quarta-feira, 30 de setembro de 2015

VEM VISITAR O BRASIL?

Por Leonardo Sakamoto, em seu blog. Comentários sobre a violência que não consta dos prospectos de turismo.

Vai visitar o Brasil?
Por Leonardo Sakamoto

Meu caro amigo,

Fico muito feliz que esteja vindo ao Brasil para uma visita. E, com a alta do dólar, garanto que você ficará mais feliz ainda.
Você me pede alguns conselhos. Bem, além aqueles de praxe – como não consumir água de origem desconhecida (no caso de São Paulo, isso é fácil porque ela anda em falta) e não dar mole com a carteira se visitar o Congresso Nacional – sugiro outros para garantir uma estada feliz.
Não beije ou ande de mãos dadas com outro cara em público. Em alguns locais, basta saberem que você é gay para levar porrada.
Não saia à rua de vermelho. Se acharem que é comunista, pode levar porrada.
Não pegue Uber. Um grupo de taxistas pode te arrancar fora do táxi e você pode levar porrada junto com o motorista.
Não grite se um carro quase atropelar a sua bicicleta. Carros são sagrados por aqui. Você pode, na melhor das hipóteses, levar porrada.
Não discuta com um policial que foi desrespeitoso contigo. Você pode levar porrada. E ser preso. E, daí, levar mais porrada.
Não visite um terreiro. Um cristão fundamentalista pode estar à espreita e você pode levar porrada na saída.
Avise para a sua irmã para ela não brigar com quem tentar beija-la à força na balada. Ela pode levar uma cotovelada, um soco na cara ou outros tipos de porrada.
Ah, e não venha negro. Sei que você nasceu com essa cor de pele. Mas jovem negro leva porrada no Brasil sem precisar de razão.
Boa parte dos brasileiros foi ensinado que a violência é o principal instrumento de resolução de conflitos. Por falta de instituições públicas ou sociais confiáveis que assumam esse papel, por achar que alguns possuem mais direitos que outros por conta de dinheiro ou músculos, por alguma patologia que nunca consegui entender muito bem mas que deve estar atrelada à falta de abraços de mãe.
Além disso, também temos problemas de memória. Enquanto o país não acertar as contas com o seu passado ditatorial, não terá a capacidade de entender qual foi a herança deixada por ele – na qual estamos afundados até o pescoço, nos define e contribui para uma cultura de agressão.
Espero que aproveite ao máximo a viagem. E não se esqueça: o Brasil é a terra da felicidade e do amor. Basta não tentar subverter a ordem estabelecida.
Abraço forte.
Saka.

EU, TRABALHADOR

Sou "um aposentado".

Aposentei-me aos cinquenta e poucos anos, por um programa de aposentadorias antecipadas incentivadas da CESP, então uma grande empresa de energia,estatal, orgulho de seus funcionários, que por iniciativa do governo de Mario Covas ia ser fatiada e ter seus pedaços vendidos. Já vou chegando aos vinte anos de aposentado.

Eu tinha uma alternativa para o choque da "ociosidade". Pouco tempo antes, fui um dos que ajudaram a dar início ao curso de pós-graduação em energia da USP. Eu e mais alguns colegas da CESP - Pessine, Arlindo, Tadeo, , ajudamos nas aulas e em pesquisas, inclusive ainda sem doutorado, de graça, para que o curso pudesse começar a funcionar. Quem me levou lá foi o professor Sinclair, meu amigo. Ministrei uma disciplina em nome de um dos professores oficiais. Fazer número não era novidade para mim.

No início da década de 1980, inscrevi-me no Partido dos Trabalhadores logo depois de sua fundação, justamente para ser mais um na lista e possibilitar a oficialização. Meu primo Dario, na ocasião, fez graça, dizendo que um partido com esse nome já cansava, que o que precisava mesmo é um partido que ajudasse a gente a trabalhar menos. Brincadeira com um sentido sobre o qual nos dias atuais sempre convém elaborar mais.

Porque a justificação tradicional do trabalho de cada cidadão, como sendo sua contribuição para a sociedade cada vez mais perde base, em todos os três setores da economia. O trabalho é feito mais e mais por equipamentos, liberando o tempo, a inteligência e a energia das pessoas. Naturalmente alguns são constrangidos a trabalhar mais: na China (que só recentemente começou a mudar nesse aspecto), e nas fronteiras do neoliberalismo: Índia,  as maquilas do México, El Salvador, Honduras, para onde migra o capital dos donos do mundo e seus compradores de trabalho barato. 

