbrock, presidente do grupo em São Paulo, comemorou a parceria com a Bozano.

“O fundo BR educacional garante acesso antecipado a empresas brasileiras inovadoras em um campo que está repleto de oportunidades graças à digitalização progressiva e à crescente demanda por educação na América Latina. Na Bozano Investimentos, encontramos um parceiro com conhecimento profundo do mercado educacional brasileiro.” Nas palavras do executivo, aquela seria uma parceria “única e mutuamente benéfica”.

Em 2015, o grupo Bertelsmann voltou a aplicar com a Bozano, dessa vez num montante maior, de R$ 800 milhões, e com um foco mais claro: escolas de medicina. À época, a iniciativa foi vista como mais um passo importante na internacionalização do grupo que ajudaria a sedimentar o setor de educação como um pilar importante no portfólio da empresa.

Procurado pela reportagem, o conglomerado não quis comentar um possível conflito de interesses na ponta de seus investimentos. “O senhor Paulo Guedes é fundador e CEO da Bozano Investimentos. Para questões relativas a Paulo Guedes, portanto, procure a Bozano Investimentos”, foi a resposta enviada por e-mail.

A Bozano Investimentos também preferiu responder por e-mail. “Conforme já anunciado, Paulo Guedes já se afastou totalmente de suas funções na empresa para exercer atividade pública. Além disso, todas as providências já estão sendo tomadas para que ele deixe a sociedade, rigorosamente em conformidade com as leis vigentes.” Não houve na resposta nenhuma referência à investigação do MPF, mencionada pela reportagem no contato inicial.

A reportagem procurou também a defesa de Guedes na investigação, que se manifestou por e-mail: “A defesa de Paulo Guedes reafirma a lisura de todas as operações do fundo que, diga-se de passagem, deu lucro aos cotistas, incluindo os Fundos de Pensão. Espera também que a investigação – agora corretamente conduzida no âmbito da Polícia Federal – apure as incoerências do relatório irregular produzido na Previc”.

Por fim, ainda no capítulo dos possíveis conflitos de interesses, é preciso citar Elizabeth Guedes, irmã do futuro ministro, que ocupa a vice-presidência da Associação Nacional das Universidades Particulares (Anup). Ela também não respondeu aos pedidos de entrevista da Pública, mas em entrevista ao jornal O Globo no início de novembro negou que sua posição gere algum constrangimento. “Minha função na Anup não tem nenhuma relação com ele”, disse referindo-se ao irmão.

O ex-sócio de Guedes
O engenheiro Rafael Martinez foi vice-secretário de Educação do Rio de Janeiro e secretário de Educação de Resende. Além disso, foi também sócio de Paulo Guedes, por quem ainda hoje nutre considerável admiração. “O Paulo é um cara extremamente democrático”, disse em entrevista à Pública. “Controlava um sistema de partnership onde todo mundo tinha voz, independentemente do quanto investia.”

Para Martinez, a investigação do MPF não se sustenta. “O fundo BR Educacional deu um retorno para os cotistas de mais de 300% em sete anos. Foi um lucro bem grande e ajudou a diminuir o prejuízo que o governo do PT causou nos fundos de pensão”, disse. Ele acredita que as ingerências de Guedes na educação serão limitadas. “É natural que a atuação dele como gestor público e como investidor seja a mesma, que ele defenda ideias liberais. Mas não acredito que isso tenha alguma ligação com a irmã dele ou com o fato de que ele tem investimentos em educação”, disse.

Fernando Frazão/Agência Brasil
Fundos de investimento criados por Paulo Guedes lucraram com educação privada e a distância
Como ex-gestor da área, Martinez tem críticas ao Escola sem Partido, mas não considera o projeto de todo ruim. Para ele, a forma como a proposta está sendo feita é errada, mas há casos em que professores forçam a mão. “Existe, sim, uma predominância de ideologia de esquerda nas escolas. E muitos professores tentam passar essa ideologia para os alunos e contar a história de forma enviesada”, disse.

E vê com bons olhos o crescimento de instituições privadas: “A gente pode até questionar a qualidade de alguns grupos privados, mas de fato teve muito investimento em novas escolas, em novas faculdades, e isso acabou gerando um aperfeiçoamento da qualidade geral.”

Apesar dessa visão que pode parecer simpática às ideias do novo governo, Martinez é cauteloso em relação ao que foi esboçado até o momento. Para ele, se o país investir num sistema de liberalismo puro, onde a escola que atrair aluno sobrevive e prospera enquanto as outras definham, o resultado pode ser um desastre. “Isso funciona para uma loja de roupas, não para educação”, disse. “Pode levar dez anos para uma escola ir morrendo aos poucos. E, enquanto isso, os alunos e as famílias sofrem as consequências.”

O ex-secretário apontou problemas no sistema de vouchers, se o governo distribuir um valor fixo e permitir que as famílias o complementem, algo similar ao que ocorreu no Chile. “Um sistema que era para ser mais equânime, garantindo que todas as crianças recebessem o mesmo valor, acabou favorecendo famílias de alta renda”, disse.

