sábado, 6 de setembro de 2014

E O AVIÃO EM QUE EDUARDO CAMPOS MORREU?

O texto é até um pouco comprido, mas bem escrito pra chuchu, com mente aberta e com paixão por Alípio Freire. Em posts anteriores, abordei muitas das questões que estão aqui, mas o artigo do Alípio, que foi combatente contra a ditadura civil-militar do Brasil, coloca tudo dentro de uma exposição que mostra bem claramente o(s) método(s) atrás dos fatos.


Depois da queda
 
02.09.2014
Site Brasil de Fato
 
Alipio Freire
 
O grande capital internacional, a direita e os oportunistas nativos querem comemorar
os 50 anos de 64, com um novo golpe.
 
 
 
 
Não há mais o que esconder.
Todos os motivos nos levam a não mais usar meias palavras: a queda do Cessna que levava o candidato do PSB à Presidência da República foi um atentado. O ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, foi assassinado.

A grande mídia comercial do Brasil, bem como a internacional, enterrou o assunto - festejam o crescimento da emergente Marina Silva como cabeça de chapa, e não se perguntam sobre a "providência divina" que causou a queda do avião. Um acidente sem motivos é o dogma. Pelo menos até que venha a público (nos próximos 30 dias) o laudo da Comissão responsável pelas investigações. Depois disto - quando o laudo "comprovar" o dogma, este passará a ser uma verdade científica. 
(Orai por nós, doutor Augusto Comte. Orai, pois é muita bandeira. É overdose de "Ordem e Progresso")
 
Se assim for, ao fim e ao cabo restará uma pergunta retórica ficcional, do tipo:
Eram os deuses astronautas?
Quem matou Odete Roithman?

 Passados 20 dias do desastre, ninguém mais discute sua origem, ou busca uma explicação. Aliás, a data do "acidente" foi muito bem escolhida: 13 de agosto - infelizmente para os organizadores do sinistro, não era uma sexta-feira. Mas 13 de agosto, por si só, já é "um dia de azar", üm dia aziago" - e tudo poderá ficar explicado através do mágico: talvez uma ação de "forças espirituais nefastas" soltas pelo espaço, como a Aeribu Airlines, a Aerocorbeau Airlines, ou a Aircrow Airways: urubus e corvos, batendo ponto em cumprimento da malfazeja data - embora o sinistro melhor se assemelhe às ações da Condor Airways. 
 
E mais: o número 13 é também o número do Partido dos Trabalhadores.
 
Imaginem se o vice do candidato Eduardo Campos fosse do PT, o alvoroço que estaria na grande mídia comercial? Diariamente manchetes...
 
Alguém acredita num acidente sem mandantes, no caso do avião da Malaysia Airlines?

Alguém é capaz de acreditar que o avião da Air Malasya teria caído por influência de forças espirituais maléficas, ou apenas em consequência do Desejo Divino? 
Terá o Divino desejos que - alimentados por sádicos fetiches - exigem sangue e fogo? 
Bem se vê que não somos versados em divindades.
 
A quem servem os dois acidentes?
Certamente aos mesmos senhores.

Que controle tem o Governo brasileiro, os partidos de matriz de esquerda (especialmente PT e PSB) das intermináveis investigações sobre a causa do "acidente", das explosões de um avião cuja caixa preta nada gravou? Que controle tem a Nação (especialmente os trabalhadores e o povo, que formam sua imbatível e esmagadora maioria) de uma equipe acrescida de "técnicos especialistas dos EUA", que leva a cabo os trabalhos para verificar as causas da queda do Cessna e, sobretudo, da veracidade do laudo que venha a ser emitido?
 
 
Das saias justas e das contradições
nas ancas das elites. 


Por falar em "técnicos especialistas dos EUA", alguém esquece que até o senhor Lincoln Gordon, embaixador dos EUA no Brasil - que preparou o golpe de 64 - além de diplomata, era funcionário da CIA?
Alguém esquece que o senhor general Vernon Walters, adido Militar dos EUA naquele mesmo tempo em nosso país, teve a tarefa de articular os militares nativos para o golpe, e foi quem deu a palavra final sobre a indicação do marechal Humberto de Alencar Castello Branco para assumir a Presidência em nome dos golpistas? 
 
Tudo bem que o marechal morreria dois anos depois, também de um acidente aéreo jamais explicado - mas aí, já são das saias justas e das contradições nas ancas das elites. 
Acordemos, meus camaradas!
Acordemos, ou os mesmos de sempre comemorarão os 50 anos do golpe em grande estilo, num grande regabofe...

