quinta-feira, 31 de agosto de 2017

O MAIOR DANO DO GOLPE

É sobre a democracia, atual e futura.

Democracia como mecanismo de construção de mínimos consensos.

O que é um processo civilizatório em si. As pessoas vêm com  diferentes pretensões e aspirações , expõem com a maior racionalidade disponível na ocasião, confrontam essas coisas e isso se chama processo de discussão. Depois de discussões longas, pacientes, com disposição para a composição, decide-se e todos concordam ou ao menos consentem, acreditando que a solução é aceitável. 

O problema maior não é a retirada de direitos dos trabalhadores, é que esse processo não foi, não é negociado de verdade (compra de deputados e senadores não é negociação no sentido que entendo aqui). O processo é do tipo assalto.

O mesmo com a privatização e desnacionalização. Nunca, desde que a ideologia neoliberal começou a ser adotada pelos políticos, primeiro de direita, depois pelos socialdemocratas, se possibilitou uma discussão na sociedade sobre o que seriam os efeitos da entrega de serviços públicos aos critérios "de mercado". Os critérios de mercado são um: maximizar o lucro do controlador da empresa privatizada, e de seus acionistas.

Em artigo recém publicado no Tijolaço, Samuel Pinheiro Guimarães quantifica o "mercado" no Brasil: duzentas mil pessoas, ou 0,2 % da população, que ganham para mais de 80 mil reais por mês. A racionalidade econômica defendida pela mídia e pela maior parte da Academia é a racionalidade desses 0,2 %.

Eles, coordenados com os EUA e suas corporações, são os donos do golpe de 2016. Que começou no momento em que a esquerda deixou de lado o combate de classes e ideológico. Que fraquejou em controlar os monopólios de mídia. Que não viu o monstro do judiciário - esses procuradores e juízes que ganham para estar entre os 1 e os 0,2  % mais ricos da população se tornar um agrupamento do Estado mais efetivo que os militares em apoiar a rapina sobre a riqueza pública e sobre os mais pobres.

E aqui estamos, sem instrumentos políticos para apoiar nossas aspirações de uma sociedade capaz de apoiar seus cidadãos e construir uma nação equilibrada e civilizada. Mas, como ouvi outro dia em uma reunião destinada ao lançamento de uma nova revista sob a direção do Raimundo Rodrigues Pereira: estamos vivos. 

Tenho certeza que temos que continuar procurando e fazendo. Nós, a esquerda.





















terça-feira, 29 de agosto de 2017

UM ARTIGO IMPORTANTE DE GILBERTO BERCOVICI

Do Conversa Afiada. Ainda existe vida decente no mundo jurídico. 

Bercovici: quanto privatizarem, tanto reestatizaremos

Quem comprar dos golpistas comete crime de receptação!
publicado 28/08/2017
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Conversa Afiada tem o prazer de publicar artigo de Gilberto Bercovici, Professor Titular de Direito Econômico e Economia Política da Faculdade de Direito da USP​, sobre o que aguarda os que participarem da privatifaria:​
Se o governo, em qualquer dos seus níveis (federal, estadual ou municipal), resolver desapropriar a propriedade de algum particular para realizar um empreendimento público qualquer, como uma estrada ou uma obra viária, o cidadão que sofre a desapropriação tem uma série de direitos e garantias. Afinal, no Estado de Direito o ordenamento jurídico tutela o proprietário privado no seu enfrentamento contra o Poder Público com garantias e exigências que devem ser cumpridas inexoravelmente em um processo de desapropriação. A própria indenização ao desapropriado é uma dessas garantias, expressa desde as primeiras declarações de direitos das revoluções liberais dos séculos XVII (Inglaterra) e XVIII (Estados Unidos e França). 

Não há, no entanto, nenhuma garantia ou proteção jurídica aos cidadãos quando o governo decide transferir ao setor privado determinados bens da coletividade, como uma empresa estatal, a prestação de um serviço público ou a exploração de um bem público. Pelo contrário, a privatização é considerada uma opção absolutamente livre e legítima para os governos adotarem, sem qualquer tipo de contestação. A expropriação dos bens privados, por sua vez, é considerada quase um tabu. A grande mídia exalta os privatizadores e condena veementemente aqueles que ousam estatizar, nacionalizar ou recuperar bens públicos transferidos inadequadamente aos privados. Para aqueles, o paraíso da boa governança e o aplauso do “mercado”. Para estes, o inferno do populismo (ou bolivarianismo, a depender do caso) e da reprovação unânime dos meios de comunicação de massa. 