O exemplo chileno
O sistema de vouchers no Chile foi criado no governo do ditador Augusto Pinochet em 1980. Ele garantia um valor fixo por estudante, que podia ser usado em escolas públicas ou privadas. Paralelamente a esse processo, os gastos com educação pública caíram pela metade entre 1980 e 1990, de 5% do produto interno bruto para 2,5%. E só se recuperaram depois da democratização e de uma série de governos de centro-esquerda.

O governo fez pouco para fiscalizar as escolas que trabalhavam com o modelo e o problema da desigualdade ficou patente. Estudantes mais pobres tinham dificuldade em usar vouchers – ou porque não conseguiam completar mensalidades ou por questões geográficas. Pelo menos 63 dos 345 municípios chilenos não chegaram a ter escolas que aceitassem vouchers, e a maioria deles ficava em regiões rurais ou pobres.

FGV
Claudia Costin foi ministra da Administração e Reforma do Estado e secretária municipal de Educação no Rio de Janeiro
Como mostrou uma reportagem recente do Washington Post, muitas escolas continuaram a sofrer com falta de verba após a flexibilização do sistema, principalmente as localizadas em regiões carentes, as que recebiam estudantes de alto risco e as que tinham número baixo de matrículas. O percentual de estudantes da rede pública nunca se recuperou. Caiu de 78% do total, em 1981, para 39%, em 2013.

Para a diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais (Ceipe) da Fundação Getulio Vargas (FGV), Cláudia Costin, esses mesmos problemas seriam mais intensos num país com as dimensões e a diversidade do Brasil. “Temos 81,7% dos alunos em escolas públicas”, disse. “Não é possível substituir todas essas escolas por particulares. Quem é que vai querer ter escola pra população ribeirinha no meio da floresta amazônica, no alto das favelas do Rio?”

Ainda segundo Cláudia – que foi ministra da Administração e Reforma do Estado e secretária municipal de Educação no Rio de Janeiro –, há vários projetos sociais que permitem acesso de alunos carentes a escolas particulares. Mas geralmente é uma cota, voltada para os mais brilhantes. “Não se constrói equidade dessa forma”, disse.

Para ela, a solução seria buscar o caminho oposto: investir em educação pública de qualidade e aumentar a valorização do professor. De um lado, remunerando melhor, de outro tornando mais seletivos os processos de seleção. Além de se dificultar o ingresso nos concursos, seria possível, por exemplo, criar-se uma nota de corte artificialmente mais alta nos vestibulares de educação e pedagogia.

Privatização descontrolada
Se o caso do Chile faz prever graves problemas na prometida implantação do sistema de vouchers no ensino básico, já temos bons exemplos do impacto negativo que a privatização descontrolada pode causar no ensino universitário. Segundo o último censo da educação superior, mais de 75% das matrículas em graduação do país ocorrem em instituições particulares.

Esse movimento de expansão do ensino universitário privado começou em 1997, quando um decreto do então presidente Fernando Henrique Cardoso permitiu que as instituições de ensino superior tivessem oficialmente fins lucrativos. Entre 1998 e 2004 as matrículas na rede privada aumentaram 126%; foram 46% na rede pública.

Tânia Rêgo/Agência Brasil
Um decreto do então presidente Fernando Henrique Cardoso permitiu que as instituições de ensino superior tivessem oficialmente fins lucrativos
Com a expansão do Fies – o sistema de financiamento governamental que permite matrícula em instituições particulares –, esse crescimento se concretizou. Segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), entre 2010 e 2015, período de maior expansão do programa, grandes redes de faculdade privada viram disparar seus lucros: o da Kroton subiu 22.130%, o da nima, 820%, o da Estácio, 565% e o da Ser Educacional, 483%. Enquanto isso, de acordo com um relatório do Tesouro Nacional, o Fies custou aos cofres públicos R$ 32 bilhões em 2016, ou pouco mais do que os gastos com o Bolsa Família no mesmo ano.

Apesar do crescimento, as instituições privadas não parecem capazes de oferecer a mesma qualidade que as públicas. No último Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), por exemplo, as universidades federais tiveram 43% de instituições com conceito 4 e 16% com conceito 5 – o mais alto do teste. Já nas particulares, esses percentuais foram de 19% e 3%.

Disputa de gigantes no ensino fundamental
No tabuleiro do ensino fundamental, a movimentação das peças já começou. Na esfera governamental, tramita no Senado um projeto de lei que quer permitir o pagamento de creches com o dinheiro do Fundeb. Na esfera privada, a Kroton anunciou recentemente a compra da rede de escolas do ensino básico Somos, numa operação avaliada em R$ 6 bilhões. A nima – a mesma que recebeu capital dos fundos de Paulo Guedes – estabeleceu parceria com a escola Lumiar.

