sexta-feira, 23 de outubro de 2015

O FASCISMO CONTA COM A CUMPLICIDADE DA PM

Neste caso, na Paraíba. Do Viomundo

Professor foi ver ato pró-impeachment, acabou xingado e espancado por fascistas: “Um me aplicou choque, como os torturadores do DOI-CODI. A PM nada fez”

publicado em 23 de outubro de 2015 às 14:19
Natal 4
Na foto à direita, o fascista que aplicou o choque em Daniel Valença, carregando a arma
O dia em que vi o fascismo de perto
por Daniel Valença
Fui ver com meus próprios olhos o ato em Natal pró-impeachment. Eram cerca de 15 manifestantes e mais 10 “seguranças” contratados para “proteger” os bonecos de Dilma e Lula. Como em todo o Brasil, novamente a UJS rasgou os bonecos – o fizeram, aliás, em São Paulo, no Recife e em João Pessoa.
Corri para acalmar a confusão e impedir que os jovens fossem agredidos fisicamente. No meio do caminho, um dos organizadores do ato me aplicou um mata-leão, hora em que perdi meus óculos e celular. A PM assistiu a tudo e nada fez, exceto deter os jovens da UJS que, já algemados, continuaram sendo agredidos física e verbalmente.
Fui cercado por todo esse grupo que berrava “petista!”, “comunista!”, “bandido filho da puta”. Respondi insistentemente que era petista e comunista com muito orgulho e que tinha o direito de sê-lo. Foi então que um manifestante fascista veio por trás e me aplicou um choque elétrico, prática comum aos torturadores do DOI-CODI. Resisti para não cair. Brevemente retomei a consciência e me vi sendo chutado e agredido por pessoas que teoricamente eram jornalistas, até que um amigo finalmente conseguiu me retirar do cerco.
Pela primeira vez, vi o fascismo de perto. Ao contrário daquele das décadas de 1920-1940, não havia uma multidão, contavam-se nos dedos. Mas eram pessoas com muito recurso financeiro, com armas proibidas, com ódio estampado na face, não contra um sujeito, mas contra Ideias, e contavam com a cumplicidade do aparelho coercitivo do Estado.
Há meses, quando tudo isto começou, não faltavam setores no governo e na sociedade para advogar que os atos puxados por “movimentos” pró-impeachment eram democráticos: seriam as inúmeras ocorrências de violência coletiva apenas excessos individuais. Agora que tais “movimentos”, sem identidade nem história, não conseguem mobilizar trinta pessoas para subsidiar o golpe intentado por Eduardo Cunha, o rei se revela nu: é quem lidera tais atos que são os proponentes da violência legitimada, do ódio de classe e preferência política. Eles refletem na sociedade civil o que intentam na política; a retirada do artigo que protegia os movimentos sociais da tipificação do crime de terrorismo por parte do relator do PSDB é um exemplo. O projeto de lei do PSDB que criminaliza a liberdade de cátedra dos docentes, outro.
Marx denunciava que as pessoas aceitam viver numa ordem desumana porque a realidade lhes aparece invertida. Em situações específicas da história, como a que estamos vivendo, isso toma contornos ainda mais intensos. O incipiente fascismo atual transforma o crime em manifestação democrática, o violento agressor em “democrata”, a vítima em “bandido”. Com a cumplicidade dos meios empresariais de comunicação e das forças coercitivas do Estado.
Por fim, gostaria de fazer um apelo. Aqueles que, como eu, têm inúmeras críticas e estão descontentes com a política do segundo mandato da presidenta, ou até mesmo os que defendem o impeachment: não se deixem envenenar. Não se deixem envenenar, porque nas ruas e no parlamento, os que lideram essa tentativa de golpe, usando dos instrumentos mais desonestos, ilegais e violentos possíveis, buscam um projeto de sociedade muito distante do  país soberano, justo e solidário que a maioria dos brasileiros compartilha.
Às dezenas de pessoas que prestaram solidariedade, minha sincera gratidão.
Daniel Valença é professor licenciado do curso de Direito, da Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA), onde leciona  Ciência Política, Trabalho e Ética. Está fazendo doutorado em Direitos Humanos na Universidade Federal da Paraíba (UFPB)).

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