Em nossa avaliação, estamos no torvelinho de uma complicada e pesadíssima conspiração internacional, meio a um processo de golpe de Estado.

Para isto, base social interna ao nosso país é o que não falta: o oportunismo dos partidos políticos brasileiros (já denunciado em nosso artigo "Novo quadro político - anotações", publicado na edição 599 do "Brasil de Fato") está aí para não nos deixar mentir. Isto, para não falarmos de grande parcela do sindicalismo, além de diversas outras organizações e movimentos de trabalhadores e do povo, somado a ONGs, OSCIPs, etc. - muitos dos quais cooptados por esses mesmos partidos, sem exceção.

Some-se ao quadro, a prática política da troca de "dossiês" para a troca de silêncios.

Ainda que sem qualquer patriotagem, ufanismo ou estupidez do gênero, não podemos esquecer o peso do Brasil em termos mundiais, sobretudo no Cone Sul das Américas. Seja do ponto de vista econômico, político e, por isto mesmo, para a geopolítica das grandes potências.

Do nosso ponto de vista, a conspiração já se manifestou em junho do ano passado (2013), episódio que muitos camaradas entenderam 
e prosseguem entendendo como um "ascenso dos movimentos dos trabalhadores e do povo", mesmo apesar do Dia Nacional de Luta convocado pelas centrais sindicais e vários movimentos naquele então haver sido um fiasco.

Comparemos: o Comício da Central do Brasil (convocado pelo presidente João Goulart e realizado em 13 de março de 1964) reuniu, numa única praça, cerca de 200 mil pessoas, num momento em que o país tinha cerca de 50 ou 60 milhões de habitantes. Já o Dia Nacional de Luta do ano passado, somando todas as manifestações em todo o Brasil (hoje com mais de 200 milhões de habitantes), chegou a 150 mil pessoas. Nada mais a argumentar.
A propósito: o comício convocado pelo presidente Goulart não foi capaz de sustar o golpe em curso, que seria consumado 18 dias depois.

Frente a isso, porém, o triunfalismo, a apoteose mental, o baluartismo(como dizíamos outrora), o simples e rastaquera oportunismo de uns poucos camaradas da nossa esquerda, consideram junho de 2013  um grande "ascenso das massas"!!! Para tanto, esquecem os fatos, minimizam ou jogam para baixo do tapete as manipulações, estímulos e apoios reais da direita que envolveram o episódio, iniciado apenas com as manifestações do Movimento Passe Livre (como tem acontecido todos os anos naquele período), e que se desdobraram na campanha contra a presidenta Dilma Roussef que se estendeu até e durante toda a Copa. 
 
 
Vivemos num mundo onde, não apenas tudo é possível, como - o que é pior - tudo é permitido.
O pior dos mundos.


Entre as manifestações  daquele junho - não sabemos se os leitores se recordam pelo menos de dois episódios: além do fato do "Estadão" on line ter feito um apelo no sentido de que todos os que tivessem wi-fi, os disponibilizassem para a convocação das manifestações, houve até a campanha do "Change Brazil", nos EUA, estrelada por Lady Gaga, suas gaguetes e outras chesters; por Mark Zuckerberg - dono do fez-se-buque; e por um industrial estadunidense com negócios no Rio, cujo nome agora nos foge. 

O contraponto mínimo a tudo isto, que se esperava, era que o nosso PT nos oferecesse uma análise dos acontecimentos, e apontasse um Norte político. Doce ilusão. O silêncio político do PT foi total (ainda que com idas e voltas) e os personagens do partido e dos seus Governos que se manifestaram, teriam feito melhor se houvessem permanecido calados: o prefeito petista de São Paulo, Fernando Haddad, que estava em Paris, rivalizou com o senhor Geraldo Alckmin (também em Paris naquele momento), no que diz respeito a clamar por mais repressão - errou de foto para a qual pretendeu posar; e o ministro José Eduardo Cardozo ofereceu tropas federais (na ocasião, escrevemos e publicamos artigo a respeito). As atitudes do prefeito Haddad e do ministro Cardozo só se justificariam se eles tivessem (e expusessem publicamente) informações sobre alguma conspiração em andamento.
 