Agora, questiono novamente, nestes dias, minha condição de desempregado. É preciso também questionar essa palavra, desempregado. Ou melhor, separar os entendimentos relativos a emprego, ocupação e atividade. Eles são coisas diferentes, embora na vida da gente haja um período em que eles são fundidos num todo único.

Tenho um cargo, no condomínio onde vivo, e há alguns anos perdi a posição no Instituto da USP onde exercia várias atividades ligadas ao ensino. Não considero como trabalho minhas atividades atuais . Trato atualmente de retomar o acompanhamento das novidades na ciência e na tecnologia, das políticas brasileira e internacional. Trato também de manter minha posição política contra o conservadorismo do país.

Escritores, pelos critérios correntes da sociedade de classes, são vagabundos, mais ainda do que professores universitários. Tem aquela imagem de parte desses senhores sentados em uma mesa de bar o de um café, com papel e caneta, ou um notebook na mão. Por um certo tempo, acertei com meus botões que eu era um escritor, já que escrivo este blog, que é lido por algumas pessoas, além dos robozinhos de algumas grandes potências (principalmente os EEUU).

Na realidade, o que sempre quis fazer é me emancipar, mesmo não sabendo definir tudo o que isso signifique. Deixar de depender de um patrão para ganhar a vida faz parte. Viver livre de disciplinas que não sejam absolutamente necessárias, também. Isso implica em defender a emancipação também dos outros seres humanos. E mais alguma coisa que você imagine.



SABE A TELEFÔNICA, VIVO, ETC., E SEUS SERVIÇOS MARAVILHOSOS?

Trazidos pela privatização feita no limite da irresponsabilidade? Que tal agir contra o mau atendimento? Não acredito muito que hoje em dia seja possível usar o jurídico para enfrentar essas corporações, mas o artigo é interessante. Do  site Jus Brasil, por sugestão do Eder Krausz

