sábado, 2 de agosto de 2014

UM BOM RESUMO SOBRE A ÁGUA EM SÃO PAULO E O RACIONAMENTO

Do Leonardo Gomes Nogueira, do portal Supressão dos Costumes Selvagens.

Há uma mentalidade bem pensante que ao abordar a situação de abastecimento de água em São Paulo limita-se a falar de medidas de economia no consumo de água. É o que acontece em meu condomínio, de classe média alta. Que tal apontar para seus governantes há mais de vinte anos?

GOVERNADOR GERALDO ALCKMIN BATE NA ÁGUA


O grande Bruce Lee usou, em diversos momentos, a água como representação de algumas ideias. “É como a água fluente, que ao estagnar-se, torna-se podre; não pare”, teria dito. Ao contrário do que possa parecer, ele não falava, na frase anterior, do volume morto do Sistema Cantareira, mas da vida.
Lee também usou, em muitas oportunidades, a imagem da água pra ensinar a essência da sua arte marcial. Para ele, o bom lutador deveria ter uma grande capacidade de adaptação. Ser flexível como a água. “A água pode fluir ou destruir. Seja água, meu amigo”, proferiu.
Disse a lenda, no entanto, que nasceria uma criatura violenta chamada Geraldo Alckmin. E que esse indivíduo conseguiria superar a técnica e destruir a filosofia de Bruce Lee. Esse homem, no entanto, portador de uma reduzida capacidade intelectual, não entendeu o simbolismo das palavras do mestre e passou a atacar a água em si.
Esse homem, essa criatura nefasta da horrenda profecia, surrou a água de uma forma tão violenta que ela perdeu os principais elementos que a constituíam e virou outra coisa. Uma coisa arrepiante. Somente os mais corajosos ousam dizer o seu nome em público: volume morto.
Se você é abastecido pelo Sistema Cantareira, talvez tenha sentido que a água que você consome (ou consumia), que deveria ser inodora, incolor e insípida (que aprendemos na escola serem as principais propriedades da água), sofreu uma grande transformação por causa da violência cometida pelo Sr. Geraldo Alckmin.
Não é por acaso que, desde cedo, aprendemos que a água pura não deve ter cheiro ou odor (inodora), não deve ter cor (incolor) e não deve ter gosto (insípida). É uma espécie de guia de sobrevivência. Se a água que você for beber fugir dessas características, é sinal de que ela, provavelmente, não é indicada ao consumo.
Desde maio desse ano, pessoas abastecidas pelo Sistema Cantareira estão consumindo água do chamado “volume morto”. Esse sistema atende algumas regiões da cidade de São Paulo (norte e centro; e parte das zonas leste e oeste). Além de diversas cidades da região metropolitana da capital paulista.
A população atendida por esse sistema é de cerca de 8,1 milhões de pessoas. Os dados são da própria Sabesp (empresa responsável, no estado de São Paulo, pela captação, tratamento e distribuição de água; além da coleta e tratamento do esgoto). Talvez o mais correto fosse classificá-la como IRRESPONSÁVEL por tudo isso aí que eu escrevi.
O volume morto, pra quem nunca foi apresentado, é a parte da água que fica abaixo do nível de captação das represas. Geralmente, não é usado. Tanto que para que pudesse ser utilizado o governo do estado fez uma gambiarra para poder captar o pouco de água que ainda resta nessa represa. E daí? Você pergunta. Continue lendo, por favor.
O problema é que diversas reportagens publicadas desde então, apontam para os riscos da utilização desse negócio chamado “volume morto”. Seja para a saúde humana ou para a saúde e sobrevivência do próprio Sistema Cantareira. Afinal, a água do volume morto fica na parte mais funda das represas (acumulando mais sujeira do que o normal e, eventualmente, até metais pesados).
A seguir, disponibilizo o link de algumas dessas reportagens:
Como a água do volume morto não é lá muito indicada ao consumo humano, mesmo que você tenha um filtro adequado em casa, é bem capaz que você tenha sentido um gosto estranho ao beber água nos últimos meses ou semanas. Eu senti. Além disso, senti outra coisa constrangedora: dor de barriga. Isso quando ainda bebia a água filtrada direto da torneira. Agora, sempre que posso, compro água engarrafada. Nem todo mundo pode.
O uso dessa água não é potencialmente ruim apenas para a saúde humana, mas para a própria saúde do Sistema Cantareira. Muitos especialistas já afirmaram: o uso do volume morto é um grande risco para o meio ambiente da área. E pode, no pior dos cenários, provocar o colapso desse sistema hídrico.
Não é exagero. O governador Geraldo Alckmin imita os soviéticos. Um dos grandes desastres ambientais do século XX foi o aniquilamento, ainda que parcial, do Mar de Aral. Os seus recursos hídricos foram devastados, assim como a fauna do lugar, por causa de um uso irresponsável daquela fonte de água.
Em agosto de 2013, a BBC Brasil publicou uma reportagem fotográfica sobre o “mar que virou deserto”. O Mar de Aral, na verdade, é, ou melhor, era um baita lago na Ásia. O ensaio fotográfico, da britânica Catriona Gray, mostra do que homem é capaz se fizer bastante merda.  
Como já foi noticiado, desde 2004, o governo paulista sabia que o Sistema Cantareira não seria mais suficiente para abastecer a região metropolitana de São Paulo. Repito: faz uma década que os tucanos (que já governavam o estado nessa época) sabiam que esse sistema não seria capaz de dar conta do recado. O que exigiria novos investimentos para a captação de água em outras fontes. Além, é claro, de um uso mais racional desse precioso recurso.
Mas nada foi feito. E por uma razão muito simples: investimento significa lucro menor pra quem controla (em parte) a Sabesp. Sim. A empresa pública que cuida da água em São Paulo tem um capital misto. Parte privado e parte público (sendo que o acionista majoritário, por ora, ainda é o governo paulista; ou seja: você). Até aí você pensa, foda-se. Fazendo o seu trabalho direito, ok.
Eu não vou entrar nesse debate agora (embora, pra mim, água e outros recursos naturais não devam ser tratados como negócio). Todavia, o problema fundamental é que a Sabesp não tem feito o seu trabalho a contento. Farei apenas mais duas colocações pra encerrar o meu posicionamento sobre o tema:
  1. Quanto maior o dividendo (dinheiro) distribuído ao acionista, menor o volume de recursos financeiros que a empresa tem para investir no aprimoramento e ampliação do serviço prestado. Serviço pelo qual, nunca é demais lembrar, você paga. Atrasa a conta pra ver se a água da sua casa não é cortada.
  2. Embora o próprio estatuto da empresa determine que os acionistas podem receber (no máximo) 25% do lucro líquido anual da Sabesp, no ano de 2003, por exemplo, o governador Geraldo Alckmin (que tinha acabado de ser eleito) depositou na conta dos acionistas 60,5% do lucro líquido da companhia. Desde então (os dados vão de 2003 até o ano passado), o dinheiro dado aos acionistas sempre esteve maior que os 25% determinados pela própria Sabesp. Para mais informações, clique aqui.
Geraldinho Alckmin é o mais brigão da escola. Na hora do recreio, bate e rouba o lanche da pobre água. Na hora da saída, bate de novo na água e ainda rouba a grana do ônibus. Bate na água e em quem tentar defendê-la. Repito: ele bate na água. E sabe na bunda de quem ela irá bater?

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