Entrementes, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - que se pretende a maior liderança popular do nosso País - sumiu do Brasil, tendo sido encontrado (por habilidade e "inconveniência" do jornalista Flávio Aguiar) participando de uma reunião secreta de chefes de Estado e banqueiros, em Berlim. Reapareceria dias depois (desta vez não mais "incógnito") dando uma entrevista para o "New York Times". E foi em meio a toda essa "geleia" que surgiram as primeiras manifestações do "Volta Lula".
Change Brazil = volta Lula? - até hoje não nos ficou claro.

Alguém acredita na eclosão espontânea da Primavera Árabe e/ou na versão de que tudo foi consequência apenas da ação das redes sociais?
 
Alguém comprova que o cadáver jogado ao mar pelas forças militares estadunidenses seria mesmo do terrorista Bin Laden - conforme divulgou a mídia "democrática, ocidental e cristã"?
 
Alguém concorda que as lutas de resistência dos povos que têm seus países invadidos pelos EUA e seus parceiros, são "ações de rebeldes"?
 
Glosamos todos e cada um desses fatos e episódios em nossos artigos ao longo de então (junho de 2003) até semana passada. Está tudo devidamente registrado.

Bacon - o filósofo inglês, afirmava há séculos que, "Embora nem tudo seja permitido, tudo é possível", uma visão que consideramos otimista nesta fase neoliberal do capitalismo, quando vivemos num mundo onde, não apenas tudo é possível, co
mo - o que é pior - tudo é permitido.
O pior dos mundos.

Um mundo no qual cai - até hoje inexplicável e inexplicadamente - o avião do candidato Eduardo Campos, colocando de pernas para o ar e de cabeça para baixo todo um processo eleitoral, e tudo segue placidamente seu curso "natural": simplesmente o candidato Campos é substituído por sua vice que, sempre ávida de estar por toda parte e sair em todas as fotos, não viajou com o cabeça de sua chapa, apesar dele haver insistido - conforme foi noticiado no dia seguinte ao seu assassinato. 

Para acobertar melhor a explicação ainda não dada a respeito da queda do Cessna, o avião viraria assunto na grande mídia, numa investigação sobre sua propriedade, origem e dinheiro da compra, leasing, ou aluguel. Obviamente, tudo isto recaindo nas costas do candidato morto, uma vez que a dona Marina é uma Santa, uma Pura, e jamais soube de nada.
 
 
Ainda bem que Teresa, uma nossa amiga de Lisboa, já nos havia explicado: "O trauma é o melhor amigo do homem".


Aliás, numa fala enviesada na tentativa de responder o motivo pelo qual não estava a bordo no Cessna no dia do acidente, e ao mesmo tempo se manter distante das investigações a respeito da propriedade do avião, a senhora Marina Silva declarou ao jornal O Estado de São Paulo (02.09.2014), que tem medo "mesmo de avião de carreira", e que entrou "apenas seis vezes no jato usado por Eduardo Campos". Todo esse medo, confessou à repórter Sonia Racy, se origina "de dois traumas na Amazônia".
(Ainda bem que Teresa, uma nossa amiga de Lisboa, já nos havia explicado: "O trauma é o melhor amigo do homem").

Mas, não esqueçamos de juntar as pontas: um avião de propriedade obscura (e de explicação confusa) completa muito bem o quadro de um acidente inexplicado e sem gravação na caixa preta. Ou estamos errados? 
 
Aliás, parece-nos que o hit agora é não juntar pontas.O neoliberalismo prescinde da pós-modernidade. É tudo fragmento; tudo acaso - "just because". "Sabe, bicho, pintou... daí, cara, rolou". - "Demorô!"
 
 
Em política, as coincidências crescem ou diminuem na razão direta do crescimento ou diminuição das conspirações.
 
 
Por exemplo: até o momento, ninguém - pelo menos em público - se perguntou sobre o fato de o ex-presidente do Superior Tribunal Federal, doutor Joaquim Barbosa (que a aposentadoria o tenha!), ter mandado encarcerar os petistas acusados e condenados por um "mensalão" (que não houve enquanto tal), sem os permitir  trabalhar fora do presídio, e o direito de prisão domiciliar de um deles (por motivo de doença), num momento que coincidia exatamente com período anterior às articulações de candidaturas presidenciais. Na outra ponta, o mesmo doutor Barbosa, os liberaria para o trabalho fora do presídio e para a prisão domiciliar, tão logo acabaram as convenções partidárias... Esta segunda ponta, também por coincidência, acompanhada do pedido de aposentadoria do juiz Barbosa, exatamente no auge da disputa da Copa, quando todas as atenções estavam voltadas para o torneio, e os atos do histriônico e circense presidente do STF passaram desapercebidos da opinião pública. 
 