Indenização pela perda do tempo livre

Publicado por Josiane Coelho Duarte Clemente - 2 dias atrás
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Juridicamente falando, o decurso do tempo é um fato jurídico em sentido estrito, ou seja, acontecimento natural capaz de gerar efeitos no mundo do Direito, sendo fonte de direitos e obrigações.
Na era da globalização a expressão de Benjamin Franklin ‘tempo é dinheiro’, mais do que nunca, condiz com a realidade social. As pessoas não têm tempo a perder!
A falta de tempo para se viver bem é um problema para nossa sociedade, pois as pessoas são diariamente obrigadas a correr contra o relógio, numa busca frenética por melhores condições de vida, com bons salários, o que as levam a estudar, trabalhar e, ainda, manterem-se atualizadas com as notícias do país e do mundo que são diuturnamente despejadas nos diversos meios de comunicação.
Diante de tamanha ‘falta de tempo’, ao ser humano não foi concedida outra opção, haja vista que necessita se adequar e cumprir todos os seus compromissos diários nas ‘míseras’ 24 horas que lhe são dadas, aqui incluídas as atividades destinadas à satisfação pessoal. Não temos tempo a perder!
Sabe aquela ligação no call center ou SAC (serviço de atendimento ao consumidor) de uma companhia de telefonia/água/energia elétrica que dura horas a fio e no final das contas, depois que você falou com inúmeros atendentes, seu problema não foi resolvido? Ou então quando precisamos ficar várias horas em filas de bancos, supermercados, ou qualquer outro local que preste serviço ao consumidor, simplesmente perdendo tempo porque a empresa não disponibilizou atendentes suficientes? Então...
O dever de indenização pela perda do tempo livre se configura em situações intoleráveis, em que há desídia e desrespeito aos consumidores, que muitas vezes se vêem compelidos a sair de sua rotina e perder o tempo livre para solucionar problemas causados por atos ilícitos ou condutas abusivas dos fornecedores ou, ainda, aguardando em filas de atendimento.
É tolerável que diante da vida atribulada em que vivemos determinados prestadores de serviço ou fornecedores de produtos, nos faça desperdiçar nosso tempo?
Seria mero aborrecimento a perda de um período ou do dia inteiro de trabalho, com o desconto de referida verba salarial (afinal perder tempo na fila de um banco, por exemplo, não isenta o empregado de sofrer referido desconto) ou, ainda, ser privado de um maior convívio familiar pelo fato de ter que esperar várias horas atendimento em estabelecimentos comerciais/bancários?
Como é sabido, as empresas possuem obrigação de cumprir sua função social e um dos aspectos desse dever converge com o respeito ao cliente, atendimento apropriado e em lapso temporal aceitável.
A expressão função social traduz a “idéia de um poder que não se exerce exclusivamente no interesse próprio, mas também em relação à coletividade” (CAVALLAZZI FILHO, Túlio. Função social da empresa e seu fundamento constitucional. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2006, p. 103).
Em situações específicas, em que seja comprovada sua gravidade, defendo a ocorrência de dano moral indenizável, o que cumprirá os aspectos compensatório, punitivo e pedagógico da responsabilidade civil.
Nesse sentido leciona Leonardo de Medeiros Garcia citado por Guglinski:
“Outra forma interessante de indenização por dano moral que tem sido admitida pela jurisprudência é a indenização pela perda do tempo livre do consumidor. Muitas situações do cotidiano nos trazem a sensação de perda de tempo: o tempo em que ficamos “presos” no trânsito; o tempo para cancelar a contratação que não mais nos interessa; o tempo para cancelar a cobrança indevida do cartão de crédito; a espera de atendimento em consultórios médicos etc. A maioria dessas situações, desde que não cause outros danos, deve ser tolerada, uma vez que faz parte da vida em sociedade. Ao contrário, a indenização pela perda do tempo livre trata de situações intoleráveis, em que há desídia e desrespeito aos consumidores, que muitas vezes se veem compelidos a sair de sua rotina e perder o tempo livre para soluciona problemas causados por atos ilícitos ou condutas abusivas dos fornecedores. Tais situações fogem do que usualmente se aceita como “normal”, em se tratando de espera por parte do consumidor. São aqueles famosos casos de call center e em que se espera durante 30 minutos ou mais, sendo transferido de um atendente para o outro. Nesses casos, percebe-se claramente o desrespeito ao consumidor, que é prontamente atendido quando da contratação, mas, quando busca o atendimento para resolver qualquer impasse, é obrigado, injustificadamente, a perder seu tempo livre. (fonte:http://jus.com.br/revista/texto/21753/danos-morais-pela-perda-do-tempo-util-uma-nova-modalidade. Acesso em 25/09/2015).
Diversos tribunais brasileiros têm acatado a tese da perda do tempo útil, dentre eles o Colendo Superior Tribunal de Justiça – STJ, sendo, ademais, jurisprudência recorrente no Egrégio Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, nos seguintes termos:
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. INOCORRÊNCIA DE VIOLAÇÃO DOS ARTS. 165 E 458 DO CPC. FORNECIMENTO DE ÁGUA. CONFIGURAÇÃO DO DANO MORAL. (...). O apelo nobre obstado enfrenta acórdão, assim ementado (fl. 182): APELAÇÃO CÍVEL.AÇÃO INDENIZATÓRIA. RELAÇÃO DE CONSUMO. FALHA NA PRESTAÇÃO DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA. RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR. ARTIGOS 14 E 22 DO CDCSENTENÇA QUE CONDENOU AO PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. RECURSO DA PARTE RÉ PARA EXCLUSÃO DO DANO MORAL E ADESIVO DA PARTE AUTORA PARA INCLUSAO DO DANO MATERIAL. DANO MORAL CONFIGURADO. PERDA DE TEMPO ÚTIL PARA TENTAR, EM VÃO, RESOLUÇÃO DO PROBLEMA. INOCORRÊNCIA DO DANO MATERIAL. (...). Contudo, houve desgaste da parte autora ao tentar solucionar o problema, o que demandou tempo gasto, se sentiu humilhada, diminuída, a gerar, independentemente de prova, dano moral passível de indenização. Para casos tais, a indenização, além de servir como compensação pelo sofrimento experimentado, deve também ter caráter pedagógico-punitivo de modo a desestimular condutas semelhantes. (...). Ante o exposto, nego provimento ao agravo em recurso especial. (STJ, Relator: Ministro BENEDITO GONÇALVES AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 725.701 - RJ (2015/0137103-2). AGRAVANTE: COMPANHIA ESTADUAL DE ÁGUAS E ESGOTOS - CEDAE ADVOGADOS: JAYME SOARES DA ROCHA FILHO E OUTRO (S) GISELLE MICHELLI FOGLIANI AGRAVADO: MAURO ALTOE AGRAVADO: ROSILENE DE OLIVEIRA ALTOE ADVOGADO: LEONARDO VIANNA MATHIAS NETTO E OUTRO (S)). (Sem grifo no original);
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. RELAÇÃO DE CONSUMO. FALHA NA PRESTAÇÃO DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA. RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR. ARTIGOS 14 E 22 DO CDC. SENTENÇA QUE CONDENOU AO PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. RECURSO DA PARTE RÉ PARA EXCLUSÃO DO DANO MORAL E ADESIVO DA PARTE AUTORA PARA INCLUSAO DO DANO MATERIAL. DANO MORAL CONFIGURADO. PERDA DE TEMPO ÚTIL PARA TENTAR, EM VÃO, RESOLUÇÃO DO PROBLEMA. INOCORRÊNCIA DO DANO MATERIAL. RÉ QUE REFATUROU AS FATURAS PARA COBRANÇA PELA TARIFA MÍNIMA. RECURSOS A QUE SE NEGA SEGUIMENTO, NA FORMA DO ARTIGO 557, CAPUT, DO CPC. (TJ-RJ - APL: 00349544120128190004 RJ 0034954-41.2012.8.19.0004, Relator: DES. GILBERTO CLOVIS FARIAS MATOS, Data de Julgamento: 26/02/2015, VIGÉSIMA TERCEIRA CÂMARA CIVEL/ CONSUMIDOR, Data de Publicação: 06/03/2015 18:26) (Sem grifo no original);
Por fim, diante da jurisprudência transcrita, certo que o dano injusto ao consumidor caracterizado pelo comprovado desperdício do seu tempo livre, diante da ineficácia dos fornecedores de bens ou serviços, impõe sua condenação na reparação civil do lesado, haja vista a caracterização do dano moral pela perda do tempo livre.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

