sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

OS MILITARES PARA COMBATER A CORRUPÇÃO? MESMO?

Do site BBC Brasil

Pagamento de propinas por empreiteiras se consolidou durante ditadura, diz historiador

  • Há 2 horas

Aperto de mãosImage copyrightTHINKSTOCK
Image captionGrandes empresas brasileiras nasceram tendo relações escusas com governos brasileiros, especialmente durante a ditadura militar

Muitas das grandes empreiteiras se beneficiaram de relações especiais com o Estado desde seu surgimento entre as décadas de 30 e 50, mas o pagamento de propinas se consolidou durante a ditadura, afirma o historiador Pedro Henrique Campos, em entrevista à BBC Brasil.
Campos diz que não se surpreendeu "nem um pouco" com os detalhes da relação escusa entre empreiteiras e governantes revelada nas delações da Operação Lava Jato: "Não só sabia que existia, mas acho que era abertamente conhecido".
Ele pesquisou a história dessas empresas, e em especial seus laços com a ditadura militar (1964-1985), em sua tese de doutorado pela UFF, que deu origem ao livro Estranhas Catedrais.
Quando a Camargo Correa nasceu, por exemplo, em 1939, nota o pesquisador, um dos seus fundadores era cunhado de Adhemar de Barros, então governador-interventor de São Paulo que ficou historicamente atrelado ao bordão "rouba, mas faz".
Já a Odebrecht nasceu na Bahia em 1944, mas é a forte relação que ela constrói com a Petrobras, desde a fundação da estatal em 1953, que vai pavimentar o crescimento da empresa no país - é a empreiteira que mais cresceu durante a ditadura, segundo Campos.
"Na trajetória antes, durante e depois da ditadura, e até na ramificação da Odebrecht (para outros setores da economia, como o petroquímico, com a Braskem) existe a pauta dessa relação com a Petrobras", nota o pesquisador, atualmente professor do Departamento de História e Relações Internacionais da UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro).
Apesar de reconhecer o ineditismo da Lava Jato ao aprofundar as investigações sobre essas relações escusas, Campos manifesta ceticismo com os efeitos da operação na redução da corrupção envolvendo empreiteiras.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista.
BBC Brasil: As recentes revelações da delação de Cláudio Melo Filho, ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht, sobre a troca de favores e propina entre a empresa e políticos te surpreenderam ou confirmaram o que você já tinha observado na sua pesquisa?
Pedro Henrique Campos: Não me surpreende nem um pouco, pelo contrário. Essas delações estão desnudando um processo que, não só eu sabia que existia, mas acho que era abertamente conhecido. Só que agora estão sendo revelados os detalhes.
Na minha pesquisa eu me detive sobre o período da ditadura. Por mais que existissem práticas ilegais, de corrupção naquele período, era diferente. Era um sistema menos complexo, não havia um conjunto de instituições públicas funcionando no país, e a atenção dos empreiteiros estava muito mais voltada para o Poder Executivo.
O Congresso, os partidos e a sociedade civil naquela época não tinham muito poder. Então, a relação era diretamente com os militares, ministros, presidentes de estatais.
Enquanto hoje, eles buscam acessar o Poder Legislativo, os partidos, os parlamentares, para conseguir projetos de lei, emendas parlamentares, aprovação de medidas provisórias, para ter acesso às diretorias de estatais (muitas vezes cargos nomeados pelo presidente, mas seguindo indicações de partidos e parlamentares).
Na minha pesquisa, eu vi que na década de 80, o movimento de passar as ações do Executivo para o Legislativo não foi feito de maneira arbitrária. As empresas planejam esse deslocamento das atividades.
Eu cheguei a ler documentos internos do sindicato dos empreiteiros, o Sinicon, em que eles falam isso, "temos que mudar nossas ações, parar de falar com os militares, com os ministros, presidentes e diretores de estatais, para falar mais com parlamentares, com os partidos, com o Congresso e com a imprensa".
Agora, a prática de pagamento de propinas, é algo anterior à ditadura e se consolida naquele período. Só que não aparecia tanto porque os mecanismos de investigação que temos hoje não existiam ou estavam amordaçados.
BBC Brasil: Pelo que você pesquisou, seria correto dizer que essas empreiteiras investigadas na Lava Jato sempre foram corruptas? Seria inerente ao setor?
Campos: A maior parte das empreiteiras grandes hoje foi formada entre as décadas de 30 e 50, quando a industrialização criou toda uma demanda por infraestrutura, com rodovias, hidrelétricas. Elas vão nascer dedicadas a esse tipo de obras.
Aí tem uma particularidade do capitalismo brasileiro que é uma centralidade muito evidente do Estado no processo de desenvolvimento de acumulação de capital. Essas empresas, seus dirigentes, seus donos, em geral partem de uma relação prévia com o aparelho de Estado.
Vou citar dois casos. A Mendes Júnior foi fundada em 1953 por um ex-funcionário da Estrada de Ferro Central do Brasil e da Secretaria de Viação de Minas Gerais, que era o José Mendes Júnior. Ele começa a ver que pode ganhar muito dinheiro do outro lado do balcão, porque tem um mundo a se fazer de rodovias no início da década de 50. A Mendes Júnior já foi a maior empreiteira brasileira.
A Camargo Corrêa é fundada em São Paulo por dois grandes sócios, o Sebastião Camargo e o Sylvio Corrêa, que era cunhado do Adhemar de Barros, em 1939. E o Adhemar era interventor (nomeado por Getúlio Vargas para governar o Estado) de São Paulo. Então essa relação política da empreiteira é decisiva para ela obter desde o princípio contratos, relação de obras.
Eu, particularmente, acho que o termo corrupção é muito abrangente, já que são várias práticas que entram sob esse guarda-chuva da corrupção. Mas está claro que esses empresários dispõem de um poder político muito expressivo, com práticas ilegais, no sentido de pautar as políticas publicas.

