quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

SOBRE VENEZUELA E A MÍDIA BRASILEIRA

Do Escrevinhador.


Igor Fuser dá uma aula sobre Venezuela – e passa pito na Globo, em plena Globo

publicada quarta-feira, 19/02/2014 às 14:48 e atualizada quarta-feira, 19/02/2014 às 15:02
“Nunca vi nem na Globo nem nos jornais brasileiros uma única notícia positiva sobre a Venezuela. Uma única.  Será que em 15 anos de chavismo não aconteceu nada positivo? Cadê o outro lado? Será que os venezuelanos que votaram no Chávez e no Maduro são tão burros, de votar em governo que só faz coisa errada?” (Igor Fuser, professor da UFABC) 
Igor Fuser passou um sabão na Globo...
por Paulo Donizetti de Souza, na Rede Brasil Atual
O professor de Relações Internacionais da USP José Augusto Guillon e a apresentadora Mônica Waldvoguel, do programa Entre Aspas, da Globonews, chegaram ao limite da gagueira, ontem (18), durante debate a respeito da crise na Venezuela com a participação do jornalista Igor Fuser, do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC). O debate começa dirigido, ao oferecer como gancho para a discussão a figura de Leopoldo Lopez, o líder oposicionista acusado de instigar a violência nos protestos das últimas semanas, e preso ontem.

Diz a narração de abertura: “Ele é acusado de assassinato, vandalismo e de incitar a violência. Mas o verdadeiro crime de Lopez, se podemos chamar isso de crime, foi convocar uma onda de protesto contra o governo de Nicolás Maduro. Protestos seguidos de confrontos que deixaram quatro mortos e dezenas de feridos”. E segue descrevendo que a violência política decorre da imensa crise no país – inflação, falta de produtos nas prateleiras, criminalidade em alta. Ainda no texto de abertura, na voz de Mônica, o governo é acusado de controlar a economia e a Justiça, pressionar a imprensa e lançar milícias chavistas contra dissidentes. E encerra afirmando que Leopoldo Lopez, na linha de frente, reivindica canais de expressão para os venezuelanos, e abrem-se as aspas para Lopez: “Se os meios de expressão calam, que falem as ruas”.

Do início ao fim do debate, com serenidade e domínio sobre o assunto, Igor Fuser leva a apresentadora e o interlocutor às cordas desde o início. Reconhece as dificuldades políticas do presidente Nicolás Maduro e a divisão da sociedade venezuela. Mas corrige os críticos, ao enfatizar que o país vive uma democracia, e opinar que a campanha liderada por Lopez é “golpista”, ao ter como mote a derrubada do governo legitimamente eleito com mandato até 2019.

Fuser informa que em dezembro se cristalizou um processo de diálogo entre governo e oposição, então liderada por Henrique Capriles, derrotado nas duas últimas eleições presidenciais por margem muito pequena de votos. E que a disposição ao diálogo levou a direita mais radical a isolá-lo, permitindo a ascensão de figuras como Leopoldo Lopez. Indagado se não seria legítimo as manifestações da ruas pedirem a saída do governo, como foi no Egito ou está sendo na Ucrânia, o professor da UFABC resume que as manifestações na Ucrânia são conduzidas por nazistas, e no Egito a multidão protestava contra uma ditadura. Lembra que na Venezuela houve quatro eleições nos últimos 15 meses, que o chavismo venceu todas no plano federal, mas que as oposições venceram em cidades e estados importantes, governam normalmente e as instituições funcionam, e que a Constituição é cumprida.