O que ninguém diz é que ao privatizar uma empresa estatal ou qualquer parcela do patrimônio público, o governo está expropriando a população de bens públicos que são de sua titularidade. Simples assim. Na privatização, o governo age do mesmo modo que na expropriação. Da mesma forma que desapropria uma propriedade privada, na privatização o governo aliena a propriedade pública. O problema é que o proprietário privado pode contestar e tem garantias, o povo não. 

Todo processo de privatização é uma expropriação de bens que deveriam integrar permanentemente o patrimônio público de todos os cidadãos, decidida por uma autoridade política que exerce o poder temporariamente (e, no Brasil pós-golpe de 2016, ilegitimamente). No processo de privatização, o governo não vende o que é dele (governo). Na privatização, o governo vende o que pertence a todos nós. E sem nos consultar sobre isso. 

Podemos ilustrar a situação com o exemplo utilizado pelo jurista italiano Ugo Mattei: autorizar que um governo venda livremente os bens de todos para fazer frente às suas necessidades contingentes e conjunturais de política econômica é tão irresponsável quanto consentir, no plano familiar, que o zelador venda os bens de maior valor da casa, como a prataria, o carro ou os eletrodomésticos, para suprir suas necessidades particulares, como viajar nas férias ou pagar uma dívida particular. 

O governo é um administrador fiduciário, ou seja, atua apenas sob mandato. Não pode dispor dos bens públicos ao seu bel-prazer. O governo não é proprietário das empresas estatais, ele é apenas seu gestor. O governo deve ser o servidor do povo soberano, não o contrário. 

Os bens públicos não são facilmente recuperáveis. Os investimentos de imensas quantias, aplicadas de forma planejada a longo prazo, o sacrifício de milhões de brasileiros não pode ser dissipado sem mais, nem menos, para cobrir um déficit conjuntural nas contas públicas gerado pela má gestão e incompetência do atual governo. 

O Brasil necessita de uma infraestrutura complexa, capaz de articular as várias regiões do país. A prestação dos serviços públicos de energia e comunicações precisa ser acompanhada de preços básicos, o mais uniformizados possível, e instalações interligadas, para que não se excluam regiões e setores inteiros e importantes da possibilidade de participar do mercado interno e do mercado internacional. Com a Eletrobrás e a Petrobrás, o Brasil possui empresas estatais globais pelo seu tamanho, capacidade técnica, financeira e organizacional para operar tanto no país como no exterior, que são dotadas de um sistema de planejamento estratégico e que se responsabilizaram por grande parte da infraestrutura e do desenvolvimento tecnológico do país. 

Ao invés de dotar estas empresas de maior capacidade operacional e reforçar o controle público e a transparência sobre seus recursos, o Governo golpista de Michel Temer, seguindo os passos dados durante a privataria tucana do Governo Fernando Henrique Cardoso, optou por desmontá-las, cortar seus investimentos e desestruturar suas finanças, a fim de justificar a sua privatização. 

A privatização dessas empresas estatais significa a desestruturação do sistema energético integrado, fundamental para a manutenção de um mercado interno de dimensões continentais, como o brasileiro, e uma inserção internacional competitiva, não subordinada. A fragmentação das empresas estatais de infraestrutura substitui, na maior parte dos casos, o monopólio estatal pelo monopólio ou oligopólio privados, além de romper com o planejamento estratégico e integrado da rede de serviços básicos e com um sistema interligado de tarifas cruzadas. 

O desmonte do setor elétrico brasileiro, com a anunciada privatização da Eletrobrás, compromete de forma definitiva nossa soberania energética. A soberania energética é um componente essencial da soberania econômica nacional, pois abrange um setor chave da economia do país. O Estado deve tomar decisões autônomas sobre a produção e destino dos seus recursos energéticos, planejando o seu desenvolvimento e evitando a dependência tecnológica e de fatores externos para a produção de energia. Deste modo, o controle estatal sobre as fontes de energia consiste em um eixo central de um projeto democrático em que a política macroeconômica esteja a serviço dos interesses nacionais, além de poder propiciar um planejamento energético de longo prazo. 