Pedro Henrique CamposImage copyrightARQUIVO PESSOAL
Image caption'Delações estão desnudando processo que, não só eu sabia que existia, mas acho que era abertamente conhecido', afirma Campos

BBC Brasil: Segundo sua pesquisa, a Odebrecht foi a empresa que mais cresceu na ditadura. Pode falar um pouco do histórico da empresa e como ela se adapta na transição para a democracia?
Campos: Sua trajetória é muito particular. Ela nasceu na Bahia, em 1944, fundada pelo Noberto Odebrecht, e originalmente tinha atuação muito local.
Com a Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste, criada em 1959), cresce, mas ainda fica restrita à região nordestina. Consegue obras contra a seca, a hidrelétrica do rio São Francisco, e de agências públicas federais que demandam investimentos no Nordeste, sendo a principal delas a Petrobras.
A Petrobras é uma empresa fundada em 1953 no Rio, porém as atenções da empresa originalmente estão muito concentradas no Nordeste, particularmente na Bahia. E Juracy Magalhães, primeiro presidente da estatal, era um militar baiano (na verdade radicado na Bahia, ele é nascido no Ceará), com toda uma associação com empresários locais, que são desde então muito presentes na dinâmica interna da Petrobras.
A Odebrecht, na sua própria memória, se gaba de ter contratos com a Petrobras desde os anos 1950, como gasodutos e pequenas obras no Nordeste.
Na explosão de obras que a gente teve antes da ditadura, no governo JK (Juscelino Kubitschek, presidente de 1956 a 1961), com as obras de Brasília e as rodovias do plano de metas, a Odebrecht não fez nada disso. Ela não tem nenhuma relação com esses grandes empreendimentos, que eram mais restritos naquele momento a empreiteiras mineiras, paulistas e cariocas.
A Odebrecht vai crescendo então consoante à própria expansão da Petrobras. Na trajetória antes, durante e depois da ditadura, e até na ramificação da Odebrecht (para outros setores da economia) existe a pauta dessa relação com a Petrobras.
BBC Brasil: Como no caso da Braskem (empresa controlada pela Odebrecht em que a Petrobras tem participação de 36% das ações)?
Campos: Isso, não é a toa que o principal eixo de diversificação das ações do grupo Odebrecht sejam no âmbito da petroquímica. A Braskem (criada em 2002 a partir da fusão de outras empresas do grupo Odebrecht) tem tudo a ver com a parceria antiga e profunda que a Odebrecht tem na Petrobras mesmo.
O principal produto que a Braskem consome é o nafta (derivado de petróleo utilizado como matéria-prima para vários produtos como eteno, propeno, benzeno e gás doméstico) da Petrobras. Então, tem todo um jogo em torno do preço do nafta que a Petrobras vai praticar e é decisivo para a lucratividade da Braskem. E a Odebrecht confia no poder que ela tem dentro da estatal.
Inclusive a Braskem hoje é muito maior que a construtora Odebrecht. Mas antes disso é emblemático que a primeira obra principal da empresa fora do Nordeste seja o edifício sede da Petrobras no Rio de Janeiro.
No início dos anos 1970, a Camargo Corrêa é a maior empreiteira da ditadura, e a Odebrecht não consta nem entre as dez primeiras nacionais. Aí, tem duas obras que mudam radicalmente o perfil e o tamanho da Odebrecht, o Aeroporto Internacional do Galeão e a usina nuclear de Angra dos Reis. São obras que exigem grau de confiança dos militares que outras empreiteiras não dispõem.
BBC Brasil: Mas por que ela ganha esses dois contratos e não outra empreiteira?
Campos: Eu não tenho detalhes, documentos para comprovar isso. Mas a minha hipótese é que a Odebrecht ganha as obras justamente por sua inserção na Petrobras e pelo fato da Petrobras ser uma empresa controlada por uma direção em boa medida militar, antes e durante a ditadura.
O presidente da Petrobras no período Médici (general que presidiu o Brasil de 1969 a 1974) era o Ernesto Geisel (general que após presidir a estatal sucedeu Médici no comando do país, de 1974 a 1979).
Geisel é uma figura que detém poder político na ditadura muito forte, e parece ter uma relação de confiança com a Odebrecht muito intensa. Ele é um dos que vão sinalizar pela indicação da empreiteira para fazer essas duas obras.
São obras de segurança nacional. A ditadura tinha o projeto do Brasil potência com controle da arma nuclear. E o aeroporto internacional do Rio seria o maior do Brasil, para receber aviões militares e civis. Não é qualquer empresa que eles iam deixar construir. A Camargo Corrêa, por exemplo, tinha conexões internacionais. Isso gerava uma aversão.
A Odebrecht tradicionalmente tem um discurso nacionalista que obviamente é muito instrumentalizado. Não necessariamente ela tem aversão ao capital estrangeiro, mas tem esse discurso, lastreado um pouco nessa relação com os militares.