Questionado sobre a legitimidade da Constituição – que teria sido sido aprovada apenas por maioria simples – informou que a Carta, depois de passar pelo Parlamento, foi submetida a referendo popular e aprovada por 80% dos venezuelanos – o que inclui, portanto, mais da metade dos que hoje votam na oposição. E à ironia dos debatedores, de que seria paranoia das esquerdas acusar os Estados Unidos de patrocinar uma suposta tentativa de golpe, esclareceu: os Estados Unidos estiveram por trás de tantos golpes da América Latina – na Guatemala nos anos 1950, no Brasil em 1964, no Chile em 1973, na própria Venezuela em 2002 – que não é nenhum absurdo supor que estejam por trás de mais um. E que também não é absurdo, em nenhum país do mundo, expulsar diplomatas que se reúnem com a oposição como se fossem dela integrantes.

O jornalista desmontou também os argumentos de que o país sofre de ausência de liberdade de expressão. Disse que o governo dispõe, de fato, de jornais, canais de rádio e de televisão importantes, mas que dois terços dos veículos de imprensa da Venezuela são controlados por forças oposicionistas. E que o que existe na Venezuela seria, portanto, a possibilidade de contraponto. E Fuser foi ferino no exemplo dos problemas que a ausência de diversidade nos meios de comunicações causam à qualidade da informação: “Sou jornalista de formação e nunca vi nem na Globo nem nos jornais brasileiros uma única notícia positiva sobre a Venezuela. Uma única. A gente pode ter a opinião que a gente quiser sobre a Venezuela, é um país muito complicado. Agora, será que em 15 anos de chavismo naõ aconteceu nada positivo? Eu nunca vi. Não é possível que só mostrem o que é supostamente ruim. Cadê o outro lado? Será que os venezuelanos que votaram no Chávez e no Maduro são tão burros, de votar em governo que só faz coisa errada?”

Vale a pena assistir aos 26 minutos de programa. Essa crítica à Globo em plena Globo está nos dois minutos finais.
E fecha aspas! Fecha aspas!
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19 Comentários

