domingo, 16 de março de 2014

GOLPISTAS DEVEM SER ENFRENTADOS, PELO GOVERNO E PELO POVO

Eles querem eliminar a pouca liberdade adquirida pela maioria da população. O espaço dos golpistas é o espaço do capitalismo sem freios e dos interesses estadunidenses, que procuram desestabilizar qualquer país cujo governo não lhes seja subordinado. Tem o apoio dos setores da classe média que seguem o que a mídia comercial e a imprensa raivosa ditam. Um governo não se defende - pelo menos de seus sabotadores internos - até merece ser derrubado, mas a covardia no caso será um crime contra a nação. Abaixo, alerta do Escrevinhador. 

Ei, Dilma! Ei, Amorim! Tem general propondo golpe militar: reajam!

publicada sexta-feira, 14/03/2014 às 17:34 e atualizada sexta-feira, 14/03/2014 às 17:24
Não dá mais pra fingir que nada está acontecendo...
 “Há uma clara insubordinação à Constituição e ao governo, que deveria ser respondida. É espantoso que o Ministério da Defesa e o Ministério da Justiça permaneçam mudos.”

por Pedro Pomar e Rodrigo Vianna

Independentemente das avaliações que faça sobre o alcance real da latente rebelião da extrema-direita militar (e civil) frente à Comissão Nacional da Verdade (CNV) e à própria existência da gestão Dilma, o governo federal não pode se omitir diante da propaganda e convocação de um golpe militar, ou seja, de um movimento armado que pretenda derrubá-lo.
Trata-se de um governo constitucionalmente eleito e em pleno exercício de suas atribuições. Não pode admitir que generais, da ativa ou da reserva, se dêem ao direito de disparar mensagens pelas redes sociais (e presumivelmente por outros meios) convocando colegas de farda e apoiadores civis a derrubar o governo.

Pois bem: é exatamente isso que vem acontecendo. Um general de brigada reformado, Paulo Chagas, acaba de postar mensagem no blogue Sociedade Militar em que prega um golpe militar, utilizando como pretexto a recente decisão do STF de absolver os réus da AP 470 do crime de formação de quadrilha!

“A debacle [derrocada, ruína] da Suprema Corte, desmoralizada por arranjos tortuosos que transformaram criminosos em vítimas da própria Justiça, compromete a crença dos brasileiros nas instituições republicanas”, diz o general Chagas, para quem esse fato soma-se “às muitas razões que fazem com que, com frequência e veemência cada vez maior, os Generais sejam instados a intervir na vida nacional para dar outro rumo ao movimento que, cristalinamente, está comprometendo o futuro do Brasil”.

Prossegue o militar golpista, agora fazendo alusão aos acontecimentos da Venezuela: “Os militares em reserva se têm somado aos civis que enxergam em uma atitude das Forças Armadas a tábua da salvação para a Pátria ameaçada, quando não são eles próprios os alvos do clamor daqueles que já identificam nas imagens dramáticas da capital venezuelana a cor fúnebre do nosso destino”.

Acrescenta, adiante, que ao “exercerem seu direito legal de opinar e criticar, os militares da reserva diferem entre si na forma, na intensidade e na oportunidade de uma eventual intervenção militar que venha a dissuadir as pretensões mais ousadas dos dissimulados adeptos da versão ‘bolivariana’ do comunismo de sempre, todavia, são coincidentes e uníssonos no rebatimento de acusações mentirosas que, divulgadas de forma criminosa, visam a criar na sociedade o receio de ter os militares como fiadores da democracia”. O que seria uma “eventual intervenção militar”, se não um golpe de Estado?

Civis ingratos?

O general também se queixa daqueles civis que segundo ele desejam uma ação militar, mas não saem em defesa da Ditadura iniciada em 1964: “Todos querem que os Generais ‘façam alguma coisa’, mas ainda são poucos os que se dispõem a fazer o que está ao seu alcance. Poucos são os que adotam atitudes concretas e manifestam-se pública, individual e coletivamente, em defesa dos governos militares, escrevendo para os jornais ou protestando contra a hipocrisia e as más intensões [sic] das ‘comissões da verdade’”.