Como já havia escrito em um texto de maio deste ano, em coautoria com José Augusto Fontoura Costa, devemos deixar claro aos aproveitadores que desejam adquirir o patrimônio nacional brasileiro a preço vil, bem cientes da ilegitimidade absoluta do Governo Temer, que terão que devolver o que compraram sem qualquer direito a indenização assim que um governo legítimo, eleito diretamente pelo povo, e garantidor dos verdadeiros interesses nacionais, assumir o poder e restaurar a democracia no Brasil. 

Empresas e investidores, nacionais ou estrangeiros, que adquiriram, depois do golpe de 2016, recursos do povo brasileiro estão cometendo um crime. Os preços pagos são incompatíveis com o mercado e a situação institucional e política não é exatamente daquelas que inspiram confiança, muito menos certeza. O que está ocorrendo com ativos da Petrobrás e outros bens estatais estratégicos (fala-se, além da Eletrobrás, na privatização dos Correios, da Casa da Moeda, de satélites, concessões de lavra mineral em terras indígenas ou de fronteira, etc.) deve ser equiparado ao crime de receptação. Afinal, um bem público foi subtraído do patrimônio público de forma ilegal, muitas vezes até sem licitação, e vendido a preço vil. A empresa compradora obviamente sabe o que está adquirindo e a que preço. Não há nenhum terceiro de boa-fé envolvido neste tipo de negócio. 

Aos abutres, hienas, oportunistas e entreguistas de sempre está dado o alerta: quanto privatizarem, tanto reestatizaremos!

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

O QUE FAZER? NOVO POST

Tem bastante o que fazer. Mas somos poucos, não somos tão sábios, e o inimigo continua no controle das ações e da narrativa.

Inimigo: o poder financeiro que tem se apoderado de nacos cada vez maiores da riqueza e da renda, em escala mundial. Por poder financeiro, vamos explicar: entendemos os banqueiros, os executivos das grandes corporações nacionais e internacionais. Incluídos de há muito tempo os donos da mídia em geral (praticamente todos no Brasil, e a maioria em quase todos os países nominalmente democráticos), e, recentemente, os membros do poder judiciário e chefias das polícias militares. Sem esquecer os Estados Unidos da América, sempre trabalhando para manter o país em estado de servidão.

O poder judiciário no Brasil, mediante acordos com políticos de direita, alçaram-se ao grupo dos 1 por cento mais ricos. Assim, além da função tradicional de servidores dos donos do poder econômico - antes a burguesia escravocrata, a agrária, a industrial e de serviços e a financeira, eles são servidores de si mesmos. Todos as ações desses juízes e procuradores de todas as instâncias deixam assim de ser algo para os "outros", mas algo para "nós todos".

E nós de fora desses círculos, que contamos desde a "redemocratização" com instituições do Estado Liberal Democrático, que apoiamos e vimos o país evoluir e crescer, caímos dessa escada que nos foi arrancada, com a brocha na mão. 

Quem somos? A esquerda em diferentes matizes: trabalhadores mais ou menos organizados nas cidades e nos campos, intelectuais, cidadão conscientes avulsos. Todos em algum grau inspirados na ideia comunista primordial, que é a da emancipação de todos, da transcendência em relação às sociedades de classes, inclusive a atual. 

Não estamos perdendo a atenção e o nosso tempo ao tentar mostrar como temos razão? Não é mais importante definir o que queremos e o que fazer para atingir isso, no caminho destruindo a ordem capitalista neoliberal? Não seria um método melhor de meditar o mundo e pensar as ações imediatas? Tipo de coisa que se pode fazer em escala individual e dentro de grupos que pensem mais ou menos da mesma forma.

É importante discernir sempre a linha que separa o conformista do que não desiste da procura de uma melhor atitude, de uma melhor política, de uma melhor sociedade. E é preciso contestar, mesmo isto sendo desconfortável e desagradável. Sempre tem os amigos. Sempre tem a arte. 

Os jornais e as mídias ignoram de propósito os grupos sociais que ajudam na concentração cada vez maior da riqueza. E escondem essa realidade no meio de noticiários de coisas muitas vezes muitissimamente menos relevantes e de notícias propriamente falsas.