Ora, independentemente das opiniões políticas e/ou morais a respeito do ex-ministro e ex-presidente do PT José Dirceu de Oliveira e Silva, do ex-presidente partidário José Genoíno Neto, ou do ex-tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, Delúbio Soares, todos havemos de concordar que são três grandes articuladores políticos. Mas - Que pena! - por mera coincidência, ficaram alijados exatamente no momento crucial dos conchavos e decisões dos partidos sobre a sucessão... Mas, felizmente, foram atendidos em seus direitos depois de passado o perigo das convenções partidárias.
 
Não esquecemos que em dois ou três dos nosso artgos, perguntamos a serviço de quem e do que estaria o doutor presidente Barbosa, e quem estaria por detrás de suas atitudes.
 
Assim acreditamos poder pensar e dizer sem medo de errar: em política, as  coincidências crescem ou diminuem na razão direta do crescimento ou diminuição das conspirações.

Repetimos a pergunta, agora acrescida:

Alguém acredita num acidente sem mandantes, no caso do avião da Malaysia Airlines?
Se não acredita, alguém aceita a hipótese de que tenha sido o presidente russo Vladimir Putin quem mandou derrubar a aeronave?
 
E as Torres gêmeas de Nova York?
 
E o Incêndio do Reichstag - quem ordenou tocar fogo no Parlamento alemão em 27 de fevereiro de 1933, incinerando a República de Weimar e, no início do ano seguinte, e marcando a ascensão de Hitler e do seu partido?

Enquanto isto, um bando de pacóvios da esquerda, esquecidos de que devemos conspirar, acreditam que os inimigos e adversários não o fazem: tudo em nome de que "não podemos ter um visão conspirativa da História" - verdadeiras virgens: donzeis e donzelas! Uns repetem esse refrão (ou será um mantra?) por absoluta ignorância; outros, sem dúvida, por terem o rabo preso. Ora, não ter uma visão conspirativa da História, não implica concluir que os adversários e inimigos não conspiram, nem nos deve levar a esquecer/abrir mão de conspirar.

Mais ainda: condicionados a um modelo de golpe de Estado que pressupõe a intervenção direta das Forças Armadas - como os que ocorreram nos anos 1960-1970 especialmente no Cone Sul (ainda que não apenas), muitos camaradas têm dificuldade de localizar e perceber o significado dos novos mecanismos que vêm sendo utilizados  no presente pelo grande capital internacional, para seus golpes de Estado.
 
 
Para reforçar o que vimos dizendo, citamos o artigo "Brasil. Como sobreviver?" do economista
Adriano Benayon, filiado ao PSB.
 

Para reforçar o que vimos dizendo, citamos o artigo "Brasil. Como sobreviver?" (01.09.2014) do economista Adriano Benayon, filiado ao PSB, que recebemos enquanto escrevíamos este texto.

Com razão e fundamento, depois de toda uma análise das articulações econômicas e políticas, ele afirma:
"De fato, estamos diante de   um golpe de Estado perpetrado por meios aparentemente legais, incluindo  as eleições. Parafraseando o Barão de Itararé, há mais coisas  no ar, além da explosão de avião contratado por um candidato em campanha. (grifos do Autor)
"(...)
"Golpes de Estado podem ser dados através de parlamentos, poderes judiciários, além de lances como os que estão em andamento. Agora, a moda adotada pelo império angloamericano, como se viu em Honduras e no Paraguai, na suposta primavera árabe, na Ucrânia etc., é promover golpes de Estado, sem recorrer às forças armadas, as quais, de resto, no Brasil, têm sido esvaziadas e enfraquecidas, a partir dos governos dirigidos por Collor e FHC".
 
 
Resta-nos apenas uma dúvidaa senhora Marina é o plano pra valer dos conspiradores, ou apenas um atalho para voltar a um Plano A?
 

Frente a tudo isto, resta-nos apenas uma dúvida:
a senhora Marina é o plano pra valer dos conspiradores, ou apenas um atalho para voltar a um Plano A?
 