Prossegue o general, conclamando maior apoio civil ao golpismo: “No momento atual, a causa da democracia não dispensa o concurso de ninguém. Seria portanto uma importante contribuição se todos os civis que têm as Forças Armadas como última razão da liberdade e a garantia dos fundamentos constitucionais pusessem suas opiniões a público, em artigos, manifestações, textos, ‘cartas do leitor’ e outros recursos do gênero e não apenas em comentários restritos à leitura dos poucos profissionais da mídia que ainda ousam remar contra a correnteza ou dos escribas de mídias sociais que, mesmo comprometidos com a causa, têm apenas seu limitado e débil sopro para tentar enfunar as velas da embarcação”.

Causa da democracia? “Última razão da liberdade”? Ora, o Brasil vive um período de relativamente ampla liberdade política, pelo menos nos marcos da institucionalidade. Tanto é que até provocadores de extrema-direita como o deputado federal Jair Bolsonaro, ex-capitão do Exército, movimentam-se à vontade. Mas voltemos ao texto do general.

“As pessoas de bem, informadas, estão com medo do futuro, acuadas até para reagir e para manifestarem-se pacificamente”, continua Chagas. “Não basta, portanto, pedir uma atitude dos militares, é preciso que os civis esclarecidos e convencidos do perigo ostentem massivamente suas posições e opiniões e que contribuam para magnetizar a agulha que definirá o novo rumo a ser tomado”.

Nova “Marcha com Deus”, novo golpe?

O militar não explica por que as “pessoas de bem” estariam “acuadas”. Quem as está acuando? Mas o “novo rumo” proposto fica claro no trecho final de seu texto: “As ‘Marchas da Família com Deus Pela Liberdade’, programadas para o mês que inicia, são um bom começo para esta soma de esforços e para reafirmar o que, há cinquenta anos, fez com que o Brasil fosse visto e admirado como a ‘Nação que salvou a si própria’!”.

Em suma, o general está propondo um novo golpe. Novamente contra um governo legítimo, como ocorreu em 1964 contra João Goulart. E as mensagens de apoio que ele vem recebendo, na linha expressa de “Eu apoio a intervenção militar”, e mesmo de um ex-fuzileiro naval que se coloca “à disposição”, sugerem que sua mensagem foi devidamente compreendida.

Quando dezenas de generais das três Armas assinaram e divulgaram virulentos manifestos contra o governo, em 2012, o ministro da Defesa, Celso Amorim, anunciou que haveria punições. Não houve. De lá para cá, generais da ativa e da reserva continuam a a rosnar ameaças, a dar declarações a propósito de assuntos que não lhes dizem respeito, e a proferir insultos contra a CNV. Caso o governo continue fingindo que nada acontece, estará incorrendo novamente em grave omissão.

Há uma clara insubordinação à Constituição e ao governo, que deveria ser respondida. É espantoso que o Ministério da Defesa e o Ministério da Justiça permaneçam mudos. Parece que a Defesa foi “capturada” pelas Forças Armadas, como se costuma dizer de agências nacionais que passam a ser controladas pelos interesses econômicos que deveriam ser fiscalizados e controlados por elas.

Desse modo, permite-se ao fascismo fardado e civil articular-se à vontade e crescer, criando ameaças reais à sociedade brasileira. A Polícia Federal, que vem sendo utilizada para reprimir povos indígenas, e a Agência Brasileira de Informação (Abin), sempre tão atenta aos movimentos sociais de esquerda, não conseguem enxergar o perigo fascista?
O governo petista, também nesse tema, parece submeter sua ação inteiramente ao cálculo eleitoral: se a extrema-direita é minoritária, para que gastar capital político confrontando o discurso golpista?

No próximo dia 22, a extrema-direita promete sair às ruas. Para o general Chagas, a tal “Marcha” seria apenas “um bom começo”. Para a esquerda e os democratas em geral, será o momento decisivo para avaliar: Dilma e Celso Amorim fazem bem ao fingir que nada está acontecendo? Ainda que as Marchas do dia 22 reúnam pouca gente, parece absurdo que um governo legítimo e as forças políticas que o apóiam assistam inertes ao avanço do golpismo.
Aliás, a reação ao golpismo deveria reunir também os setores democráticos da oposição – gente séria que, à esquerda ou ao centro, não aceita que o país caminhe de volta para uma ditadura militar.

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