quinta-feira, 31 de julho de 2014

DEGRADAÇÃO AMBIENTAL E AQUECIMENTO GLOBAL: OS MATERIAIS

Recebi de meu amigo o professor Cyro Takano a incumbência de iniciar um artigo sobre energia consumida na produção de alguns metais. Todos esses metais consomem grandes quantidades de energia, causando os impactos ambientais correspondentes, com destaque especial para a produção de gases de efeito estufa. 

O resumo que Cyro me enviou falava da necessidade de melhorar a eficiência energética dos processos de produção dos metais para garantir a sua sustentabilidade ambiental e econômica. Não consegui me satisfizer com a proposta de pesquisa, embora ela fosse já um bocado abrangente: melhorar a eficiência dos processos de produção em uso, passar para outros processos menos consumidores de energia e introduzir novas fontes de energia nos processos.

Em Engenharia de Produção nos estudos de casos é frequente que um problema detectado, uma vez examinado com cuidado, acabe por ser reformulado, por que problema, uma vez examinado com outros olhos, mostra-se diferente daquele enunciado em primeiro lugar. Quando se examinam tendências no uso das técnicas de produção, em função de objetivos como os apontados acima, é obrigatório examinar se esses objetivos, uma vez atingidos, poderão levar a uma melhoria nas perspectivas para o meio ambiente e se não há outros objetivos, em adição ou alternativos aos primeiros.

No caso presente poderia ser investigada a possibilidade de substituição dos metais, por metais, ligas, cerâmicas ou polímeros cuja produção seja menos intensiva em energia e para os quais as atividades de extração e beneficiamento de matérias primas sejam menos disruptivas sobre o meio ambiente. De modo mais abrangente, o projeto básico dos produtos que usam esses materiais - bens de consumo e de produção, poderia ser refeito, em função dos efeitos ambientais de seus materiais constituintes. Que critérios seriam usados neste caso?

Para além do critério básico da engenharia - minimização de custos, com os custos representados por seus valores de mercado, projetistas de produtos e processos devem, ao considerar a necessidade de baixar o consumo de energia e os impactos ambientais, tomar decisões através de procedimentos bem mais complexos.

O critério de minimização de custos é conceitualmente simples, e pode ser facilmente partilhado entre o projetista e o dono do negócio. É o critério da normalidade, que ganhou força extra com a grande onda de desregulamentação que vem sendo implementada na economia mundial nos últimos trinta e cinco anos.

A desregulamentação é questão política e como tal foi (e é) propugnada. Parte da premissa que existe uma forma ótima de produção de bens e serviços, e essa forma ótima é determinada no jogo de mercado, independente de condições chamadas de distorções. Essas distorções são as condições que negam as premissas dos modelos que justificam o capitalismo: poder monopolístico na produção ou nas compras de mercadorias, "externalidades" - que são ganhos ou perdas por pessoas ou grupos que não entram no cálculo econômico, entre outras provenientes da concentração "excessiva" de poder econômico, cultural e político.  

Dentro do quadro do capitalismo financeiro global atual, a desregulamentação traz como corolário o domínio ainda maior dos critérios ligados à minimização dos custos, em que poder de monopólio e externalidades são aplicados livremente em detrimento das parcelas menos poderosas da sociedade - e, naturalmente ainda mais sobre o meio ambiente como habitat dos seres vivos que o constituem. As chamadas forças de mercado não se ocupam desses interesses contrariados, antes ocupam-se, ao ocupar as instâncias do poder político, em reforçar ainda mais as condições que ensejam seu domínio.

Assim,a regulamentação por parte do Estado tem-se enfraquecido mais ou menos por toda parte, e a tendência no momento é de um enfraquecimento ainda maior. Qual deve ser o prisma do analista ao examinar possibilidades tecnológicas caso ele passe a adotar objetivos que transcendam o âmbito da empresa e de seus interesses pecuniários, para passar a  fazer predominar a consideração dos impactos ambiental locais e globais na produção de materiais? E qual deve ser o prisma do produtor de bens manufaturados, que exigem esses materiais? 

Do ponto de vista do empreendedor privado, não existe interesse em atender demandas ambientais relativas a consumo de energia ou seus efeitos, e portanto quem tome decisões mais "conscientes" dentro da empresa é candidato a no mínimo um remanejamento. A implementação de novas formas de regulamentação ou mesmo a alteração do sistema de preços por taxas e subsídios com o objetivo de introduzir o fator ambiental no cálculo parece inviável no atual cenário político, em que "intervenções" do estado, e intromissões de entidades de fora do sistema de lucro - como movimentos sociais e ONGs - encontram uma barreira metodológica e ideológica quase intransponível. No máximo pressões podem ser exercidas sobre empresas individuais, ou subsetores da economia que só serão eficazes se ensejarem para estes novas oportunidades de negócios, sem afetar (negativamente) suas margens de lucro. 

Assim, o engenheiro de materiais de uma empresa que produz esses materiais ou que compra os mesmos tem um escopo limitado ao curto prazo e aos interesses dos acionistas. Proposição de mudanças radicais nos processos de produção e na especificação de materiais é atividade que pertence a outro âmbito: órgãos governamentais de planejamento estratégico e a academia, desde que estes também não sejam dominados pela lógica dos resultados econômicos privados.











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