quinta-feira, 20 de março de 2014

GOLPE DE 1964, GOLPISMO EM 2014

Deu no Viomundo. Em 1964, como agora, uma certa opinião publicada foi fabricada, e proclamada opinião pública. Democracia, mesmo limitada e dominada pelo capital como é atualmente, constitui um valor transcendente, indispensável para a coesão social. Principalmente porque não estamos (ainda) invadidos por grandes contingentes de agentes vindos de fora (adivinhe de onde), como tem acontecido no Oriente Médio, Norte da África, Venezuela e Ucrânia.


Pesquisas do Ibope: Reforma agrária tinha grande apoio popular às vésperas do golpe; Jango seria forte candidato

publicado em 19 de março de 2014 às 13:47
por Luiz Carlos Azenha
Cinquenta anos depois do golpe de 1964, as máscaras continuam a cair. Certo historialismo sempre quis fazer crer que João Goulart caiu “de maduro”. Porém, pesquisas do IBOPE feitas na época, algumas das quais nunca divulgadas, demonstram que uma das principais plataformas de Jango tinha forte apoio popular: a reforma agrária. A política econômica do presidente derrubado também tinha apoio da maioria.

Naquela época, presidente e vice presidente eram escolhidos em eleições simultâneas mas separadas. Foi isso que possibilitou a eleição de uma chapa que apontava em direções distintas: Jânio Quadros de presidente (pela coalizão PTN-PDC-UDN-PR-PL) e João Goulart de vice. Quadros renunciou, aparentemente à espera de voltar por cima. Goulart, eleito pela coalizão liderada pelo PTB, sob oposição dos militares, só assumiu com a aprovação do parlamentarismo, costurado num acordo feito por Tancredo Neves (do PSD). Mais tarde, a população apoiou em plebiscito a volta do presidencialismo — já uma demonstração de forte apoio ao projeto trabalhista de Jango.

O Brasil era, então, um país muito mais provinciano. As forças de oposição a Jango controlavam os governos de São Paulo (Adhemar de Barros, do PSP, o Partido Social Progressista), Guanabara (Carlos Lacerda, da UDN) e Minas Gerais (Magalhães Pinto, da UDN). Nas comunicações entre o embaixador dos Estados Unidos no Rio e Washington, estes governadores eram apontados como essenciais em qualquer tentativa de conter Jango.

A imprensa brasileira era, igualmente, menos nacionalizada. A diversidade de jornais era grande. Jango só contava com a Última Hora, de Samuel Wainer, e a TV Excelsior, do empresário Mário Wallace Simonsen. Em São Paulo tanto a Folha de S. Paulo quanto O Estado de São Paulo faziam fortes críticas ao governo. Os empresários Octávio Frias e os irmãos Mesquita se ligaram ao IPES, o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais, uma espécie de Instituto Millenium anabolizado, determinado a combater “o avanço do comunismo soviético no ocidente”. O IPES aglutinou, organizou, propagandeou e financiou, ainda que indiretamente, a derrubada de Jango. Na Guanabara, o mesmo papel era feito pelos jornais O GloboCorreio da ManhãJornal do Brasil eTribuna da Imprensa.

Como Jango ocupava o Palácio do Planalto, havia dúvidas se poderia se candidatar em seguida (não havia, à época, o instituto da reeleição). Na ausência dele, os candidatos mais fortes seriam o ex-presidente Juscelino Kubistchek (PSD) e o direitista Carlos Lacerda. Porém, as pesquisas agora divulgadas demonstram que o candidato puro sangue da direita tinha poucas possibilidades de bater o centrista JK.

Este preâmbulo é necessário para apresentar as pesquisas que Luiz Antonio Dias, chefe do Departamento de História da PUC de São Paulo, resgatou dos arquivos.

Ele é professor do programa de pós graduação de História da PUCSP e de Ciências Humanas da UNISA. Algumas dessas pesquisas são analisadas em um capítulo do livro  O jornalismo e o golpe de 1964: 50 anos depois, que será lançado em abril no evento Mídia e memórias do autoritarismo, que acontecerá na Escola de Comunicação da UFRJ.

Notem que o apoio ao trabalhista Jango se dava nas camadas sociais mais pobres e era esmagador no Nordeste, onde o projeto da reforma agrária tinha grande ressonância. A segunda pesquisa apresentada abaixo foi feita dias antes do golpe. Em pergunta não tabulada aqui, a maioria revelou que tinha medo crescente do comunismo, mas não associava comunismo ao governo João Goulart.

Eis os resultados:

IBOPE – Pesquisas Especiais. Notação PE053 MR275. Realizada em diversas cidades do país, 16 no total. 500 entrevistas nas capitais e 300 nas demais cidades (total de entrevistados: 6.400). Entre junho e julho de 1963. Sem indicação de contratante.


IBOPE – Pesquisas Especiais. Notação PE 060 MR0277. Pesquisa de Opinião Pública Realizada em Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, entre 9 a 26 de março de 1964. Sem identificação de contratante. 500 entrevistados em SP e Rio e 400 nas demais (pesquisa ampla, com muitas questões, algumas aponto abaixo, uma das poucas pesquisas realizadas em várias cidades quase ao mesmo tempo). Essa pesquisa não foi publicada/divulgada em 1964.



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