Enfim, como está marcado para as vésperas da eleição o anúncio do resultado (o laudo) das investigações sobre a origem do desastre que matou o candidato Eduardo Campos, sua equipe e a tripulação do Cessna, quem sabe, independentemente de qual seja o resultado, o assunto  gere uma comoção e reação social - animada por vândalos anônimos - que leve ao adiamento do pleito, criando um interregno onde possam ser iniciadas negociações em torno de nomes mais "consensuais" e mais confiáveis para o grande capital internacional e suas bases sociais internas, que a senhora Marina. Candidatos não faltarão. Quem sabe o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso repita o que fez durante o início da  abertura da segunda metade dos anos 1970 (denunciado algumas vezes por Jânio de Freitas em sua coluna, e jamais desmentido) e se apresente - como fez com os militares naquele então - para dirigir esta nova transação...? Tem gente que sonha ser José Sarney a todo custo - mesmo o Príncipe dos Sociólogos, já derrotado uma vez pelo Beletrista, pode ter uma recaída.
 
Como já dissemos, tudo é possível e, sobretudo, tudo é permitido na nova ordem mundial.  

Não temos qualquer dúvida, porém, que o alvo dos conspiradores é o Governo da presidenta Dilma Roussef e sua reeleição, e não o PT em geral. Outros petistas de "primeira grandeza" certamente seriam muito bem recebidos (com pompa e circunstância) no banquete dos Rothschild, Morgan e seus pares e sócios brasileiros.
 
 
Desde o golpe de 64, o Governo da presidenta Dilma Rousseff foi o que mais avançou em termos da defesa da nossa integridade territorial e soberania. 
 
 
O Governo da presidenta Dilma Rousseff, sem dúvida, fez uma série de concessões aos neoliberais. Mas isto deve ser pensado num quadro real do país e da política: a decisão das forças hegemônicas do PT de governar a todo custo, não importando as alianças necessárias para eleger seus candidatos e garantir suas "governabilidades"; o abandono do seu partido de uma política de construção das organizações independentes e autônomas da classe trabalhadora e do povo - que deveriam ser seus principais aliados e base de governabilidade; o dever de cumprir compromissos assumidos pelo seu antecessor - como, por exemplo, todos os acordos a respeito da Copa; e tudo isto num país rico em matérias primas estratégicas, mas praticamente desprovido de defesa militar, reduzidas - desde a adoção da Doutrina de Segurança Nacional, logo após o fim da Segunda Guerra, a forças de ocupação interna do Império estadunidense e à condição de polícias; num país que tem petróleo e nióbio (entre outras minerações) mas não tem bomba atômica ou outros armamentos indispensáveis à nossa defesa. Todos esses fatores juntos certamente não permitiram (e tentarão sempre jamais permitir) rumos muito diferentes daqueles tomados pela presidenta,, se entendemos que a luta política é ditada pela correlação de forças, e não por vontades, desejos ou fetiches.

 
Entretanto, apesar de tudo isto, em nossa opinião, o Governo Dilma Rousseff - desde o golpe de 64 - foi o que mais avançou em termos da defesa da nossa integridade territorial, soberania e dignidade, contrariando Washington, a banca internacional e suas bases sociais internas que não engolem, até hoje, algumas atitudes e decisões da presidenta. 

Apenas como exemplos mais recentes das decisões tomadas pela nossa chefa de Governo e de Estado, e absolutamente intragáveis (e intragadas) pelos ianques: o cancelamento de sua (da presidenta Dilma) viagem aos EUA, depois da publicização da espionagem de Washington, incluindo até seus telefonemas pessoais; a ativação do BRICS e a criação do Novo Banco de Desenvolvimento; o fato do Pré-Sal ter começado a ser explorado e da China haver vencido o leilão do Campo de Lira (Pré-Sal).
 
Também por coincidência ou por inspiração divina, a candidata Marina Silva - assessorada e coordenada pela senhora Neca Setúbal, herdeira do Banco Itaú (outra coincidência) - já declarou que seu Governo diminuirá sua ação junto ao BRICS, bem como a exploração das reservas do Pré-Sal.
 
Aliás, é bom lembrar que o Pré-Sal, embora descoberto pelos brasileiros há apenas 13 ou 14 anos (segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso), já devia ser - muito provavelmente - do conhecimento da Casa Branca e dos seus órgãos de inteligência pelo menos desde os anos 1970, quando o Governo do general Emílio Garrastazu Médici autorizou um completo levantamento aerofotogramétrico do nosso território - palmo a palmo - pelo Governo de Washington.

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Alipio Freire
jornalista, escritor, artista plástico e cineasta, integra os Conselhos Editoriais do jornal Brasil de Fato e da Editora Expressão Popular; é membro do Conselho Curador do Memorial da Anistia (BH-MG), e colabora com diversas publicações populares e de esquerda.

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