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Jogadores internacionais também estão se posicionando no ataque. Em 2017, a gestora de fundos americana General Atlantic elevou as participações na SAS, empresa que oferece livros didáticos e consultorias para mais de 700 escolas no Brasil.

“Estamos num momento de disputa bastante significativa sobre a natureza da nossa política educacional”, afirma Salomão Ximenes, professor da Universidade Federal do ABC e membro da ONG Ação Educativa. “No ensino superior, esse tipo de configuração, de grandes grupos privados, oligopolistas, que praticamente dominam o setor com um ensino de baixo custo e de baixa qualidade financiado pelo Estado, é uma realidade.”

Para Ximenes, o terceiro pilar esboçado pelo novo governo – a expansão da educação a distância – faz parte desse pacote de enfraquecimento da educação pública e da figura do professor.

“Educação a distância na educação básica é um retrocesso. Aumenta a desigualdade entre os estudantes de classes populares, de redes mais distantes, e os estudantes de elite, que terão professores bem formados, bem qualificados, presentes. É uma péssima forma de enfrentar o déficit de formação dos professores, que é estrutural no Brasil”, diz.

A exemplo do avanço da rede privada, a educação a distância já é uma realidade no Brasil. Atualmente, de acordo com o censo da educação, um em cada cinco alunos do ensino superior está matriculado num curso a distância. Em 2017, o setor avançou 17,6%, o maior salto desde 2008.

Em abril, o BNDES lançou uma linha de crédito de R$ 20 milhões para “incorporação de tecnologias digitais na educação pública”. Em novembro, o Conselho Nacional de Educação (CNE) liberou até 30% de conteúdo ministrado a distância para o ensino médio. Os resultados, por sua vez, não são dos melhores. Apenas 2,4% dos cursos a distância receberam nota máxima no Enade, ao passo que foram 6,1% dos cursos presenciais.

A distância e no improviso
“As universidades brasileiras têm feito cursos a distância de maneira improvisada”, diz o presidente da Associação Brasileira de Ensino a Distância (Abed), Fredric Litto. “Tentam repetir modelo presencial, e isso não é bom.” Para Litto, que também é professor emérito da USP, é preciso muito tempo, dinheiro e planejamento para criar materiais de qualidade. E mesmo assim o ensino a distância não pode ser usado indiscriminadamente. Ele é mais eficiente como complemento das aulas presenciais, como alternativa a pessoas que não têm acesso à sala de aula ou para alunos que estejam muito motivados.

Segundo Litto, a ideia de se usar o ensino a distância na educação básica não faz sentido. “Quanto mais jovem for o aluno, mais complicado é o uso de EAD [ensino a distância]. No ensino fundamental, pode-se ter atividades, usar celulares ou computadores com jogos e vídeos explicativos, mas nunca se pensar no conteúdo a distância como um curso completo.”

Para o professor, nascido e educado nos Estados Unidos, os brasileiros têm mania de achar que um mesmo sapato serve para todo mundo. “Eu não vi nenhum plano escrito do que eles pretendem fazer”, disse referindo-se ao plano genérico do novo governo. “Mas sei que não se pode substituir salas de aula presencial de jovens.”

Mais um ministro blogueiro
No final de novembro, depois de ter tido um primeiro nome vetado pela bancada evangélica, Bolsonaro anunciou, pelas redes sociais, o novo ministro da Educação. “Gostaria de comunicar a todos a indicação de Ricardo Vélez Rodríguez, filósofo autor de mais de 30 obras, atualmente professor emérito da Escola de Comando e Estado Maior do Exército, para o cargo de ministro da Educação”, escreveu o presidente eleito.

O nome, indicado pelo guru intelectual de Bolsonaro, Olavo de Carvalho, pegou a imprensa e os brasileiros de surpresa. Alguns dias antes, Vélez Rodríguez havia postado em seu blog o texto “Um roteiro para o MEC”, em que já afirmava ser cotado para o ministério. Mas ninguém prestou atenção.

Apesar do título, o texto não traz de fato um roteiro claro. Fala em um sistema focado nos municípios, em “mais Brasil, menos Brasília”, critica uma suposta burocracia “gramsciana” que elaborou as “complicadas provas do Enem” e pragueja contra a “doutrinação de índole cientificista e enquistada na ideologia marxista”.


Vélez Rodríguez critica ainda a atuação de empresas financeiras ligadas a fundos de pensão. “Ao longo das últimas décadas, produziram um efeito pernicioso, qual seja o enriquecimento de alguns donos de instituições de ensino, às custas da baixa qualidade em que foram sendo submergidas as instituições docentes, com a perspectiva sombria de esses fundos baterem asas quando o trabalho de enxugamento da máquina lucrativa tiver decaído

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

NA RAIZ DAS DISFUNÇÕES MUNDIAIS

Podemos, se procurarmos com sabedoria, encontrar os bancos e suas ramificações. Em particular, suas maquinações no processo de impor austeridade às pessoas de todo o mundo, em favor dos um por cento. Tradução semi-acabada que fiz do artigo de Nomi Prins publicado no TomDispatch. O seu livro mais recente: "Collusion (...)" estou lendo, é interessantíssimo para ver o que acontece por trás das crises permanentes que submetem o mundo ao poder financeiroii.

