domingo, 27 de abril de 2014

UMA DEMISSÃO POR PLÁGIO, PODER SOBRE O SABER E A INTERNET

O meu amigo professor Edson Gomes, da Escola Politécnica da USP, colocou um longo, mas bom de se ler comentário sobre questões importantes para a comunidade acadêmica e para todos, provocado pela demissão de um professor da universidade, por plágio. No fim, ele colocou uma ordem: PUBLIQUEM E DIVULGUEM!!! Com muita satisfação eu faço minha parte, transcrevendo o valioso escrito do Edson:


A perigosa política acadêmica do "publish or perish" impostas em nossas universidades que buscam reconhecimento internacional através de "ranks" direcionados pela mídia, que buscam desmoralizarem as instituições públicas em favorecimento das entidades privadas orientadas para o lucro. Caso não tenha conhecimento do assunto, ler documentos e artigos publicados neste mês de abril de 20014 do "Chronicles of Higher Education" a respeito do desmantelamento do sistema de ensino público da Califórnia, incluindo UC Berkeley e UCLA, através de políticas neoliberais. Que investidor seria atraído a colocar recursos num sistema com 400mil estudantes e apoiador da pesquisa básica em todos os campos de conhecimento? É importante saber que Harvard, Yale, Princeton, Columbia e existem bem antes da secessão de 1861 e os EUA era um simulacro de país, injusto e criminoso cujas façanhas eram a destruição dos nativos, a manutenção da escravidão e da discriminação contra os negros, a tomada da Califórnia, Novo México e Texas do México e sim, o velho oeste cujos "heróis" (ao contrário da visão passada por Hollywood), eram dominados por covardes, sanguinários, assassinos e corruptos nas nascentes cidades do oeste.

 A realidade mudou quando Lincoln implantou o ensino universitário público através do projeto Land Grant College em 1865. A ciência, a educação, a pesquisa desinteressada (objetivando apenas a pesquisa aplicada de interesse dos capitalistas-mercantilistas na época. UC Berkely, U Michigan, (todos os estados foram agraciados com essas universidades e cujo objetivo principal foi a instalação do ensino da agricultura e da mecânica, que não eram contemplados nas velhas e elitistas universidades privadas. O modelo foi alemão, implementado pela casa de Hoheslen do reino da Prússia em 1790 com a instalação da primeira e importante "Universidade Técnica de Braunschweig" no Estado da Baixa Saxônia, e daí que se modelou a mais importante universidade técnica americana, privada mas orientada pela lei Land Grant : o MIT. A Partir daí sim, foi que os EUA se desenvolveram e são o importante país que se conhece até hoje.

Portanto não foi isso de publicações em periódicos "comerciais" como denunciado por "full professors" da UC Berkeley na "Chronicles of Higher Education" em várias edições em 2013. Os periódicos exploram gratuitamente os pesquisadores e cobram caríssimas subscrições das universidades. Tanto que a administração Obama baixou diretivas executiva para acesso gratuito da população a artigos científicos resultantes de pesquisas patrocinadas com recursos públicos pelo governo. As editoras estavam cobrando por acesso individualizados via internet. Ou seja elas, as editoras, estavam sobrefaturando em e forçando o governo pagar multiplamente por pesquisas que o mesmo governo fundeou e cujos pesquisadores publicam em periódicos sem serem remunerados. Para esclarecimento e ao contrário do que publica a mídia nacional, o poder público norte americano é responsável financeiramente por mais de 80% dos investimentos em pesquisas nas universidades de classificação Carnegie do grupo I (NB, são investimentos e não gastos públicos). E voltando, para as editoras o negócio como um todo é a galinha dos ovos de ouro. O negócio girava em torno de 20 BILHÕES de dólares a favor das editoras em 2012.

A mídia brasileira é sacana e não divulgou nada a respeito desse assunto e que saiu em várias edições do NY Times em 2912-13. A imprensa nacional ao divulgar os "ranks" internacionais trabalha contra as nossas universidades públicas e desmoralizam os corpos docentes, abraçadas por direções desastrosas em várias delas como a que ocorreu na USP nos mandatos da Reitora Suely e do Reitor Rodas. E isso é que provoca publicar de qualquer jeito, qualquer coisa.

Chega, leiam o "The Chronicles of High Education" para evitarem ser enganados por desconhecimentos e falsas notícias. A CAPES gasta um dinheirão com as revistas eletrônicas e que pesquisadores e pós-graduandos enriquecem as editoras tidas como "Quality" que alguém DESINTERESSADAMENTE escolhe como tal.

 No início foi publicado um primeiro paper nos anos de 1670, reportando detalhadamente resultado de pesquisa, um tipo de relatório formatado como IMRAD (Introduction, Methodology, Results & Discussion) até hoje em dia. Era um modo das universidades divulgarem entre si resultados de suas pesquisas e eram apresentados em Congressos Científicos na época. Posteriormente cada uma das universidades desejavam cópias para formar os próprios acervos. Tudo era gratuito e disponibilizado ao público interessado em várias bibliotecas universitárias e nacionais de cidades da velha Europa do "Sacro Império Romano do Ocidente". O "Império do Oriente" estava nas mãos dos Otomanos desde 1453 (final da idade média) que durou até 1920 após o final da 1a. Guerra. Por fim, a cobrança de publicações ao corpo docente é contra o interesse nacional: da população, do governo, dos pesquisadores, e dos estudantes. Uma melhor política seria economicamente recomendável a utilização de edições impressas ao invés do modelo de negócio favorável às editoras através de revistas eletrônicas na internet.

