sexta-feira, 28 de março de 2014

I'M FIXING A HOLE

Essa canção dos Beatles sempre me intrigou. Na realidade, os dois primeiros versos: Estou consertando um buraco por onde a chuva entra / e impede minha mente de divagar.

Não sei bem porque. Na época do lançamento, eu teria meus vinte e poucos anos - a mesma idade deles. Escolhi esses dois primeiros versos, sem saber bem o que eles queriam dizer, ou se eles estavam tentando dizer alguma coisa a mais. Para o resto do poema não prestei muita atenção, e agora, revendo ele inteiro, continua sem dizer muita coisa para mim. Na parte musical, a mesma coisa, só a dos primeiros versos me chamou a atenção.

Nestes dias, em que o conceito de trabalho necessário tem perdido o sentido que tinha antes numa sociedade pós-industrial, em que um intelectual italiano escreve sobre "Ócio Criativo", e em que um economista prêmio nobel escreve um livro com o título "Desenvolvimento como Liberdade", livrar-se do buraco que não deixa a mente vagar tem outros significados. 

O buraco, por sua vez, pode ser questão mais grave. Pode impedir a liberdade. Pode vir de problemas familiares, afetivos. Pode vir da atuação de fascistas e defensores de ditaduras em um regime democrático, antes que uma democracia real, orgânica, possa se estabelecer, para ser capaz de ser um contraponto ao domínio extenso e esmagador do capital (também chamado de mercado). 

Em minha juventude não foi um buraco, foi uma catástrofe - o golpe civil-militar de 1964, supervisionado e parcialmente financiado pelos Estados Unidos, que fincou sobre o país uma ditadura que durou mais de vinte anos, e que até agora não foi "fixed". 





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