Duas ressalvas: a tradução vai antes de  revisões mais demoradas, assim pode ter algumas coisas ainda mal acabadas. A outra, atribuo a um descuido da autora, que afinal das contas, esteve no Brasil recentemente, a saber, ao citar Bolsonaro, ela o situa entre políticos nacionalistas de extrema direita. Como sabemos, Bolsonaro e seus seguidores são isentos de qualquer grau, mínimo que seja, de nacionalismo fora de seu lema eleitoral, oco em pleno direito (O Brasil acima de todos, aliás copiado dos nazistas alemães).


Wall Street, Bancos e Cidadãos com Raiva

O fosso de desigualdade em um planeta que vai se tornando cada vez mais extremo
Ao irmos chegando em 2019, deixando o caos deste ano para trás, uma grande questão continua sem resposta quando se trata do estado na Main Street (o lugar da economia real, N.T.), não só aqui, mas em todo o planeta. Se a economia global realmente está crescendo, como muitos políticos afirmam, por que os líderes e seus partidos ao redor do mundo continuam a ser expulsos de seus cargos de uma forma tão arrebatadora?
Uma resposta óbvia: a "recuperação" pós-Grande Recessão econômica foi em grande parte reservada para os poucos que poderiam participar no mercado financeiro crescente desses anos, não a maioria, que continuou a trabalhar mais horas, às vezes em vários empregos, para permanecer à tona. Em outras palavras, os bons tempos têm deixado de fora tantas pessoas, como aqueles que lutam para manter até mesmo algumas centenas de dólares em suas contas bancárias para cobrir alguma emergência ou os 80% de trabalhadores americanos que vivem de salário em salário.
Na economia global de hoje, segurança financeira é cada vez mais propriedade exclusiva dos 1%. Nenhuma surpresa, então, que, com uma sensação de instabilidade econômica continuando a crescer na última década, a angústia transformou-se em raiva, uma transição que..--dos Estados Unidos para as Filipinas, Hungria para o Brasil, Polônia, ao México..--tem provocado uma infinidade de convulsões nos eleitorados. No processo, surgiu uma mistura de estilos dos anos 1930, de crescente nacionalismo e culpando o "outro"..—seja aquele outro um imigrante, um grupo religioso, um país ou o resto do mundo....
Este fenômeno ofereceu uma série de figuras trumpianas, incluindo, evidentemente, o próprio Donald, uma abertura para pegar a onda de "populismo" para as alturas do sistema político. Que os antecedentes e registros de nenhum deles..—seja se você está falando sobre Donald Trump, Viktor Orbán, Rodrigo Duterte ou Jair Bolsonaro (entre outros)..., reflete as preocupações diárias das "pessoas comuns", como o definição clássica do populismo poderia tê-lo, quase não tem importado. Poderia até mesmo um bilionário, verificou-se, explorar a insegurança econômica eficazmente e usá-lo para subir ao poder supremo.
Ironicamente, como mostrou esse americano mestre em invocar os receios dos aprendizes em todos os lugares, assumir o cargo mais elevado na terra foi apenas para iniciar um processo de criação de ainda mais medo e insegurança. As guerras comerciais de Trump, por exemplo, têm tipicamente infundido  o mundo com maior ansiedade e desconfiança em relação aos EUA, ao mesmo tempo que eles têm frustrado a capacidade dos líderes domésticos negócios e pessoas comuns de planejar seu futuro. Enquanto isso, apenas sob a superfície do reputado bons tempos, os danos para esse futuro só se intensificam. Em outras palavras, já está preparado o terreno para o que poderia ser uma transformação assustadora, tanto no mercado interno e global.
Aquela velha crise financeira
Para entender como chegamos aqui, vamos dar um passo atrás. Apenas uma década atrás, o mundo experimentou uma verdadeira crise financeira global, um colapso de primeira ordem. Crescimento econômico terminado; economias em processo de encolhimento ameaçadas de colapso; inúmeros empregos foram cortados; casas hipotecadas foram tomadas e vidas destruídas. Para pessoas normais, o acesso ao crédito desapareceu de repente. Não admira que os medos cresceram. Não admira que para muitos deixou de existir um amanhã mais brilhante.
