quinta-feira, 15 de outubro de 2015

A CARA DA "EMBAJADA"

Observação: USAID é ramo operativo da CIA



Por Ismael Cardoso, no site da UJS:

A derrocada de Cunha não significa o fim do golpe

05/05/2014 - Posse da nova diretoria da AMCHAM . Fotos Pedro Kirilos
Com a ampla e prolongada crise política no país uma pergunta precisa ser feita: qual força política tem lastro suficiente para manter uma campanha golpista que envolve praticamente todos os setores do judiciário, da polícia federal e da imprensa brasileira?
Nem o PSDB, nem Eduardo Cunha tem tanto poder.
Por isso, a chegada da embaixadora Liliana Ayalde não é fato menor na sinistra trama do golpe contra a presidenta Dilma. A ex-agente do USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional), desde 2012 passou por três países em nosso continente: Paraguai, Bolívia e Brasil.
No primeiro houve um golpe de Estado que derrubou Fernando Lugo da presidência do Paraguai. Na Bolívia, em maio de 2013, a USAID é expulsa pelo presidente Evo Morales, segundo o próprio presidente estavam articulando apoios para um golpe de Estado, “Não precisamos de algumas instituições da embaixada dos Estados Unidos que continuam conspirando contra este processo, contra o povo e, em especial, contra o governo nacional”, declarou Evo Morales.
No Brasil, desde que Liliana desembarcou em setembro de 2013 a temperatura política nunca mais foi a mesma.
Liliana representa uma nova forma americana de patrocinar golpes de Estados pelo continente, desta vez sem a força bruta das armas.
Os golpes são um misto de movimentos sociais, imprensa, judiciário e instabilidade econômica. Tem sido assim na Venezuela, Bolívia, Argentina, Equador e de maneira bem-sucedida no Paraguai.
Paraguai
Trechos de documentos escritos pela embaixadora Liliana Ayalde revelam uma poderosa articulação internacional por trás da direita paraguaia, diz ela em um dos documentos “A presidência e vice-presidência da Corte são fundamentais para garantir o controle político, e os Colorados (oposição a Lugo) controlam esses cargos desde 2004. Nos últimos cinco anos, também passaram a controlar a Câmara Constitucional da Corte”.
O ex-presidente do Paraguai, Fernando Lugo.
O ex-presidente do Paraguai, Fernando Lugo.
Em outro documento de 2009 Liliana teria dito que “nossa influência aqui (Paraguai) é muito maior do que as nossas pegadas”. (clique aqui). Logo após o massacre de Curuguaty o ministério público apresenta na suprema corte uma denúncia contra o governo, na denúncia somente os policiais foram ouvidos.
A suprema corte acolhe a denúncia e indefere dois recursos dos advogados da presidência do Paraguai, em seguida dá um prazo de menos de 17 horas, contando com a madrugada, para a defesa de Fernando Lugo.
No dia 22 de junho de 2013 Fernando Lugo, num processo relâmpago, é destituído da presidência do Paraguai por um crime que não cometeu.
Liliana sai do Paraguai e reaparece na Bolívia onde é expulsa em maio de 2013. Em setembro do mesmo ano é nomeada embaixadora no Brasil.
Brasil
Nas eleições de 2014 o ministério público e a polícia federal influíram, em aliança com a grande imprensa, no processo eleitoral, escancarando uma nova forma de golpes pelo continente, que outrora havia sido tentada na Venezuela, Equador e Bolívia sem sucesso, mas, que foi bem-sucedida no Paraguai.
Despudoradamente, procuradores e delegados envolvidos na operação lava a jato declaravam apoio a Aécio Neves em redes sociais, enquanto vazavam tudo o que diziam e o que não diziam os delatores em relação ao PT e seus aliados.
A operação lava a jato foi deflagrada em 17 de março de 2014, seis meses depois do desembarque de Liliana Ayalde no Brasil.
Não é demais lembrar que operação lava a jato tem trabalhado com a justiça americana para punir as empresas brasileiras. É por essas e outras que devemos nos perguntar se a derrocada de Cunha será a derrocada do golpe.
Polícia Federal + imprensa para tentar desestabilizar o país e influenciar as eleições em 2014.
Polícia Federal + imprensa para tentar desestabilizar o país e influenciar as eleições em 2014.
A ascensão de Eduardo Cunha reforçou enormemente as condições para o golpe, mas, tais tentativas são anteriores a sua ascensão na câmara e continuarão após sua derrocada.
