segunda-feira, 18 de abril de 2016

PARA DISCUTAR EM UMA ALTERNATIVA DE ESQUERDA

É preciso reverter a várias das demandas originais da esquerda, contra os interesses do setor financeiro e a ideologia vudu do neoliberalismo. Uma delas, restabelecer o papel do setor estatal na economia, no qual as empresas de energia elétrica são parte essencial. Veja esta matéria publicada no Ilumina

Como privatizar uma estatal sem ninguém perceber

Furnas, ainda a maior empresa geradora de energia da América Latina, acaba de editar seu relatório de administração de 2015. Lá está o seu organograma de ativos, o qual reproduzimos aqui. Talvez, por questões de definição de imagem, seja difícil perceber os detalhes. Para facilitar, marcamos com um retângulo vermelho os ativos de geração e transmissão que são propriedade da empresa. Quem quiser conferir pode obter o relatório na página da empresa.
Logo abaixo do retângulo estão as usinas que passaram a ser propriedade da união depois da edição da lei 12.783/2013.
Todo o resto do cronograma mostra ativos onde a empresa é apenas uma sócia de empresas privadas sendo minoritárias na sua grande maioria.
Para se ter uma ordem de grandeza:
  1. Pouco mais de 3.600 MW ainda de propriedade integral.
  2. 4.600 MW que retornaram à união (a empresa só exerce a função de administradora de operação)
  3. 9.400 MW de propriedade majoritariamente privada.
Portanto, Furnas é uma “estatal” que só tem controle de 21% da capacidade de geração do seu organograma. Situação semelhante ocorre na transmissão.
O que é grave nessa constatação?
  1. No debate político, é preciso ampliar o que é considerado como privatização. Não é razoável entender uma empresa com um organograma desse tipo como uma estatal no sentido amplo. É preciso refletir que poder estratégico tem a união com tantos interesses privados inseridos na organização da empresa.
  2. O segundo grupo (usinas que retornaram à união) é ainda mais preocupante, pois, a permanecer a política atual, será ampliado. Nesse grupo, está a energia vendida a preços irrisórios para, inutilmente, tentar reduzir a tarifa brasileira. Isso significa que, ao invés de buscar as verdadeiras razões da explosão tarifária, o governo usou seu poder discricionário para intervir às custas da empresa. Isso significa que, se existem lucros ou custos exagerados na atual configuração do setor, eles permanecerão isentos de análise.
  3. O terceiro grupo é uma caixa preta, pois não se sabe que composição de custos são efetivamente praticados nessas sociedades. É preciso considerar que Furnas pode estar assumindo custos administrativos já que ainda possui um resto de estrutura herdada de sua história.
Assim, no atual caos político onde o impeachment da presidente é apenas um detalhe, é preciso incluir o que a sociedade não percebeu durante todos esses anos. Não considerar significa bancar o cego no tiroteio.

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