De todo modo, parece cada vez mais que o tempo vai ficar quente. Na falta de uma esquerda organizada, vai ficando cada vez mais provável uma cisão da sociedade, e a irrupção de múltiplos focos de violência. Os EUA e suas corporações estarão à espreita para aproveitar e intervir, trazendo para cá o que eles já fazem no Oriente Médio e na América Central.

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

O COMBATE AGORA DEVE SER CONTRA A DITADURA

Que está instalada e avançando sobre as liberdades básicas. Matéria do O Cafezinho, a partir da Forum.


A ditadura não é na Venezuela. É aqui.

Escrito por , Postado em Redação

Em Instituto de Educação criado por demanda do próprio MST, meganhas do consórcio fascista formado por forças federais de segurança (PF, MP e Judiciário), atacam educadores ligados ao… MST.
A ditadura não é na Venezuela.
A ditadura é aqui.
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Perseguição política: PF apreende equipamentos de educadores populares do IFC
16 de agosto de 2017
A justiça determinou a busca e apreensão de computadores e equipamentos e determinou o afastamento de dois educadores populares do MST do campus Abelardo Luz, do Instituto Federal Catarinense, faculdade criada no governo Dilma a partir de demandas do próprio MST. Acusação é de “imposição ideológica e política”
Por Redação
O Ministério Público Federal determinou, nesta quarta-feira (16), a busca e apreensão de computadores, celulares e outros equipamentos, além da quebra de sigilo de informações, de Ricardo Scopel Velho e Maicon Fontaine, dois educadores populares ligados ao MST que ministram aulas no campus Abelardo Luz, do Instituto Federal Catarinense.
A acusação é de “ingerência na gestão” e de “imposição ideológica e política” no instituto.
O mais curioso é que o campus Abelardo Luz foi criado a partir de uma demanda do próprio MST. Para a Justiça, no entanto, a presença de pessoas ligadas ao MST na faculdade, elaborando planos pedagógicos, representa uma irregularidade. O próprio despacho do MP vai contra a história da criação do campus: “Integrantes do MST e a direção local do instituto reiteram de forma ostensiva que o campus seria uma conquista do movimento”.
O próprio site do instituto, no entanto, confirma a informação: “A conquista do Campus Avançado de Abelardo Luz é resultado da pauta apresentada, em 2011, pelo MST, à presidenta Dilma, para atender à necessidade da região, em especial, dos agricultores familiares e camponeses. Esta pauta foi reafirmada na audiência pública realizada no Assentamento José Maria, em agosto de 2012, com a presença massiva de políticos locais e estaduais, comunidade, universidades, IFC, cooperativas dos assentados da Reforma Agrária, movimentos sociais e poder público municipal. O objetivo do campus é atender às demandas históricas, dos camponeses e camponesas, por uma educação do campo pública gratuita e de qualidade”, diz a descrição no site.
Em informe, integrantes do MST denunciaram a ação.
“É mais um absurdo e clara perseguição política, o Campus Abelardo Luz é uma conquista do MST e de outros movimentos campesinos da região. A perseguição e a ameaça feita aos companheiros é mais um caso de perseguição e criminalização de movimentos sociais! É um caso de Escola Sem Partido que não teve aprovação, mas está cada dia mais vigente nas escolas públicas como um todo, também no Instituto Federal. Por meio dessas decisões os dois estão afastados da função pública, ou seja, o o objetivo é perseguir, demitir e criminalizar! Não podemos aceitar esse absurdo!”.
Confira, abaixo, o despacho do MP em que é solicitada a busca e apreensão dos equipamentos, bem como o afastamento dos educadores.

terça-feira, 8 de agosto de 2017

ARTIGO IMPORTANTE DE MAURO SANTAYANA


Saiu do Brasil 247

Goering ficaria orgulhoso: continuam os violentos ataques da Empiricus a Lula nos meios 'empresariais'