Já em 2014, anunciado o resultado da eleição o PSDB toma uma posição tão inédita quanto tosca, passa a questionar, na justiça, a legitimidade das eleições. O problema é que a mesma urna que elegeu Dilma elegeu todos os parlamentares e governadores tucanos, sendo assim, não era o melhor caminho para o golpe.
Pouco depois, no dia da eleição para presidente da Câmara, FHC publica artigo no Estadão (clique aqui) onde afirma que o caminho para pôr as coisas em ordem é o judiciário e assim, em ordem unida, sua tropa começa a traçar o golpe exatamente como foi no Paraguai.
No dia 03 de fevereiro Ives Gandra apresenta o primeiro parecer “técnico” sobre a possibilidade de impeachment. O parecer de Gandra abre caminho para vários pedidos de impeachment. Uma poderosa batalha tem início no parlamento e se estende até hoje. Em paralelo ao movimento de gabinetes, era precisa criar condições nas ruas, a imprensa começa a dar mais holofotes aos movimentos “sociais” pelo impeachment e a mobilizar gigantescas passeatas por todo o país.
Numa reportagem do jornalista Antônio Carlos na carta capital (clique aqui) é desnudada a origem dos recursos financeiros dos movimentos pró impeachment. Sobre o Movimento Brasil Livre (MBL), por exemplo, é o próprio The Economist que deixa escapar um detalhe interessantíssimo, o movimento foi “fundado no último ano para promover as respostas do livre mercado para os problemas do país”.
Os movimentos de rua, embora tenham arrefecido, deixaram um legado de ódio contra o PT que serve de esteira para a marcha do golpe. Somados a estes movimentos ainda temos duas ações inéditas na justiça brasileira. A primeira é a reabertura de investigação das contas de campanha da presidente Dilma e a segunda é a reprovação das contas do governo pelo Tribunal de Contas da União.
Sendo assim, temos as seguintes frentes de batalha:
1. Polícia Federal, que atua na lava a jato e em outras frentes também, sempre com o intuito de incriminar Lula e Dilma.
2. Ministério Público, assim como a PF, além da atuação na lava a jato tem aberto investigações paralelas, sobretudo contra o ex-presidente Lula.
3. Câmara de deputados.
4. Tribunal Superior Eleitoral.
5. Tribunal de Contas da União.
6. Movimentos de rua pró impeachment.
Sou um dinossauro e acredito que exista imperialismo, por tanto, não acredito em coincidências. Não há no país nenhuma força política com lastro social suficiente para coordenar, de maneira ampla e prolongada, envolvendo quase todas as instituições da justiça brasileira, uma campanha desta envergadura.
É provável que a presidenta Dilma tenha dito, como revelou a Folha de S. Paulo, que aqui não haverá golpe paraguaio. Ela sabe que os acontecimentos são parecidos demais com o Paraguai para serem apenas coincidências.
Enquanto escrevo este artigo, a presidenta Dilma faz discursos duríssimo de denúncia contra os movimentos golpistas no congresso da CUT, parece que finalmente, com a mudança no núcleo duro do governo, a presidenta compreendeu que sem luta não pode haver vitória.
Dilma durante seu discurso no congresso da CUT
Dilma durante seu discurso no congresso da CUT
Dilma, entra em campo para lutar contra golpe até este discurso no congresso da CUT e  não caiu por alguns motivos:
1. Somos a quinta maior economia do mundo;
2. Compomos os Brics;
3. Nosso maior parceiro comercial é a China;
4. O STF, com exceção de Gilmar Mendes, não é a corte suprema do Paraguai;
5. O movimento social tem força. Sem apoio das armas as viúvas da ditadura não têm condições de enfrentar os metalúrgicos do ABC.
Tudo isso entra na conta das forças golpistas que atuam no continente.
O golpe no Brasil precisa ser muito bem feito, não pode ser grosseiro como no Paraguai, com o risco de um gigante de 200 milhões de habitantes entrar num completo caos, algo incontrolável, de repercussão internacional gravíssima.
O movimento golpista é muito maior que o PSDB e Eduardo Cunha, e só uma articulação maior que a recomposição da base parlamentar poderá sepultar de vez a intento golpista no país.
Dilma precisa definitivamente reconciliar-se com o povo. Se Cunha for derrotado na câmara, a próxima batalha será a luta por mudar a política econômica, responsável pela recessão econômica e pelo afastamento do povo em relação ao governo.

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