Os detalhes de como aconteceu a grande Recessão desde então tem sido camuflados pelo tempo e pelas colocações dos grupos antagônicos. Neste mês de setembro, quando o 10º aniversário do colapso da empresa de serviços financeiros globais Lehman Brothers chegou, canais de notícias de grandes negócios consideram se o mundo pode estar em risco de uma nova crise do tipo. No entanto, a cobertura de tais temores, como de tantos outros tópicos, foi rapidamente posta de lado em favor de prestar ainda mais atenção para os últimos tweets do Donald Trump, reclamações, insultos e mentiras. Por que? Porque uma crise dessas seria tão 2008 em um ano em que, alegou-se, estávamos desfrutando de uma alta económica de primeira classe e e rumando em direção ao maior mercado do touro” da história de Wall Street. Quando se tratava de "boom contra a desânimo", "boom" ganhou sem esforço.
Nada disso mudou qualquer coisa, porém: as pessoas ainda se sentem deixadas para trás tanto nos EUA como globalmente . Graças à enorme acumulação de riqueza pelo um 1% qualificado para jogar o sistema, espalharam-se as raízes de uma crise que não terminam com o fim da Grande Recessão em todo o planeta, enquanto a linha divisória entre os pobres e os muito ricos somente se consolidou e alargou.
Embora a mídia não tenha prestado muita atenção para a desigualdade resultante, as estatísticas (quando você as vê) sobre essa fosso de riqueza cada vez maior são atordoantes. De acordo com Inequality.org, por exemplo, aqueles com pelo menos US $ 30 milhões em riqueza globalmente tiveram a mais rápida taxa de crescimento de qualquer grupo entre 2016 e 2017. O tamanho desse clube subiu 25,5% durante esses anos, para 174.800 membros. Ou se você realmente quer entender o que tem acontecido, considere que, entre 2009 e 2017, o número de bilionários cuja riqueza combinada foi maior do que dos 50% mais pobres  do mundo caiu de 380 para apenas oito . E a propósito, apesar das afirmações do presidente que todos os outros países estão ferrando a América, os EUA são líderes quando se trata do crescimento da desigualdade. Como Inequality.org nota, nos EUA “uma parcela muito maior da riqueza nacional e da renda vão para os 1% mais ricos do que qualquer outro país".
Isto é devido, em parte, a uma instituição em que muitos nos Estados Unidos normalmente prestam pouca atenção: o banco central dos EUA, o Federal Reserve. Ele ajudou a dar a partida para o aumento da disparidade de riqueza internamente e globalmente através da adoção de uma política monetária de pós-crise, em que dinheiro fabricado eletronicamente (através de um programa chamado flexibilização quantitativa, ou QE) foi oferecido aos bancos e corporações em taxas significativamente mais baratas do que para os americanos ordinários.
Bombeado para os mercados financeiros, esse dinheiro enviado fez os preços das ações subirem, o que naturalmente inflou a riqueza da pequena percentagem da população que realmente possuía ações. De acordo com o economista Stephen Roach, considerando a Pesquisa sobre Finanças dos Consumidores do Fed “é nem é necessário se esforçar para concluir que o quantitative easing  agravou as disparidades de renda já severas da América."
Wall Street, os bancos centrais e as pessoas todos os dias
O vem ocorrendo em todo o mundo parece vir da década de 1930. Naquela época, com o mundo emergindo da Grande Depressão, um sentido de ampla segurança econômica demorou muito para retornar. Em vez disso, o fascismo e outras formas de nacionalismo só ganharam força com pessoas voltando-se contra o elenco habitual dos políticos, contra os outros países e umas pessoas contra as outras. (Caso isso soe francamente Trumpiano para você, é isso mesmo).
Em nossa era pós-2008, as pessoas testemunharam trilhões de dólares fluindo em resgates de bancos e outros subsídios financeiros, não apenas de governos, mas dos principais bancos centrais do mundo. Teoricamente, os bancos privados, como resultado, teriam mais dinheiro e pagariam menos juros para obtê-lo. Eles então emprestariam esse dinheiro para a Main Street. As empresas, grandes e pequenas, utilizariam esses fundos e, por sua vez, produziriam crescimento econômico real por meio de expansões, contratações e aumentos salariais. As pessoas teriam então mais dinheiro em seus bolsos e, sentindo-se financeiramente mais seguras, gastariam esse dinheiro levando a economia a novos patamares - e tudo, é claro, estaria bem.