Fachada da Odebrecht em São PauloImage copyrightREUTERS
Image captionOdebrecht tinha contratos da Petrobras desde os anos 1950 e cresceu juntamente com a expansão da estatal

BBC Brasil: Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, em 2014, você manifestou ceticismo com a Lava Jato. Mudou sua percepção? Está mais otimista?
Campos: Inicialmente achei que era mais um escândalo envolvendo empreiteiras, como inúmeros que tiveram antes. Eu realmente mordi minha língua e ela foi muito mais longe do que eu imaginava. Eles primeiro prenderam executivos, o que já era impressionante, mas depois prenderam os proprietários das empresas, algo supreendente.
Por outro lado, eu não diria que estou otimista. Pelo contrário, eu estou mais pessimista ainda. Primeiro, que a impressão que tenho é que a Lava Jato começa interessante, desmonta um esquema envolvendo empreiteiras e Estado, mas ela parece ser usada com certas finalidades políticas. Não é só isso a operação, mas os desdobramentos dela parecem ter algum grau de instrumentalização política.
Segundo, não parece que os mecanismos institucionais que permitem essas práticas estão sendo atacados. Ninguém está falando de rever leis de licitações. Ninguém está falando de rever o sistema de obras públicas no país de modo que as obras sejam mais sérias, mais baratas, menos corruptas, de maior qualidade.
A gente tem sistemas no exterior em que seguradoras fiscalizam se a obra está sendo feita no prazo, com qualidade, sem desvio de recurso e feita com o preço justo. Eu não vejo essa discussão.
Não vejo discussão sobre como funcionam as emendas parlamentares.
BBC Brasil: Algo que aumente a transparência do lobby?
Campos: Sim, a questão do lobby também, que é uma prática institucionalizada nos Estados Unidos e aqui não.
E por outro lado, os efeitos da Lava Jato, são danosos em certa medida. Será que uma punição rigorosa vai mudar a forma como ocorre (a corrupção), sem mudança legal, da estrutura do processo.
Aí vão quebrar as empreiteiras do país e vão vir empresas de fora. Essas empresas estrangeiras são menos corruptas? Eu tenho dúvidas se é uma questão moral das empresas. São empresas capitalistas que buscam lucro e vão usar de artifícios diversos para isso.
O histórico que a gente tem é que as estrangeiras são tão corruptas quanto. A gente tem a SBN (empresa holandesa que aluga navios-plataforma) com a Petrobras, a gente tem o cartel das empresas de metrô e trem em São Paulo, com a Alston, francesa, e a Siemens, alemã.
A diferença é que elas vão mandar lucros para fora, vão contratar engenheiros estrangeiros, trazer mais equipamentos, material, de fora. Eu vejo na verdade com muito receio e inquietação os desdobramentos da Lava Jato.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