ALGUNS POLÍTICOS (AS) ABUSAM DA CREDULIDADE ALHEIA

O exemplo de hoje é Marta Suplicy, ao aderir ao PMDB para concorrer à prefeitura de São Paulo em 2016. Saiu no portal Forum

Ivan Valente: Discurso de Marta é chocante e contraditório

setembro 28, 2015 10:23
“Falando para uma mesa repleta de caciques do PMDB, grande parte formada por investigados na Lava Jato e processados pelo STF por incontáveis malfeitos, Marta falou que ‘é preciso acabar com a corrupção no Brasil’. Classificou Eduardo Cunha como um líder ‘focado e determinado’ e que Sarney ‘deu ao Brasil a Constituição Cidadã’”, criticou o deputado federal do PSOL
Do Facebook do deputado Federal Ivan Valente
Marta Suplicy no PMDB
Tem razão os petistas que de coração, por história, sonhos e participação se decepcionam, criticam e não aguentam pagar a conta dos desvios, do carimbo da corrupção e do estelionato eleitoral do partido em relação às suas propostas originais ou promessas de campanhas. Tem direito de buscar outras opções. Mas quais escolhas?
O caso da senadora Marta Suplicy é paradigmático. Ela sempre pertenceu à cúpula partidária e de governos do PT. E foi bem aquinhoada com porções de poder e apoio do partido. É um direito seu romper com o PT e atacar os erros cometidos por esse partido. Mas, o discurso de Marta aos seus novos correligionários na sua filiação ao PMDB no TUCA em São Paulo, é chocante, contraditório e mostra que coerência é artigo raro na política brasileira.
Falando para uma mesa repleta de caciques do PMDB, grande parte formada por investigados na Lava Jato e processados pelo STF por incontáveis mal feitos, Marta falou que “é preciso acabar com a corrupção no Brasil”. Classificou Eduardo Cunha como um líder “focado e determinado” e que Sarney “deu ao Brasil a Constituição Cidadã” arrematando que Sarney é um “gigante da política”. Foi adiante afirmando que Michel Temer “vai unificar o Brasil”, prenunciando o impeachment. A plateia do teatro respondeu com: “um, dois, três, quatro, cinco, mil, Marta em São Paulo e Michel no Brasil”.
Sem comentários!
As imagens e as palavras falam por si mesmas!
Ivan Valente – Deputado Federal do PSOL/SP