Esse conto de fadas foi lançado em todo o globo. Na verdade, o dinheiro barato também levou a dívida a níveis épicos, enquanto os preços das ações dos bancos subiram, assim como os de todos os tipos de outras firmas, a recordes de altura.

Mesmo nos EUA, no entanto, onde uma magnífica recuperação deveria estar em vigor há anos, o crescimento econômico real simplesmente não se materializou nos níveis prometidos. Em 2% ao ano, o crescimento médio do produto interno bruto americano na última década, por exemplo, foi a metade da média de 4% antes da crise de 2008. Números semelhantes foram repetidos em todo o mundo desenvolvido e na maioria dos mercados emergentes. Enquanto isso, o total da dívida global atingiu US $ 247 trilhões no primeiro trimestre de 2018. Como o Institute of International Finance descobriu, os países estavam, em média, tomando emprestados cerca de três dólares para cada dólar de bens ou serviços criados.

Consequências Globais

O que o Fed (junto com os bancos centrais da Europa ao Japão) desencadeou, na verdade, foi um aumento desproporcional nos mercados de ações e títulos com o dinheiro que eles criaram. Esse capital buscava retornos mais altos e mais rápidos do que poderiam ser alcançados em projetos cruciais de infraestrutura ou fortalecimento social, como construir estradas, ferrovias de alta velocidade, hospitais ou escolas.

O que se seguiu foi tudo menos justo. Como observou a ex-presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, há quatro anos, "não é segredo que as últimas décadas de aumento da desigualdade podem ser somadas como ganhos significativos de renda e riqueza para aqueles que vivem em padrões de vida estagnados para a maioria". E, é claro, continuar despejando dinheiro nos níveis mais altos do sistema bancário privado era tudo menos uma fórmula para corrigir esse caminho.

Em vez disso, à medida que mais cidadãos ficaram para trás, uma sensação de privação de direitos e amargura com os governos existentes só cresceu. Nos EUA, isso significou Donald Trump. No Reino Unido, descontentamento semelhante se refletiu na votação do Brexit de junho de 2016 para deixar a União Europeia (UE), que aqueles que se sentiam economicamente pressionados até a morte claramente significou uma bofetada tanto no estabelecimento doméstico quanto nos líderes da UE no exterior.

Desde então, vários governos da União Européia também inclinaram-se para a direita populista. Na Alemanha, as recentes eleições oscilaram para a direita e para a esquerda apenas seis anos depois que, em julho de 2012, o presidente do Banco Central Europeu (BCE) Mario Draghi exalava otimismo sobre a capacidade desses bancos de proteger o sistema financeiro, o euro, e manter as coisas juntas no geral.

Como o Fed nos EUA, o BCE passou a fabricar dinheiro, acrescentando outros US $ 3 trilhões aos seus livros que seriam empregados para comprar títulos de países e empresas favorecidas. Esse estímulo artificial também só aumentou a desigualdade dentro e entre os países da Europa. Enquanto isso, as negociações do Brexit continuam ruinosamente divisivas, ameaçando destruir a Grã-Bretanha.

Tampouco essa história foi cativa do Atlântico Norte. No Brasil, onde a presidente de esquerda Dilma Rouseff foi expulsa do poder em 2016, seu sucessor, Michel Temer, supervisionou o crescimento econômico e a escalada do desemprego. Isso, por sua vez, levou à eleição do próprio candidato nacionalista de extrema-direita, Donald Trump, Jair Bolsonaro, que obteve impressionantes 55,2% dos votos contra um pano de fundo de descontentamento popular. No verdadeiro estilo trumpiano, ele está disposto contra a própria idéia de mudança climática e acordos comerciais multilaterais.

No México, os eleitores insatisfeitos rejeitaram igualmente o político conhecido, mas balançando à esquerda pela primeira vez em 70 anos. O novo presidente Andrés Manuel López Obrador, popularmente conhecido por suas iniciais AMLO, prometeu colocar as necessidades dos mexicanos comuns em primeiro lugar. No entanto, ele tem os EUA - e os caprichos de Donald Trump e sua “grande muralha” - para enfrentar, o que poderia dificultar esses esforços.