PARA COMBATER E SUPERAR O REGIME DO GOLPE

Propostas por Mauro Santayana, peguei no Tijolaço


Santayana: por que não 10 medidas pela Democracia?

dezmedidasantayana
De Mauro Santayana, em seu blog, sobre medidas que nenhum democrata pode recusar. Nem os juízes e procuradores, se o forem.
Nos últimos dias, ocorreu-me indagar para os meus zíperes, como faria, estupefato, qualquer observador externo – o ET de Varginha, por exemplo, se estivesse em órbita estacionária sobre esta nossa pobre República – por que as bandeiras estão quase todas nas mãos dos midiotas e a perplexidade, a descoordenação e o despreparo nas mãos vazias, balançantes – infiltrados e provocadores não valem – daqueles que deveriam estar defendendo a Liberdade e a Democracia.
Se em política, como na Física, como reza a Terceira Lei de Newton, a toda reação, em forma de força, de um corpo sobre o outro, corresponde – ou deveria corresponder – uma força ou reação contrária e equivalente, por que ninguém lançou, até agora, um movimento das urgentes, e necessárias, 10 Medidas em Defesa da Democracia e do Estado de Direito?
Ao contrário da outra lista, supostamente voltada para o combate à corrupção, esta não seria, em princípio, intocável, mas aberta a sugestões, desde que elas não colidissem nem fugissem ao espírito da iniciativa, como é o caso de algumas propostas que já estão sendo discutidas no Congresso.
Se alguém – como organizações empresariais, partidos, advogados, magistrados – por que não ? – e defensores públicos – viesse a apoiá-la, poderia organizar-se um processo nacional de coleta de assinaturas, para provar que não existe, neste país, unanimidade sobre certos temas, e que se existisse tal unanimidade, ela seria, como reza a frase atribuída a Nelson Rodrigues, burra, e – acrescentaríamos – fascista, por princípio.
Afinal, não é possível – mesmo que apenas para os observadores – nem salutar, nem compreensível, que se siga aceitando passivamente a hipócrita manipulação maniqueísta que apresenta os defensores da limitação da Liberdade como heróis, e como bandidos, ou cúmplices de bandidos, aqueles que estão preocupados com o futuro do Estado de Direito e da Democracia.
E qual seria o teor dessas dez medidas (que poderiam eventualmente ser 12, 13 ou 15 ?)
Ora, apenas como mero observador (leigo, ainda por cima) ouso citar alguns pontos:
1 – Estabelecer limites claros para a prisão temporária.
2 – Proibir a “negociação” de acordos de delação “voluntária” com cidadãos que estejam sob custódia da justiça.
3 – Estabelecer a possibilidade de processo de magistrados e procuradores por crime de abuso de autoridade.
4 – Punir severamente o vazamento de informações sobre inquéritos e processos por parte de juízes, procuradores e policiais, antes que estes tenham transitado em julgado.
5 – Punir severamente manifestações e juízo de valor, a não ser nos autos, por parte de magistrados sobre o processo, réus, suspeitos ou acusados.
6 – Proibir a decretação de condução coercitiva a não ser que o suspeito, réu ou testemunha tenha sido intimado antes e se recusado a comparecer.
7 – Proibir a paralisação de obras e projetos, principalmente de caráter estratégico para a defesa, infraestrutura ou o desenvolvimento nacional, que estejam em andamento, para não acarretar maiores prejuízos, como sucateamento e aumento de custos para o erário e graves perdas para a população. A Justiça deverá, nesses casos , se houver suspeita de irregularidades, designar fiscais e interventores especializados em cada tipo de obra.
8 – Multas e eventuais bloqueios de contas de empresas não poderão passar de 10% do valor dos ativos, ou do faturamento líquido anual da empresa, para evitar a demissão de milhares de trabalhadores e a falência de investidores, acionistas e fornecedores.
9 – Ninguém poderá ser preso provisoriamente sem razão fundada e devidamente fundamentada, ou sem a apresentação, pela acusação, de provas materiais cabíveis que a justifiquem, na ausência de flagrante delito.
10 – Ninguém poderá ser pressionado a fazer delações supostamente “voluntárias” ou ter seu testemunho “dirigido” para obter o rumo que quiserem seus interrogadores.
Nesse sentido será facultado à defesa o direito de registrar, por áudio ou vídeo, ou ambos os meios, todos os encontros, reuniões e contatos entre a acusação e seu cliente, preservando-se o segredo de justiça, para subsidiar e documentar o seu trabalho.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