sábado, 26 de setembro de 2015

A LAVA JATO TEM LADO

Por Luis Nassif, no Jornal GGN

A Lava Jato tem lado

Há um grande mérito na Lava Jato e uma grande interrogação.
O mérito foi o de ter, pela primeira vez, investigado uma das fontes centrais históricas do poder político brasileiro: as grandes empreiteiras de obras públicas.
A dúvida é o filtro político que impôs às investigações.
Para tentar entender:
1. A Lava Jato pretendia manter sob suas asas todos os inquéritos resultantes das delações negociadas até agora.
2. Há personagens centrais na Lava Jato: do lado dos beneficiários, gerentes e diretores da Petrobras e operadores do PT e do PMDB. Do lado dos pagadores, as empreiteiras.
3. A Lava Jato derivou para o setor elétrico, apurando os desvios da Eletronuclear. 
4. Ora, o que Petrobras e Eletrobras têm em comum, para permitir à Lava Jato avançar sobre o setor elétrico? As mesmas empreiteiras.
O ponto em comum que unifica tudo são as empreiteiras, seu modo de operar, seus subornos e financiamentos de campanha.
Sendo assim, qual a razão da Lava Jato ter deixado de fora governos tucanos?
A maior contribuição da UTC foi para a campanha de Aécio Neves. A grande obra da UTC em Minas foi o Centro Administrativo.
Em São Paulo, as mesmas empreiteiras participaram de obras do Rodoanel e das parcerias para administrar as estradas paulistas.
E nenhum dos bravos delegados e procuradores, o imbatível juiz Sergio Moro tiveram a curiosidade de indagar sobre o financiamento à campanha de Aécio e para políticos paulistas?
Tem lógica? Não tem. Não há embasamento técnico ou jurídico que possa justificar a desatenção do grupo em relação aos malfeitos dos réus com governos tucanos.
Na fase das investigações, especialmente ao colher os depoimentos dos réus e delatores, todos os temas relacionados às suspeitas de suborno por parte das empreiteiras são relevantes. Se surgirem indícios de cometimento de crimes em outras esferas, encaminha-se a denúncia para o STF (Supremo Tribunal Federal) (se for de réu com prerrogativa de foro) que decidirá se cabe um novo inquérito ou se a investigação será no bojo do mesmo.
Se a intenção é passar o país a limpo, qual a razão, tendo ao seu dispor pessoas dispostas a delatar, a Lava Jato não abriu seu leque para todos os partidos? A desculpa de não perder o foco não bate.
Por tudo isso, pelo fato do Procurador Geral da República Rodrigo Janot ter poupado Aécio Neves das  denúncias do doleiro Alberto Yousseff sobre Furnas, de jamais ter tirado da gaveta o inquérito sobre a conta no paraíso fiscal de Liechtenstein, pelo fato de procuradores e delegados jamais terem se preocupado com a questão óbvia de investigar outros partidos políticos, não há a menor dúvida de que a Lava Jato tem lado. O mesmo lado de Gilmar Mendes.
Os bravos procuradores sequer se preocupam em justificar essa seletividade, como se o assunto não existisse.
Mas há um cadáver no meio da sala de jantar. E não haverá como escondê-lo para sempre.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

O HERÓI SERGIO MORO

Por Fernando Brito, no Tijolaço

Sérgio Moro e a gula de seu complexo de herói

joamoro

Hoje, na coluna Painel, da Folha, de novo Sérgio Moro se compara a Giovani Falcone, um dos juízes da Operação Mãos Limpas.