A internet foi desenvolvida em 1956 para melhorar a comunicação através dos computadores do Departamento de Defesa dos EUA no projeto ARPANET. Durante a "Guerra Fria". Posteriormente a Arpanet foi ampliada para ligar todos os computadores da Defesa, dos laboratórios nacionais: Los Alamos, Lawrence Livermore, Argone, Oak Ridge, Sandia e alguns da NASA numa rede com os computadores das universidades do grupo I da classificação Carnegie. A ideia era favorecer aos pesquisadores as trocas de relatórios que deviam estar classificados (secretos). . Com isso tudo o objetivo era selecionar quem poderia ter acesso e ao mesmo tempo eliminar os elevados custos provocados pelas teles da época, principalmente a AT&T (Bell). Mas o problema era de uma unica rede (net), pois computadores de fabricantes diferentes com sistemas operacionais diversificados não conversavam entre si. Ou seja, as mensagens saiam do computador de um laboratório do governo, entrava no computador da rede telefônica da Bell e era encaminhada ao computador de uma determinada universidade. Era o caos! Eureka! Foi desenvolvido um protocolo: TCP/IP que resolveu a questão e a internet estava inaugurada no âmbito do projeto Arpanet e envolvendo selecionadas universidades e laboratórios da região da NATO (OTAN). Em que coisa toda custou ao governo ( o povo pagou) 40 BILHÕES de dólares e não houve recursos privados que trabalhou no projeto mas recebeu recursos do Pentágono para tanto.

 Em 1980, com o final da "Guerra Fria", o governo Reagan desclassificou a internet tornando-a grátis e acessível ao público das universidades, já que quem pagava as contas dos gastos das universidades com a rede para discussões e comunicações acadêmicas era o governo, inclusive as pesquisas nas universidades privadas. Lançados os microcomputadores pela IBM em 1984 como PC e rodando sob o sistema operacional IBM/DOS desenvolvido sob contrato com a nascente Microsoft, houve uma restrita popularização no meio acadêmico.

Enquanto isso, no "Lincoln lab" do MIT, foi desenvolvido o X-Windows, uma interface gráfica para utilizar o computador, facilitando a interação com o usuário. Na mesma época, a Intel lança o processador intel-386 com capacidade de processamento gráfico e a Microsoft adaptou o projeto X-Windows para os PCs: lançando o Windows-3, não aconteceu o Windows-2 porque na época era comum pular numeração para significar versão mais avançada. Então a internet atingiu o grande público ainda das universidades e das grandes corporações ligadas ao setor de TIs. Com as substituições de chaveamentos eletrônicos nas centrais de analógicos para digitais e respectivas desregulações da telefonia na área da OCDE, além da desconstrução da poderosa MaBellL (AT&T, em várias empresas denominadas BabyBells) a entrada do grande público na rede tornou possível através de modems. Mas os serviços disponíveis eram de emails gratuitos através de provedores pagos na linha do público em geral. O grande tchan ocorreu em 1998 com o lançamento do protocolo HTML(editor gráfico) para construção e manipulação páginas em ambiente Windows nos PCs e x-Windows nos Apple, mas a interação era apenas unidirecional para visualização. Após 2005, com o HTML5 e o XMS rodando em ambiente Android e OSi o grande público, no mundo inteiro, foi conquistado e o smartphone se tornou a ferramenta mais moderna para navegação na internet. Portanto um grande caminho foi trilhado para disponibilizar ao grande público acesso à internet de modo gratuito, neutro e privado através de milhões de colaboradores voluntários pelo mundo afora.


Lembrar que pela publicação da lei do marco zero da internet, mostra como no Brasil pretende-se tornar a internet grátis, neutra e privada já que no modo atual é totalmente controlada pelos interesses dos EUA através do backbone em Miami e a rede acadêmica é controlada pelo backbone de Chicago no Argone National Laboratory. Ou seja, a internet é bastante volátil, você tem tudo e ao mesmo tempo pode não ter nada. Os datacenters estão localizados nos EUA em serviços como google, facebook, e miríades de outros o que possibilita a não privacidade por bisbilhotamento pelos serviços de inteligências e de empresas. Agora, ad editoras quem foram radicalmente contra o desenvolvimento da internet durante esses longos anos de desenvolvimento, e com ajuda de mídias coloniamente neoliberalizantes, incentivam esses rankeamentos desastrosos que, além disso, beneficiam países de língua inglesa como se fosse um mantra. Esquecem a Rússia que entre outros predicados é a única mantendo a logística para o laboratório internacional espacial, que envolve custos e muita, mas muita mesma tecnologia. Tecnologia não é coisa e sim pessoas, bem preparadas academicamente e em boas universidades. Bem, as universidades russas como a de São Petersburgo e de Moscou estão desaparecidas dos ranks, assim com as alemãs como as: RWTH na Renânia do Norte-Vestfalia, U T Braunschweig na Baixa Saxônia, detentora de uns seis prêmios Nobel, a UT Munique, UT Berlin. Sem esquecer as "Grand Ecoles" da França como A Escola Politécnica, a Escola de Minas, a Universidade de Paris entre outras. O exemplo vai por aí afora. Agora, de tudo isso se pode concluir que quem está pagando a conta toda é esse professor da USP, que é sim: vítima da situação.

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