quarta-feira, 9 de abril de 2014

SEM A DESINFORMAÇÃO DA IMPRENSA, O POVO DE SÃO PAULO SABERIA

Do Tijolaço:

Alckmin, a imprensa e a água. Um show de incompetência, irresponsabilidade e politicagem

9 de abril de 2014 | 20:45 Autor: Fernando Brito
torrecantareira
Amanhã se completam dois meses que este blog, cá do Rio de Janeiro, vem azucrinando seus leitores sobre a situação dramática do abastecimento de água em São Paulo, quase que diariamente.
Àquela altura, havia 19,8% de todo o volume possível nos reservatórios do Sistema Cantareira e o principal deles tinha 15,5% de seus 800 bilhões de litros de capacidade.
Hoje, tem 12% e a principal represa vai baixar, amanhã, para 4%.
Qual foi a providência tomada pelo Governador?
Dar desconto a quem consumir menos água, correto.
Mas insuficiente.
Saíam, há dois meses, pouco mais  de  30 m³/segundo do sistema.  Hoje, saem 26 m³, 15% a menos.
Entram, na média de março e de abril, 13,8 m³, dos quais 3,2 m³ saem para os rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, ficando fora do balanço.
Não é difícil fazer a conta, não é?
Perde-se, todo dia, 1,6 bilhão de litros.
Na média, porque ontem, por exemplo, entrou muito menos água e a perda chegou pertinho de 2 bilhões de litros.
Hoje havia 118 bilhões de litros ainda, somadas todas as represas.
73 dias, isso se o sistema conseguisse funcionar até a última gota acima das comportas, o que não é provável que aconteça, porque as vazões passam a ser insuficiente para preencher os túneis de adução.
Que providência tomou o Governador?
Ressuscitar um projeto que já havia sido abandonado, por inadequado, pelos técnicos da Sabesp (quem testemunha é o engenheiro tucano Jerson Kelman, do Instituto FHC), o de tirar água do Rio Paraíba do Sul, porque isso permitia criar uma falsa disputa com o Rio de Janeiro e “federalizar” o problema.
No que o Datafolha o ajuda, agora, colocando “num balde só”  do risco de racionamento  o Cantareira, com 12% de água, e o Sistema Elétrico Nacional que, somando todas as regiões – que são interligadas e podem gerar, de forma quase indistinta, energia para qualquer região do país – que têm hoje, no total, 40,5% de sua capacidade de reserva.
Anteontem, este blog que não é, absolutamente, dotado de poderes paranormais, afirmou que a semana não terminaria sem que começasse, “de fato, o racionamento de água em São Paulo.”
Já começou, embora só hoje tenha sido feita uma reportagem com características de “curiosidade”.
Ora, “rodízio” é em churrascaria, Governador.
Entrar água por dois dias e secar em um é  r-a-c-i-o-n-a-m-e-n-t-o.
É essa a forma de racionar possível, porque de outra forma não é possível controlar o gasto.
O senhor não vai colocar estas simpáticas e prestativas senhoras que estão atuando como “guardiãs da água” do lado de cada torneira, de cada chuveiro, de cada vaso sanitário, não é?
Tão triste quanto este espetáculo de cinismo é o que a imprensa paulista faz.
Aceita qualquer versão.
Volume morto, que jamais foi usado e ninguém sabe o quanto poderá ser aproveitado, vira “reserva técnica”.
O racionamento vira “rodízio”.
As obras do bombeamento do Atibainha não mereceram um reportagem sequer. Ninguém sabe como andam.
As duas últimas saídas de água do Jaguari-Jacareí estão no estado que você vê na foto ao lado, publicada pela Folha sem nenhum tipo de informação.
Essa torre está 31 metros abaixo de seu nível máximo e resta 1,7 metro de água acima do final das grades da comporta gradeada que, como é obvio, admite cada vez menos líquido quanto mais o nível abaixa.
Este é o tamanho da cumplicidade da imprensa de São Paulo diante do problema e das atitudes de Geraldo Alckmin.
E da covardia da Agência Nacional de Águas, que não assumiu aos quatro ventos o que foi dito ao Governador em janeiro: racione, evite que isso tenha de ser feito de forma mais drástica e permanente.
Este blog, antes de defender ou atacar governos ou partidos, defende a responsabilidade para com a população e ataca tudo aquilo que possa submete-la a sacrifícios além do necessário.
E defende o jornalismo, que está num nível mais baixo que o do Cantareira.
Não é possível que, com todas as informações públicas, ao alcance de um clique de mouse , nem assim os jornais possam dar a dimensão de um problema que afeta e afetará por muitos e muitos meses oito milhões de paulistanos.

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