No debate com empresários do Lide (Grupo de Líderes Empresariais), nesta quinta, o juiz Sergio Moro foi questionado por João Doria Jr, que dirige o grupo:
–Com tantas pressões, o senhor está preparado para resistir até o fim das investigações da Lava Jato?
–Quando estou em um momento de grande dificuldade, lembro do juiz Giovanni Falcone.
O juiz italiano que conduziu os processos contra a máfia acabou sendo assassinado em 1992.
–O buraco em que ele se encontrava era muito mais fundo do que o meu. Então, sigo em frente –concluiu Moro, para aplausos dos convidados.
É a enésima vez, e já há muitos anos segue ele neste caminho, que Moro  se encarna nos juízes italianos que provocaram um terremoto naquele país, do qual emergiu, como produto da “moralidade”, a figura triunfal de Sílvio Berlusconi, seu autoritarismo, suas orgias e seu poder “afacistado”.

Deixo de lado a óbvia prudência que mandaria um juiz equilibrado, nas circunstâncias em que está Moro, de abster-se de um convescote numa platéia de grandes empresários – onde talvez estivessem os que ele prendeu em Curitiba, não o tivesse feito – regidos por um candidato declarado e lançado à prefeitura da maior cidade brasileira. Moro se atrai pelas luzes feéricas, alimento essencial para os que sofrem desta “mania heroica” que acomete o juiz do Paraná.

Porque o desejo de ser admirado como um ser único, especial, uma rara emanação divina faz isso com as pessoas. É ruim para qualquer ambiente. É tentador quando se é juiz. É perigosíssimo quando se é um juiz em casos de notórios e imensos interesses políticos e econômicos que dependem de suas decisões.

Desde o início desta operação – e a presença “casual” de um réu e delator sob seu poder há quase duas décadas, Alberto Youssef, faz com que se tenha o direito de situar este início em marco muito, muito distante – Moro age de forma a ser o único a controlar as investigações, as informações e os destinos dos acusados (ou daqueles que, claro, adiante conseguirá acusar).

A tal ponto que o mais feroz rottweiller da matilha conservadora, Reinaldo Azevedo, o repreende: “Mais de uma vez, vimos o juiz Sergio Moro parar um depoimento para que a pessoa ouvida não citasse um político com mandato, o que o obrigaria a mandar o caso para o STF. Para manter a investigação sob sua jurisdição, orientava o depoente a não citar nomes de políticos.”

Como não hesitou em praticar todo o tipo de exagero, para colher do simbolismo de sua dureza o reconhecimento geral de que era “um juiz diferente”, não destes que são prudentes e interpretam a lei com cautela para que de sua própria interpretação não lhe venham violações e injustiças eventuais. E não apenas o prazer, mas o alimento essencial do herói: a vaidade.

Não resisto a transcrever o texto – certamente não escrito pensando em seu caso – de Inês Bastos, voltado para questões psicanalíticas:

O herói extrai alegria da tristeza do outro, ele se sente bem se provar que o outro é mau. O herói, deste modo, peca por excesso, sente-se o único responsável pelo que está ocorrendo à sua volta e, por isso, assume mais do que pode cumprir. Ele se insurge contra a realidade e vai além do que lhe é possível. Se na postura de vítima nos negamos, na postura de herói nós negamos o outro, sentimo-nos o único sujeito da relação humana e consideramos as outras pessoas como objetos.
O herói se coloca em nível superior ao das outras pessoas, escondendo um profundo sentimento de inferioridade. É o todo poderoso, o que sabe tudo, o que sempre tem razão, o imbatível, o melhor. É aquele que perdeu a simplicidade de estar no mundo, é o que não sabe e não sabe que não sabe; daí, a sua dificuldade em aprender. Supõe saber tudo e perde com isso a capacidade de perguntar, a capacidade espontânea de fazer perguntas, de perguntar o que não sabe.
Em contrapartida, seu comportamento é sempre o de ensinar, de julgar, de analisar e de orientar os outros. É o dono da verdade. Por isso, nunca diz: “Eu não sei”. Nunca pede ajuda. Ele se julga como padrão dos outros e se relaciona com o mundo através de uma avassaladora programação de dogmas, de verdades feitas, porque as pessoas serão boas, honestas, verdadeiras, inteligentes,[somente] se coincidirem com o seu modo de pensar, de sentir e de agir.


O Dr. Moro está diante de um dilema.

Ouviu-se, de maneira muito clara, a voz do Supremo Tribunal Federal, por maioria muito ampla e, certamente, ciente o que seu pronunciamento representou e representa, inclusive da repercussão em frustrações e gemidos da República do Paraná.