Um dos fenômenos mais impactantes do processo histórico vivido pelo país neste momento, é a extensão, profundidade e complexidade alcançadas pelo amplo esquema de contrainformação fascista montado nos últimos anos.
Voltado para atingir não apenas o público geral, mas também segmentos específicos da opinião pública, como a juventude, as igrejas (católicas e evangélicas) os ruralistas e os empresários urbanos, ele tem operado, desde 2013, praticamente sem contestação.
Na ausência de planejamento tático, estratégia, determinação ou articulação, a esquerda, que poderia servir de alternativa a esse discurso, reage, junto com o campo nacionalista e democrático, de uma forma tão lamentável e errática, que as derrotas vão se sucedendo, umas sobre as outras, com grande rapidez e facilidade, como ocorreu com o golpe jurídico-parlamentar-midiático de 2016.
Não há no Brasil uma frente pela democracia. 
Não existe, no país, um comitê estratégico de comunicação, que pudesse, ao menos em parte, suprir a ausência dessa frente, ou transformar-se no seu braço mais atuante, em defesa da Verdade, da Liberdade, do Estado de Direito e da Constituição.
Nem uma coordenação jurídica nacionalista e desenvolvimentista, que possa restabelecer minimamente a justiça e fazer frente  ao verdadeiro tsunami de calúnias produzido de forma mendaz pelo sistema de manipulação entreguista e fascista, em seus moinhos, ininterruptamente ligados, de ódio, mentira e hipocrisia.
E nem sequer grupos de monitoramento dignos desse nome, para ao menos mapear o que está ocorrendo nesse contexto, na internet e nos meios tradicionais de comunicação.
A cada 24 horas, no âmbito econômico e no institucional,  da desculpa da busca de austeridade - agora ridicularizada pelos mais de 3 bilhões em emendas parlamentares aprovados pelo governo - que disfarça e sustenta a entrega da nação aos estrangeiros, à suposta defesa da honestidade que justifica, por meio do discurso de combate à corrupção, a destruição do Brasil, de programas e projetos no valor de centenas de bilhões de reais, são gerados, livre e maciçamente - na mídia, nos organismos de controle, justiça e segurança da República, nos intestinos de uma plutoburocracia sem nenhuma visão geopolítica ou um mínimo de sensibilidade estratégica para com a dimensão e a história do país que está irresponsavelmente arrebentando - centenas de ataques (milhares, se somarmos as redes sociais) ao Estado, à Democracia e à Política.
Às principais  empresas nacionais e aos nossos bancos públicos - que poderiam nos servir de instrumento para enfrentar a crise em que nos meteram a propaganda, a conspiração e a sabotagem golpista desde a época da Copa do Mundo - distorcendo descaradamente a verdade, invertendo a realidade dos fatos, criando mitos tão mendazes quanto absurdos.
Disseminam-se, como sementes de ódio que brotam assim que atingem o solo - e tivéssemos sido tomados por um cego, orgásmico e orgiático viralatismo - falsos paradigmas que estão chegando - pela constante repetição, no incansável "pós venda" da "pós-verdade" - a milhões de brasileiros, nos mais diferentes nichos da sociedade e regiões do país, cumprindo sua missão de enfraquecer e destruir o Estado, desnacionalizar a economia e nossos principais  instrumentos de desenvolvimento, e de ajudar a entregar, quem sabe definitivamente, o país ao fascismo, com embrulho de presente e tudo, nas próximas eleições.
Para fazer isso, a  aliança entre direita "light", o anticomunismo tosco e anacrônico e o entreguismo mais abjeto, que encontraram no território brasileiro, nos últimos anos, um campo fértil, adubado com o preconceito e a ignorância, não utilizam apenas a mídia de massa - a ponta mais visível do iceberg que está afundando o país.
Mas também os mais insidiosos métodos e instrumentos, desenvolvendo estratégias específicas para cada tipo de público, por meio de instituições ligadas a interesses estrangeiros, vide as ligações entre o MBL e os irmãos Koch, por exemplo.
Há palestras e cursos de formação de "liderança" promovidos e financiados por consulados e embaixadas estrangeiras, de países que nos espionaram ainda nesta década.