Quando a AMLO assumiu o cargo em 1º de dezembro, a cúpula de líderes mundiais do G20 estava reunida na Argentina. Lá, em meio a um brilhante cenário de poder e influência, a guerra comercial entre os EUA e a crescente superpotência mundial, a China, ficou ainda mais clara. Enquanto seu presidente, Xi Jinping, tendo consolidado o poder em meio a uma onda de nacionalismo chinês, pode se tornar o líder mais antigo de seu país, ele enfrenta uma paisagem internacional que teria surpreendido e confundido Mao Zedong.
Embora Trump tenha declarado seu encontro com Xi um sucesso porque os dois lados concordaram com uma trégua tarifária de 90 dias, sua nomeação imediatamente depois de um esfuziante anti-chinês, Robert Lighthizer, para encabeçar as negociações, um tweet em que ele se referiu como super-herói como “Tariff Man” e a notícia de que os EUA haviam solicitado que o Canadá prendesse e extraditasse um executivo de uma importante empresa chinesa de tecnologia fizeram com que a Dow tomasse sua quarta maior queda na história e flutuasse descontroladamente enquanto os temores econômicos por uma futura “ Grande Alguma Coisa ”subiram. Mais incerteza e desconfiança foram o verdadeiro produto dessa reunião.
Na verdade, estamos atualmente em um mundo cujos líderes chave, especialmente o Presidente dos Estados Unidos, permanecem deliberadamente alheios aos seus problemas a longo prazo, colocando como a desregulamentação, falsas soluções nacionalistas e lucros para o já grotescamente ricos à frente a vida futura da massa dos cidadãos. Considere os protestos dos Coletes Amarelos  que irromperam na França, onde os manifestantes identificados com partidos de esquerda e direita políticos estão pedindo a renúncia do Presidente francês Emmanuel de neoliberal Macron. Muitos deles, de cidades provinciais financeiramente esfomeadas, estão com raiva que seu poder de compra caiu tão baixo que mal podem ganhar a vida
Em última análise, o que transcende a geografia e a geopolítica é subjacente o nível de descontentamento econômico provocado no vigésimo-primeiro século economia e uma abertura de tamanho do Grand Canyon desigualdade global resultante é ainda alargamento . Se os protestos vão para a esquerda ou direita, o que continua a mentir o cerne da questão é a maneira políticas falhas e paliativa medidas postas em prática ao redor do mundo são já não trabalha, não quando se trata de não - 1% de qualquer forma. Pessoas de todas as Washington para Paris, Londres de Beijing, cada vez mais entender que sua situação econômica não está melhorando e não é susceptíveis de em qualquer futuro atualmente imaginável, dado aqueles agora no poder.
Uma receita perigosa
A crise financeira de 2008 inicialmente adotou uma política de afiançar para fora os bancos com dinheiro barato que foi não para a economia de Main Street, mas para mercados enriquecendo os poucos. Como resultado, um grande número de pessoas cada vez mais sentiu que estavam sendo deixados para trás e então se virou contra seus líderes e às vezes uns aos outros também.
Esta situação foi então explorada por um conjunto de políticos autointitulados do povo, incluindo uma personalidade de TV bilionária que capitalizou o medo cada vez mais generalizado de um futuro em risco. Suas promessas de prosperidade econômica estavam envoltas em trivialidades populistas, normalmente (mas nem sempre) de um tipo de direita. Perdido nesses afastamentos em relação aos partidos políticos anteriormente dominantes e os sistemas que os acompanhavam fica uma verdadeira forma de populismo, que colocaria genuinamente as necessidades da maioria das pessoas sobre os poucos da elite, construindo coisas reais, incluindo infraestrutura, promovendo a distribuição orgânica da riqueza. e estabilizar as economias acima dos mercados financeiros.
Enquanto isso, o que temos é, claramente, uma receita para um mundo cada vez mais instável e vicioso.

Nomi Prins é uma regular no TomDispatch. Seu último livro é Colusão: Como os Bancos Centrais Invadiram o Mundo (Nation Books). De seus outros seis livros, o mais recente é Todos os banqueiros dos presidentes: as alianças ocultas que impulsionam o poder americano. Ela é ex-executiva de Wall Street. Um agradecimento especial ao pesquisador Craig Wilson por seu excelente trabalho nesta peça.

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quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

COMENTÁRIOS SOBRE A INSURREIÇÃO DOS COLETES AMARELOS NA FRANÇA

Artigo de John Wight no Russia Today. Tradução minha


Chegou o exército europeu do Macron. Atende pelo nome de Coletes Amarelos

John Wight tem escrito para uma variedade de jornais e sites, incluindo o independente, estrela da manhã, Huffington Post, Counterpunch, London Progressive Journal e Foreign Policy Journal.
Data de publicação: 10 Dec, 2018 11:56Edited time: 10 Dec, 2018 12:13


Quem já experimentou gás lacrimogêneo irá reconhecer como ele é desagradável. Eu experimentei em Paris no sábado, 8 de dezembro quando a cidade se transformou em uma zona de guerra.