Pode reavaliar se quer participar, como um dos protagonistas, de um processo de estabelecimento de novas situações de moralidade pública de que o Brasil precisa, mas dentro de um quadro de normalidade, sem  qual a moral é uma fúria insana.

Ou pode ceder à fúria da vaidade ofendida, da divindade falha, da obsessão frustrada, do herói contestado Do homem que perde uma guerra por não aceitar a derrota em uma batalha na qual se portou de forma insana.

Se o Dr. Moro soubesse olhar, veria que, na história judicial brasileira, há um recentíssimo exemplo do esquecimento que se reserva aos que aspiraram ser heróis assim.

Joaquim Barbosa, reduzido a jurista de Twitter, tão apagado agora quanto brilhante quando tinha serventia aos deuses.

UMA NOS FOCINHOS DOS COXINHAS

Combater o financiamento de eleições por empresas faz parte do caminho certo para controlar mais a corrupção. Claro que o capital sempre acha caminhos para se apoderar do espaço público, mas fechar um deles, importante como tem sido, é um feito nada pequeno. Veja o comentário do Paulo Nogueira, do DCM, sobre o veto da Dilma ao projeto do Cunha e seus correligionários. O deputado que aparece em primeiro plano, o Ivan Valente, é o deputado em quem votei, com muito orgulho. Ele, comigo e meia dúzia de gatos pingados, faz parte dos ex-alunos da Escola Politécnica da USP que permanecem de esquerda. Viva Ivan!


O fim do financiamento privado é mais importante que Moro e Lava Jato para combater a corrupção. Por Paulo Nogueira



Postado em 25 set 2015
Bingo
Bingo
Sabe este Congresso-lixo que temos?
Pois é.
É o pior Congresso que o dinheiro pôde comprar.
Por isto tem que ser amplamente saudado o veto de Dilma ao financiamento privado de campanhas. Porque é assim, com o dinheiro torrencial que as empresas colocam em candidatos que vão depois defender seus interesses, que se montou este Congresso que joga o Brasil para trás.
O financiamento privado de campanhas é a forma como a plutocracia toma de assalto a democracia.
As corporações enchem de dinheiro, para suas campanhas, figuras como, para ficar num caso exemplar, Eduardo Cunha.
E depois vem a fatura.
Porque não é um dinheiro dado, ou doado. É um dinheiro friamente investido, como numa decisão de negócios.
Se o candidato não corresponde às expectativas, ou seja, se não faz o que as empresas querem que ele faça, adeus. Não mais dinheiro, não mais eleições, não mais mamatas, não mais privilégios.
Se você rastrear as decisões dos políticos verá a íntima conexão delas com os milhões que receberam de seus financiadores.
O veto de Dilma é um passo gigantesco para a moralização do Brasil.
O dinheiro privado de campanhas está na raiz da corrupção. É a fonte primária a partir da qual a corrupção se espalha.
Tão combatida, Dilma vai passar para a história como o ocupante do Planalto que fez enfim uma mudança vital na estrutura política, partidária e social do Brasil.
Ela teve um mérito lateral no processo.
Colheu os frutos de um STF ao qual ela deu ares decentes, com o ingresso de magistrados como Teori e Barroso, para não falar de Fachin.
Este STF é imensamente superior àquele que fez circo no Mensalão. Aquele certamente não teria aprovado o fim do financiamento privado porque teria medo de incorrer no medo da mídia.
Gilmar Mendes, que era um dos símbolos daquele STF, hoje é uma voz isolada.
Ele fracassou em sua miserável chicana para manter o financiamento privado. Segurou, para uma vista de fancaria, por mais de um ano um processo no SFT quando a contagem de votos já mostrava a decisão que afinal seria tomada.
Curioso que, agora, ele tenta desesperadamente retomar o processo no STF, sob argumentos tão bisonhos quanto os apresentados por Eduardo Cunha para realizar novas votações quando derrotado na Câmara.
Muito mais que a Lava Jato, muito mais que Sérgio Moro, o fim do financiamento privado é vital para a redução da corrupção a níveis decentes.
E isto se deu em 2015, ano de martírio para Dilma – e também de glória por essa mudança que haverá de devolver o Congresso ao povo e tirá-lo da plutocracia que o ocupou com suas moedas.