Há "seminários" organizados por institutos e fundações de "defesa" da "justiça" e da "democracia", que não apenas levam nossos jovens para  outros países, facilitando por meio de "bolsas" suas viagens e estudos, como depois também promovem e premiam, com plaquinhas, diplomas, medalhas, espelhinhos, festinhas, diplomas e miçangas e palestras remuneradas, sua fiel, abjeta e prestimosa "cooperação", quando alcançam algum poder em suas carreiras.
Há centenas de sites  sofisticados, sem fontes de financiamento claras, e também empresas de "consultoria" e  "research" que, a pretexto de prestar  informações ao mercado e a investidores, fazem o mais descarado proselitismo político e antinacional.
Isso, sem serem incomodadas  ou impedidas, na maioria das vezes,  nem pelas autoridades, nem por quem está sendo por elas impiedosa e constantemente caluniado.
Usando, para pescar otários no oceano dos brasileiros comuns, saturantes- e caríssimas - campanhas de mídia dirigida, que, por sua extensão e capilaridade, devem envolver, principalmente na internet, milhões de reais.
Ora, todo mundo com um mínimo de conhecimento histórico sabe que, desde o início dos tempos, a mentira e o medo são as duas principais muletas do fascismo.
Que as utiliza para percorrer a trilha, pavimentada pela desinformação e o analfabetismo político, que costuma conduzí-lo ao poder, para finalmente calçar, sem abandoná-las como apoio para equilibrar-se, as pesadas botas do terror e do autoritarismo.
Quando na oposição, a falsidade e o preconceito servem ao fascismo para incentivar o golpismo.
Quando na situação, para impedir que ascendam novamente ao poder forças que possam se opor a ele.
Em fevereiro de 2015, denunciamos, em um texto para o qual recomendaríamos novamente a leitura, publicado na "Revista do Brasil", com o título de "O "FIM" DO BRASIL", a realização, na linha do "tenho medo", lembram-se? - de uma ampla campanha de mídia, dirigida principalmente para os meios empresariais, disfarçada como a venda de relatório de conjuntura, que afirmava - dentro da estratégia de  disseminação e justificação do golpismo - que o Brasil iria "quebrar" naquele ano.
Por trás dela, estava uma empresa de "consultoria" cuja principal missão tem sido, nos últimos anos, a de explorar e apoiar abertamente o anticomunismo e o antipetismo no Brasil, adotando o sensacionalismo mais vulgar e o mais descarado terrorismo econômico, mesma estratégia que adota  em outros "mercados", como Portugal, por exemplo.
Não apenas negando as eventuais conquistas que o país obteve na última década, mas, principalmente, assustando um público ignorante em economia, suscetível e contaminado ideologicamente pelo discurso conservador, privatista, entreguista e antibrasileiro vigente.
Ameaçando-o com a perspectiva da volta ao poder de um governo nacionalista, capaz de recolocar o país, por meio de um programa desenvolvimentista, em uma situação minimamente soberana e digna diante do mundo.
Agora, com a mesma estratégia, já denunciada, entre  outros, por Fernando Brito, Tereza Cruvinel e Denise Assis - a de apresentar um discurso escarradamente político, em sua forma e consequências, como peça de propaganda de uma pseudo "análise exclusiva" - essa mesma empresa, a EMPIRICUS - sócia do site Antagonista e já processada pela CVM e o MP de São Paulo - está promovendo outra campanha milionária, que, no lugar de "O FIM DO BRASIL" traz como apelo o alerta "A AMEAÇA QUE PODE ARRUINAR COM O PATRIMÔNIO DE SUA FAMÍLIA".
Nela, ela usa como principal gancho o retorno de Lula - que tirou o Brasil da decima-terceira economia do mundo e levou para sexta, hoje, ainda, nona posição, pagou a dívida com o FMI, triplicou o PIB, e multiplicou por 10, para 340 bilhões de dólares, as reservas internacionais - à Presidência da República e também defende, em outra peça de propaganda, a condenação definitiva do ex-presidente como um fator de melhora da situação para os investidores.
Em homenagem a Goering (Goebbels era mais sofisticado) vale a pena ler, na íntegra, o fac-símile dessa pilantragem:
 