19 Comentários para “Igor Fuser dá uma aula sobre Venezuela – e passa pito na Globo, em plena Globo”

  1.  Flavio Lima disse:
    Corrije essa capctha ai Rodrigo, não consigo comentar cara.
  2.  thiago hellinger disse:
    fala serio!!
    O cara diz que a imprensa não é censurada na Venezuela, mas veículos de comunicação diz q a miss, morta durante os protestos, na verdade foi morta em um assalto. Manipulação da informação!
    Só por isso perde a credibilidade em suas palavras por sua ideologia claramente implícita!!
    Obrigado
  3.  Vicente de Paula Chicoli disse:
    Que maravilha de palavras, homem de coragem que não tem medo dos paus mandado do PIG.
    Será que o PT ou seu Ministro da Comunicação teriam a mesma coragem.
    Parabéns Sr. Igor Fuser, a leitura me deu arrepio de felicidade.
  4.  Iza disse:
    Assisti ontem! Parabéns ao jornalista Igor Fuser.
    Os dois últimos minutos foi simplesmente fenomenal.
    Dona Mônica Waldvoguel não sabia o que fazer, ficou paralisada, apavorada.
    Quase mori de rir.
  5. [...] Igor Fuser estraga o “Entre Aspas” Rudá / 1 minuto ago 19 de fevereiro de 2014 Jornalista Igor Fuser estraga festa de Monica Waldvogel [...]
  6.  ivo gomes disse:
    De uma coisa eu tenho certeza: na Globo, Igor Fuser não será mais convidado para participar de programas! Achei bastante pertinentes suas intervenções, colocou os medíocres fantoches da Globo em seus devidos lugares!
  7.  Marcos Antônio Aparecido dos Santos disse:
    Sei de uma coisa: existem verdades que em certos tempos são incontáveis. Sei também que nenhum país do mundo é total-mente democrático. Ela, por si só, apenas possibilita que uns predominem sobre alguns muitos sobreviventes, em detri-mento de outros. Nunca é plena, em uma sociedade de clas-ses. E quem é a elite das elites no mundo?
    Que canal da rede globo foi mesmo? …Queria ter assistido.
  8.  Roberto Locatelli disse:
    Que ótimo! Pena que esse professor nunca mais será chamado para comentar nada na Globo…
  9.  Batista Neto, Jose disse:
    Realmente desde a abertura a Monica mostrou a parcialidade descarada que pretendia impor ao debate e o jornalista Igor Fuser conseguiu virar o jogo mesmo em desvantagem de um contra dois porque La Waldwoguel assumiu abertamente o lado do professor da USP na tentativa de qualificar o governo Maduro como uma ditadura. O final foi impagável porque a mediadora (mediadora?) não teve o que dizer contra o argumento de que durante quinze anos NUNCA a GLOBO deu uma nota sequer de pé de pagina sobre uma única coisa sequer positiva do governo da Venezuela. Não teve como retrucar a afirmação por um motivo muito simples. É VERDADE!!!
  10.  Marcelo disse:
    Que debate lindo, Igor da uma aula no programa, aos outros dois restaram a ironia de quem não tinha conteúdo para argumentar.
  11.  Roberto de Paulo disse:
    AQUI no BRASIL,a globo esconde os tucanos,como se fossem honestos,camuflam o roubo,que chega a ser vergonhoso,e é em todo o PAÍS.
  12.  Maria Alice disse:
    Excelente aula do professor Igor Fuser!!! Mostrou que, para se debater a situação política de um país, é um dever moral conhecer, no mínimo, as regras de sua Constituição, sob pena de se corromper a lisura da informação. Parabéns pela ética demonstrada no debate no “campo minado”!!!
  13.  myrian disse:
    Engraçada a sua observação, uma vez que ele falou mal da Globo num canal da própria Globo…
    Isso é liberdade de expressão senhor, e sua insinuação é intelectualmente desonesta (caso saiba o que está fazendo) ou burra (caso tenha perdido a capacidade de raciocinar).
    Gostaria de poder ver um opositor do governo Maduro conseguir falar em qualquer canal governista da Venezuela…
    Gozado é que nenhum comunista vai morar em Cuba, na Venezuela ou na Coréia do Norte que cantam em verso e prosa. Ficam por aqui e vão a Miami, Paris…
  14.  Paulo disse:
    Existe um golpe de estado em gestacao no Brasil. So os ingenuos nao precebem. Se vao conseguir é outra estoria. Os mesmos, a elite dehoje é a mesma de 1964. Até os orgaos de imprensa sao os mesmos. Na Ucrania, no Egito, na Siria, na Libia, todos eles estiveram ou estao sobre pressao dos EUA, appiados pela imprensa( no Brasil, quase toda). Infelizmente nosso Estado nao possui mecanismo de auto-defesa e estamos sujeitos a essa pressao. As frcas progressistas teriam de partir pra ofensiva al inves de sempre na defensiva!
  15.  André Portocarreroa disse:
    Não os Venezuelanos não são BURROS…são oprimidos! E os brasileiros que votaram no PT, quando não oprimidos, são manipulados, simples assim. Coitados dos alunos desse “professor”…”jornalista” ou sei lá o que que o tal seja. Padece do mesmo mal de todos petistas…só enxerga o que quer, por mais que a realidade esteja escancarada à sua frente! Pau mandado, cartilhado, subserviente!
  16.  ivan disse:
    Parabéns Igor,
    Esta bela sensação que nos trouxe revela o quão somos idiotizados por esta rede de tv. Eles não suportam um round com rigor de análise e contraponto.
    Igor não defendeu apaixonadamente, como muitos fazem pensar. Igor Argumentou… E no máximo eles ficaram putos pelo fato de o governo ter hegemonia eleita. Ou seja, não gostam de democracia direta e verdadeira…
    Tipo: Eles controlam o parlamento? Nossaaaa… Assim como Obama, Merkel, etc.
    O outro professor não passou de um xiliquento teórico. E doido, quando disse que nos EUA um diplomata pode articular um movimento contra o regime americano. Em que mundo este cara está? nos EUA era perpétua!

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