quinta-feira, 5 de junho de 2014

GREVE NA USP

Trabalhadores - professores e funcionários da USP estão em greve desde o dia 27 de maio. Razão: devido à situação financeira, e ao fato de que mais de 100 por cento dos custos da Universidade estarem comprometidos com os pagamentos de pessoal, a reitoria e o governo não ofereceram reajuste dos salários este ano.

Quando o pessoal daqui da USP, eu inclusive discute essas questões, tendemos a cair na mesma confusão de misturar problemas atuais - como a crise desencadeada pela desastrosa gestão do reitor Rodas que já se foi, tarde, com problemas estruturais da universidade, que têm muito em comum  com os problemas gerais do serviço público no Brasil (e em muitos outros países, claro).

Outro problema vem do fato de a greve partir de um impasse estrutural que só seria superado a favor dos grevistas mudando a legislação de forma a aumentar a participação das universidades, que era assegurada por lei como uma parcela fixa de um imposto estadual, no orçamento do estado. Este aumento é difícil de engolir pelos outros setores da administração e da sociedade.

Nos anos anteriores, o impopular reitor, nomeado pelo então governado José Serra por cima do candidato mais votado pela comunidade acadêmica, concedeu aumentos salariais acima da inflação, e permitiu contratações em ritmo acelerado. Também criou dispendiosos escritórios de representação em outros países. Estes, dá para desativar. O aumento de gastos com pessoal, que deveria ter sido mantido no limite de 80 % do orçamento das universidades, é muito mais difícil. É a bomba que Grandino Rodas deixou.

Para que a sociedade como um todo pudesse apoiar a maior participação das universidades estaduais no bolo orçamentário do estado, elas teriam que provar que são úteis, e que podem ser mais úteis com mais dinheiro. Este parece não ser nem minimamente o caso. Ao contrário.

Minha percepção em relação a funcionários e a professores da USP infelizmente não é muito diferente da que se ouve no resto da sociedade. Para lá da recente queda na avaliação da qualidade da USP comparada a outras grandes universidades do mundo, há deficiências históricas em sua estrutura e modo de atuação que nunca foram realmente enfrentadas.

Acima de tudo, a USP é uma gigantesca, paquidérmica burocracia. Não é uma oficina, nem mesmo um templo do saber, embora possua professores, pesquisadores, funcionários e alunos de grande peso intelectual e moral. A USP tem objetivos nobres e generosos, mas cuida antes de tudo de seus membros e de suas cliques. Poderia ser um organismo poderoso a serviço da Ciência e do Brasil, qualquer que seja a ordem, mas não é. E Ciência e Brasil se vingam da USP, com a indiferença pelas lutas de seus membros.

Todo grupo de pessoas organizado pode sempre ser resgatado  da confusão e da mediocridade que haja um subgrupo cuja força intelectual e moral, temperado por verdadeiro talento político, possa ser ao mesmo tempo exemplo e liderança. Se a máquina burocrática não é capaz de dar poder a pessoas desse subgrupo, ou, como é o caso, atua consistentemente para manter tais pessoas de fora, vai continuar confusa e medíocre. E suas crises e greves encontrarão na sociedade em torno nada mais do que a indiferença, já que não afetam o seu cotidiano como uma greve nos transportes urbanos, ou os seus sonhos de uma sociedade melhor.

Não tenho ideia do que pretendem as lideranças da greve. Há no momento um cabo-de-guerra com o governo do estado, e possivelmente com o legislativo, já que mais verbas teriam que ser retiradas de outras partes. Como parte da situação atual pode ser atribuída aos aumentos anteriores de salários, os trabalhadores e o governo poderiam pensar em transigir um pouco cada um, mas para um setor ganhar mais retirando dinheiro de outros setores seria necessário provar que essa mudança beneficiará a todos, não só esse setor. 








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