 


 
 
 
 
 
 
Agora, resta saber o que o PT poderia fazer a respeito disso.
O leitor escolha, nas alternativas abaixo, como nas provas do Ministério Público:
a) Chamar alguns economistas sérios e incentivar a montagem de uma consultoria para concorrer - ao menos institucionalmente - com a Empiricus, que possa finalmente explicar aos investidores - e a parte da opinião pública - o que realmente ocorreu com a economia  brasileira desde 2002.
 
b) Mandar alguém fazer um estudo criterioso dos "relatórios" da EMPIRICUS nos últimos anos e mostrar que, entre os alegados 1.6 milhão de "leitores" que a seguem, muita gente jogou dinheiro fora - como no caso das ações da Petrobras - ao se deixar contaminar ideologicamente e indo atrás da conversa fiada deles.   
 
c) Processar - como já fez no passado - essa pseudo consultoria junto ao TSE por propaganda (ou contra informação) eleitoral antecipada.
 
d) Não fazer absolutamente nada, porque trata-se  de um caso típico de liberdade de expressão, ou porque "isso não vem ao caso", como diz certo  juiz "imparcial" de Curitiba. 

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

COMENTÁRIOS SOBRE UM MITO CHAMADO MERCADO

Saiu no O Cafezinho

O jornalismo de empulhação e o “mercado”


O jornalismo de empulhação que personifica o “mercado”
por J. Carlos de Assis
SEG, 31/07/2017 – 13:36
O noticiário econômico brasileiro é uma peça de ficção e de empulhação da sociedade. A maioria dos jornalistas de tevê e de jornal, notadamente dos grandes, mascara sua imbecilidade específica com conceitos ideológicos tomados do neoliberalismo sem qualquer espírito crítico. Pior do que isso. É um jornalismo que se baseia numa figura fantasmagórica chamada “mercado”, que emite opiniões extravagantes como se fosse uma pessoa.

Pela boca ou pela pena desses noticiaristas de circo o “mercado” fala, o “mercado” sente, o “mercado” ouve. Dão ao mercado uma personalidade específica, com sentimentos, razão e outros predicados humanos. O “mercado” é capaz de emitir extensos comentários a respeito das últimas medidas do governo, em geral repetindo noções elementares de economia que se tornam lições de idiotice para servir o público.
O leitor ou telespectador comum jamais saberão que, por trás do “mercado”, existe um jornalista imbecil ou preguiçoso que se livra de uma investigação responsável da matéria recorrendo ao ente “especializado” que inventou. O “mercado” tem, assim, uma dupla função. Servir como expressão da ideologia econômica de dominação, e possibilitar que o repórter preguiçoso, inventando um entrevistado, se livre da responsabilidade de fazer uma matéria decente, com nome e endereço do entrevistado.
Com mais de 40 anos de jornalismo econômico, jamais encontrei em qualquer instância de minha vida profissional o dito “mercado” – exceto, claro, as feiras livres de venda de hortaliças. Esse, sim, é o mercado. Entretanto, os jornalistas que cobrem bolsa provavelmente jamais visitaram um mercado real. O que não os impede de explicar o que levou o “mercado” a este ou outro comportamento, sem qualquer base real.
Todos sabemos que bolsa é um mercado absolutamente especulativo. Pode-se dizer que, matematicamente, é governado pela Teoria do Caos: pequenas alterações iniciais produzem grandes transformações finais, impossíveis de prever. Não obstante, os jornalistas de bolsa sentem-se obrigados a tomar o “mercado” como referência para avaliação de outros aspectos da sociedade, inclusive políticos.
Façam um experiência: vejam as afirmações do “mercado” no passado e comparem com o que veio depois. Quando se trata de previsões, só por pura sorte acertam. O “mercado”, em geral, tem prazo de validade de 24 horas. Para trás, os jornalistas que fazem do “mercado” seu porta-voz explícito não tem qualquer compromisso com a verdade ou a razoabilidade.
Mas a dominância absoluta da pessoa “mercado” no noticiário econômico não é a única extravagância brasileira nessa área. O contrário é ainda mais extraordinário. O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, cujas relações com o Itaú são notórias, tem prestado declarações segundo as quais a taxa de juros não caiu mais porque o Congresso não votou a reforma da Previdência, algo de notório interesse da banca privada, inclusive Itaú.
No contexto político em que o presidente da República foge de um processo por fraude e nove de seus ministros são apontados por corrupção, Ilan deve ter se sentido muito à vontade para defender abertamente os interesses da banca sem medo de conflito ético. É um país estranho este em que estamos. Vivemos entre o escárnio, a revolta e o nojo. Acaso isso poderá acabar bem?