segunda-feira, 13 de outubro de 2014

PARA OS PRECONCEITUOSOS, POR UM NORDESTINO

Também do Viomundo

Marcos Pedrosa: Sem mercado nordestino, não haveria crescimento

publicado em 11 de outubro de 2014 às 14:29
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Marcos Pedrosa, de camisa azul, ao lado dos irmãos e da mãe diante da casa da família. Recentemente, ele reencontrou a irmã gêmea Sophie, que foi dada pela mãe a uma familia adotiva francesa quando tinha seis meses de idade, no momento em que a família enfrentava grandes dificuldades econômicas no interior do Ceará

por Marcos Pedrosa*

Cotidianamente nós nordestinos somos sujeitos ao preconceito e à indiferença de paulistas e sulistas. Sofremos com uma espécie medíocre de xenofobia.
Num país que se diz “livre de preconceitos”, ficou claro depois do primeiro turno das eleições presidenciais que não é bem assim. Os fortes ataques e as críticas aos nordestinos foram vergonhosos.
Repudiamos qualquer ato, frase e palavra dita por elitistas preconceituosos.
Por que as ofensas?
Apenas por termos cultura e sotaques diferentes?
Deve ser ruim ver uma região que você sempre qualificou como “lixo” mover a economia de seu país consideravelmente.
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Marcos tem razão: crescimento do Norte e do Nordeste puxa o do Brasil. Gráfico do Brasil Debate

Uma região tão pobre, que só tem a “fome e a seca” aos olhos dos preconceituosos, não para de crescer. Movemos a economia de tal maneira que sem a nossa presença as indústrias do Sul e Sudeste não teriam mercado para produzir e crescer. Seus lucros não existiriam e suas vidas não seriam as mesmas.
Democracia supõe que todos tenham liberdade de escolher de acordo com o seu discernimento o que acha melhor para o país.
Reclamam das escolhas feitas pelos nordestinos enquanto fazem algumas no mínimo contestáveis. Por exemplo, votam em quem governou sem um planejamento hídrico e, consequentemente, os deixou sem água. Votam em alguém para “protestar” e o elegem por duas vezes com mais de um milhão de votos — justamente um nordestino.
Quanto ao suposto déficit de conhecimento, é bom lembrar que nos vestibulares mais difíceis do país os nordestinos se destacam. No do ITA, o Instituto Tecnológica da Aeronáutica, o domínio cearense é acachapante. No IME, o Instituto Militar de Engenharia, é a mesma coisa. Em premiações nacionais e internacionais, em todas as áreas, há sempre nordestinos contemplados e parabenizados pelo ótimo desempenho.
Peço desculpa por morarmos no local onde geralmente vocês tiram férias. Somos receptivos, cheios de alegria, temos costumes e jeitos que nos diferenciam de outros brasileiros. Nossas praias são as mais belas do mundo. O que falar dos Lençóis Maranhenses, dos recifes de corais, de Fernando de Noronha e de outras atrações com que fomos agraciados pela geografia?
O povo nordestino exige respeito. Por que não respeitam os conterrâneos de Ariano Suassuna, José de Alencar, Jorge Amado, Nelson Rodrigues, Rachel de Queiroz, Clarice Lispector, Graciliano Ramos, Manuel Bandeira, Caetano Veloso, Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Fágner, Raul Seixas, Padre Cícero, Clóvis Beviláqua e muitos outros?
Pior que a falta de informação é a vergonha moral de querer mostrar-se superior e, ao fazer isso, se tornar inferior como pessoa.
Exigimos respeito ao “oxente” baiano, ao “eita” de Pernambuco, ao “arriégua” dos cearenses, aos sotaques arretados de potiguares e paraibanos, à hospitalidade de sergipanos, maranhenses e alagoanos, aos bravos e batalhadores piauienses.
No Nordeste não há pessoas de vida mansa — e sim aqueles que sempre lutaram e continuarão lutando pelo crescimento de nossa região.
Há em cada canto do mundo um nordestino orgulhoso por ter nascido numa região tão maravilhosa.
Revisado e editado por Kathia Janaina
*Marcos Pedrosa, de uma família extremamente humilde de Itapajé, no interior do Ceará, será o primeiro da família a tirar diploma universitário. Vai se formar engenheiro elétrico na Universidade Federal do Ceará, campus de Sobral, criado durante o governo Lula

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