QUE FAZER


Artigo de Igor Fuser, publicado no Brasil 247

13 de Dezembro de 2016

Algumas pessoas têm manifestado repúdio à perspectiva de uma candidatura Lula como alternativa ao retrocesso brutal que o país está vivendo, nas mãos dessa burguesia golpista, vendida ao imperialismo.
Elas defendem uma proposta socialista, revolucionária, enfim, o ajuste de contas final, apocalíptico, entre os trabalhadores e os patrões, com a superação definitiva do capitalismo no Brasil. Ou a morte, é claro.
No fundo, muitas delas estão convencidas de que o golpe "até que foi bom", pois retirou de cena lideranças conciliadoras do tipo Lula & Dilma, inviabilizando assim um projeto "impuro", conspurcado pela mácula dos compromissos, da negociação.
Chega daquela história do "copo metade cheio, metade vazio", chega de raciocínios complicados, do tipo "por um lado, por outro lado". Chega de aceitar limites, obstáculos, impossibilidades.
Se é para fazer política, segue esse argumento, temos que fazer política em estado de pureza absoluta, fieis apenas à nossa "consciência" e aos nossos livros favoritos. A terra da utopia, ao nosso alcance, que beleza!
Para essa turma, os resultados concretos é o que menos importa. Vale mesmo a emoção do momento. O que é viável e o que é inviável é irrelevante. Não existe conjuntura, não existe correlação de forças. Papo furado de reformista, de burocrata.
Dane-se a realidade, fiquemos com os nossos desejos.
A esses eu respondo que se trata de uma perspectiva reacionária, regressiva, pois condena a esquerda ao imobilismo.
Na prática, priorizar a defesa de um programa socialista significa não fazer nada, desistir de qualquer protagonismo real no país em que efetivamente vivemos, deixando a burguesia com a faca e o queijo na mão para ferrar à vontade com os trabalhadores, com a maioria desprivilegiada.
Se quisermos mudar alguma coisa de verdade, precisamos sair da caixinha minúscula daquela ínfima, microscópica minoria de brasileiros disposta a lutar pelo socialismo.
É sonho, total ilusão acreditar que um projeto de revolução socialista tem qualquer chance no Brasil de hoje.
A questão da ordem do dia é mais básica, mais próxima da nossa realidade do dia a dia: lutar por DIREITOS, educação pública e gratuita, o fortalecimento do SUS, previdência universal em condições dignas, saneamento básico para toda a população, valorização do salário, manutenção dos direitos trabalhistas, transporte público acessível, cultura, reforma agrária, democratização da mídia, igualdade racial e de gênero.
Reforma política progressista, reforma do Judiciário e dos organismos policiais, democracia verdadeira e participativa. Desenvolvimento efetivamente sustentável, o petróleo do pré-sal para o povo brasileiro e não para as transnacionais.
Isso é que é ser verdadeiramente revolucionário, sem usar a palavra revolução. Isso é o projeto popular para o Brasil.
Mas é coisa pra quem quer mudança de verdade, e não para revolucionários de araque, só de blá-blá-blá.
O Brasil real não é um centro estudantil, não é uma assembléia de alunos das ciências sociais da USP.
A verdadeira esquerda é aquela que se propõe a fazer política para multidões, para mudar um país de 200 milhões de habitantes dos quais 90% têm a Rede Globo como única fonte de informação e 50 milhões são evangélicos.
Um projeto desse tipo, para mudar de verdade, a partir das condições de hoje e não só dos nossos sonhos e desejos, passa por Lula e pelo PT.
Se a candidatura Lula será viável ou não é outra história, e é importante que mudanças básicas ocorram no PT para que ele se coloque à altura do seu papel histórico, ou ao menos se aproxime disso.
Pode não dar certo, pode ser que Lula seja preso ou impugnado como candidato, e o destino do PT é incerto - pode ser destruído pela repressão golpista/fascista em ascensão, pode se autodestruir nas mãos dos frouxos e dos traidores.
Mas está quadradamente enganado quem acredita que, se essa tragédia se consumar, a luta dos trabalhadores avançará um milímetro sequer.
Não surgirá outro partido de massas no lugar do PT, e o espontaneísmo das lutas localizadas se esgota em si mesmo se não alcançar um saldo organizativo sólido, se não se articular com movimentos sociais mais amplos, de dimensão maior, permanentes.
Sem lideranças respeitadas, testadas na luta, rostos e nomes conhecidos, dirigentes políticos capazes de obter a confiança (e o voto) de milhões e milhões de pessoas comuns, seremos incapazes de avançar um único passo.
É completa cegueira – ou pior, oportunismo vil -- torcer pela destruição do maior partido de esquerda do mundo (o PT) e pela morte política do maior líder popular de toda a história brasileira (Lula).