Estou a escrever estas palavras em um quarto de hotel no centro de Paris no rescaldo de um dia de fúria, desencadeada pelos autodenominados Gilets Jaunes (Coletes Amarelos), movimento de massas dos modernos ‘enragés' (indignados) de reputação revolucionária francesa. E foi realmente um dia que trouxe à luz as principais características de uma revolução em curso. Mesmo agora, depois das oito da noite, a agitação continua, com o som das sirenes da polícia e helicópteros pairando sobrecarga a música incessante humor para meus pensamentos.
Este caos está ocorrendo não na Síria, Venezuela ou na Ucrânia, mas em Paris, a cidade mais associada com a riqueza, a cultura e o liberalismo de um continente europeu que cada vez mais, encontra-se cercado de agitação social e ruptura política.
A capital francesa é atualmente, para todos os propósitos, a linha de frente na luta contra o neoliberalismo e seu filho bastardo, austeridade, crescente em toda a União Europeia, cujas bases estão desmoronando. Eles estão desmoronando, não devido às maquinações diabólicas de Vladimir Putin (como comentaristas liberais ocidentais cada vez mais perturbados e fora de contato com a realidade mantém), mas em vez disso, como resultado de um status quo neoliberal que assegura aos muito poucos conforto e prosperidade material ilimitados, em detrimento dos muitos, para quem a extrema miséria e dor de montagem são seus frutos sombrios.
Não só este movimento dos manifestantes de colete amarelo é um problema para Macron, mas também é cada vez mais um problema para um establishment político e econômico da União Europeia que ainda está por despertar para o fato de que o mundo mudou e mudou completamente.
Ao longo da história humana a arrogância foi a ruína dos ricos e poderosos, juntamente com os impérios forjados em seu nome; e arrogância é atualmente a caminho de ser a ruína de uma UE cujos proponentes têm abraçado a unidade, não dos seus povos, mas de seus bancos, empresas e elites.
Emmanuel Macron é um garoto-propaganda para governar a arrogância de classe no nosso tempo, um líder amplamente referido na França como o “Presidente dos ricos”. Seu desprezo não ligado para o sofrimento das pessoas comuns em todo o país acasba de despertá-los – e pelo que tenho visto, eles não vou voltar a dormir tão cedo.
Na perspectiva da Macron e seu governo o personagem consumado deste movimento dos Coletes amarelos, que está montando o mais sério desafio ao neoliberalismo na Europa visto até agora, tem que ser o aspecto mais preocupante da crise atual. Até agora é um movimento que carece de um programa concreto e liderança reconhecível, com Macron, nem as autoridades francesas, é óbvio, conseguindo saber com clareza sobre com o que eles estão lidando.
Todos eles sabem neste momento é que o que quer que seja, sua dinâmica provoca nenhuma evidência de desaceleração – balizadas por um nível de apoio público que os governos que se ajoelham no altar de austeridade podem apenas sonhar.
Dito isto, a falta de um programa político concreto e ideologia coerente, embora seja uma força agora, pode mostrar ser a ruína do movimento mais adiante. Porque realmente é muito simples: se você não tem seu próprio Programa, mais cedo ou mais tarde você inevitavelmente se tornará parte do Programa de alguém mais. Disso, o destino da chamada primavera árabe em 2011 não deixa dúvidas.
Os poucos manifestantes com quem conversei foram peremptório, que é um movimento não-político (ou talvez que deve ser não-político, como de costume), sem espaço para a direita ou esquerda - não há suporte para Marine Le Pen ou Jean-Luc Mélenchon. Eles são, disseram, contra o sistema e os partidos políticos na sua totalidade. Eles exigem a demissão de Macron, uma nova Constituição e referendos populares a fim de devolver o poder ao povo.
Quanto à UE, um homem jovem, com que conversei, chamado David expressou o apoio para um modelo reformado da União Europeia – um que coloque as pessoas em primeiro lugar. A UE de Macron está terminada, ele declarou. Não é democrática, é autocrática, entregando não justiça, mas injustiça; distribui dor econômica ao invés de prosperidade para aqueles cujo único crime é ser jovens e velhos e comuns em um mundo regido pelos interesses dos ricos e os conectados.
Eu também falei com Rafiq, um jovem de origem marroquina. Ele proclamou que a arrogância de Macron e a indiferença para com os problemas do povo tinham ido longe demais. Quando as pessoas não têm esperança, ele disse, eles não têm nenhuma escolha além de levantar-se.
Mas certamente, coloquei a ele, tumultos e violência não são o caminho a percorrer para fazer mudanças em uma democracia. Que democracia, ele retrucou. Na França, democracia é para os ricos. Para os olhos de Macron, ninguém mais importa.
Eles desceram ao centro de Paris, recusando-se a ser intimidados ou desencorajados pela presença maciça da polícia, ou pelas advertências emitidas pelas autoridades nos dias que antecederam, de uma pesada repressão no caso qualquer perturbação maior. Ao longo da Boulevard Haussmann, eles marcharam em direção ao Champs-Elysées. Eles foram cantando, agitando bandeiras, gritando epítetos e slogans contra Macron, impulsionados por um sentido de unidade e confiança em sua própria força e propósito.
Eles tinham vindo de todo o país, lembrando aos residentes da cidade afluente, a burguesia, que Paris não é a França e a França não é Paris.
Mas onde estavam eles, estes compradores ricos e abastados e os habitantes da Paris de Macron? Onde estavam a habitual frota de veículos de luxo, o exército de turistas e compradores que normalmente colonizaram nesta parte da cidade?
No sábado, a Paris rico estava em retirada; as boutiques Gucci e Louis Vuitton, as lojas de departamento luxuosas, restaurantes sofisticados e bares de vinho se protegeram com tábuas para abrir caminho para a chegada do tipo de exército europeu que Macron não tinha em mente quando ele lançou um apelo para um.
A luta a ser travada pelos Coletes Amarelos aqui em Paris e em toda a França não é nativa apenas de um país. É a luta de milhões de pessoas em todo um continente que já cansou de ser acusado de desacato por elites que não dão a mínima para eles ou suas famílias. É uma luta comum para as massas na Grécia, Espanha, Portugal e Itália – na Irlanda e no Reino Unido. É a luta de homens e mulheres de nenhuma propriedade, colocando aqueles que não têm nada contra aqueles que têm tudo.
Se Macron esperava que os Coletes Amarelos retornassem para a obscuridade de onde vieram, depois de ter cedido em sua demanda inicial de cancelar o imposto do combustível proposto a caminho, ele calculou mal. Enquanto Paris queima, também queima o seu legado – o legado de um líder que veio para simbolizar o fim da estrada para a Europa neoliberal.