segunda-feira, 22 de junho de 2015

A VIAGEM DOS PATETAS DIREITISTAS À VENEZUELA

Do Jornal GGN

A internacionalização da direita nos trópicos, por Suhayla Khalil

A internacionalização da direita nos trópicos, por Suhayla Khalil
A ida da comitiva de senadores brasileiros encabeçada por Aécio Neves, do PSDB, à Venezuela me fez lembrar da viagem de Richard Nixon ao país, em 1958, quando este ainda era vice-presidente dos Estados Unidos. Os episódios guardam alguma semelhança. Então como hoje, as delegações foram recebidas com fortes doses de hostilidade nas ruas de Caracas. Nos dois casos, o repúdio à visita veio de manifestações populares e não do governo instituído. Ambos também demonstraram uma sucessão de erros e provas de desconhecimento em relação à Venezuela e, em última análise,  aos países da região, mas que procuraram ser canalizados de forma positiva pelos integrantes das delegações nos seus países de origem.
Primeiramente, a visita não tinha caráter diplomático e é preciso lembrar que o sistema internacional tal qual é concebido desde a Paz de Westfália até os dias de hoje é um sistema de Estados alicerçado no princípio da soberania. Dessa forma, os esforços de mediação de qualquer crise política interna devem ser realizados com a anuência do governo e/ou com a utilização dos recursos de estruturas de cooperação internacional. No caso da Venezuela, isso já vem ocorrendo no âmbito da Unasul. O secretário da Unasul, o colombiano Ernesto Samper, nomeou uma delegação integrada pelos ministros de Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, da Colômbia, María Ángela Holguín, e do Equador, Ricardo Patiño, para promover a aproximação entre a ala governista e a oposição na Venezuela.
A visita dos senadores, da forma que foi realizada, mostrou certa arrogância e desconhecimento da lógica de funcionamento das relações internacionais. Falas de parlamentares, como Aloysio Nunes, que comentam que o pleito de excluir Venezuela do Mercosul deve ser levado à Organização dos Estados Americanos, demonstram o profundo desconhecimento dos legisladores brasileiros em relação aos processos internacionais.
Nesse sentido, a visita pirotécnica mais atrapalha do que ajuda. Manobras equivocadas como essa polarizam ainda mais a crise interna venezuelana e ameaçam as relações entre Brasil e Venezuela, além de colocarem em risco a própria integração regional. Não à toa, nos rememora o caso do diplomata Eduardo Saboia, que, contrariando ordens superiores e normas internacionais, trouxe clandestino para o Brasil o senador boliviano Roger Molina. Digo não à toa, porque Saboia também embarcou nessa nova aventura juntamente com os senadores brasileiros, já que foi descoberto que ele compunha a comitiva a Caracas. Ambos os casos puseram o governo brasileiro em uma saia justa nas suas relações externas.
Vale lembrar que o processo de institucionalização da cooperação regional é recente na América Latina e deve ser cuidado. Além disso, tal tipo de atuação reforça o discurso nada desejável de que o Brasil é um país imperialista em seu entorno regional. Assim sendo, a oposição brasileira agiu de forma muito mais auto-interessada, de forma a capitalizar o ensejo para lograr visibilidade interna e internacional, e ignorou os interesses nacionais defendidos por nossa política externa. Vale lembrar que a Venezuela é um dos nossos principais parceiros comerciais. Também é um dos principais vendedores de petróleo para os Estados Unidos, que, até hoje, nem de longe interromperam os fluxos comerciais com o país. Ademais, o processo de integração regional tem sido uma prioridade do governo brasileiro desde a redemocratização e tratada como política de Estado.
Por fim, quanto à expulsão da Venezuela das instituições regionais, é preciso ter em mente algumas ponderações. Um primeiro problema a ser enfrentado é o de que a cláusula democrática do Mercosul é bastante abrangente e não há critérios claros para a definição de regime democrático. Ou seja, temos uma questão de ordem processual a ser enfrentada. Em segundo lugar, a História já provou que a expulsão de membros não é a melhor decisão política. Na verdade, a exclusão demonstra uma inaptidão e a falta de legitimidade das instituições regionais para cuidar de suas crises internas.
Suhayla Khalil é Doutora em Relações Internacionais e professora da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo)

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