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

OLHA ELES JUNTOS AÍ!

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MORO E OS CORRUPTOS DO BEM REÚNEM-SE COM A ISTO É

Saiu na Conversa Afiada. Para os coxinhas, o juiz Sérgio Moro está dispensado de ter compostura.


Moro é a parteira da "nova Nação"!

Golpistas se chafurdam na lama da "QuantoÉ"!
publicado 07/12/2016
Soldadinho.jpg
PAULICÉIA DESVAIRADA E 'ISTO É' ELEGEM TEMER HOMEM DO ANO

Existe uma máxima no jornalismo que diz que uma foto vale mais do que mil palavras. Esta foto (do ano?) é de ontem (06/12) a noite, ​foi tirada no palco do Citibank Hall, em São Paulo, na entrega do prêmio de homem do ano da revista “Isto É” - a Michel Temer, o presidente que quis que as famílias dos jogadores da Chapecoense fossem ao aeroporto recebê-lo com medo de levar vaias no velório.

Temer disse que “o que o Brasil mais quer hoje é o que chamamos de democracia da eficiência: no serviço público, no serviço privado; além de ética na política”. Alckmin, outro prócer do tucanato presente, logo na abertura, fizera questão de dizer a Temer que ele não estava sozinho, podia “contar com São Paulo”. 

O juiz Sérgio Moro outro homenageado da noite, foi ovacionado pela plateia. Estavam presentes, entre outros tucanos de alta plumagem e afins - o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB); o senador Aécio Neves (PSDB-MG); o prefeito eleito de São Paulo, João Doria (PSDB); e os ministros José Serra (Relações Exteriores), Gilberto Kassab (Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações), Roberto Freire (Cultura), Helder Barbalho (Integração Nacional), Leonardo Picciani (Esporte), Bruno Araújo (Cidades), Alexandre de Moraes (Justiça), e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que ganha 250 mil/mês de aposentadoria do Banco de Boston, onde trabalhou, e quer que os brasileiros trabalhem 49 anos para ter direito a aposentadoria de R$ 5.180,00/mês, no máximo.

Gente fina.

O dos 23 milhões da Suíça ataca o Casal 20! (Reprodução: Twitter)
O dos 23 milhões da Suíça ataca o Casal 20! (Reprodução: Twitter)

Ao elogiar Moro, o anfitrião da festa Caco Alzugaray destacou que o juiz de primeira instância é o líder “do parto de uma nova nação”. Não fez referencia, é claro, ao imenso prejuízo ​que a Lava Jato vem causando há três anos à economia do Brasil real pelo progressivo desmonte da Petrobras (ex-13% do PIB), pela entrega do pré-sal aos estrangeiros e pela quebra das empresas brasileiras de engenharia.

Tudo​ ​a​​ ​gosto dos EUA, do Pentágono e do Departamento de Estado.

Na sua fala Temer proclamou: “O prêmio serve de mobilizador e motivador para que nós salvemos o País”.

Moro, também imbuído no papel de salvador da pátria, dirigindo-se à nata da paulicéia desvairada (como diria ​Mário de Andrade) presente no Citibank Hall, sentenciou por sua vez: “O cidadão pode confiar na Justiça brasileira”.

Vou rezar para o Brizola. 

- Osvaldo Maneschy
(brizolista militante, com muito orgulho!)
Juízes que ferram o PT adoooram o Aecím (Reprodução: Tijolaço)