segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

COMENTÁRIOS SOBRE LIBERDADE DE IMPRENSA

Primeiro do Gato, depois do Alberto Dines, dois jornalistas porretas:

Carlos Eduardo Magalhaes



Essa história da prisão dos dois supostos responsáveis da morte do cinegrafistas da Band está mal contada... tem um cheiro estranho no ar, falta credibilidade, todo mundo está ansioso para finalizar de vez o acontecido, não só responsabilizando os dois, como deixar claro possíveis envolvimentos de partidos políticos, pessoas determinadas etc. O buraco, como sempre, é bem mais embaixo e implica numa estranha, mas compreensível, sinergia entre os chamados black blocks e todo esquema de repressão policial.

Não é segredo nenhum que as polícias militares brasileiras, criação da ditadura civil e militar de 64 como força auxiliar do exército para combater a guerrilha urbana, as vezes rural, não tem capacidade técnica e nem formação para policiar cidades. O princípio básico das PMs é combater fortemente armados qualquer inimigo potencial ou verdadeiro sempre violentamente, numa tática de ocupação de espaço e controle da área. Mais ou menos como as forças armadas israelenses fazem nos territórios palestinos. UPPs, nos Rios, tem exatamente essa política. As favelas seriam os "palestinos" que precisam ser "pacificados" e controlados, mesmo que o comércio de drogas na cidade carioca continue firme e forte, como sempre. Só muda quem controla o narcotráfico... isso até virou filme.

Como esperar que uma polícia assim tenha condição de enfrentar e controlar qualquer manifestação de rua? Em qualquer lugar do mundo, manifestações de ruas tem provocações, tem gente exaltada, tem grupos organizados dentro dela para fazer arruaça, vandalismo, tem policiais infiltrados, algumas vezes até agindo contra a própria polícia para justificar um aumento da violência da repressão policial... já foi visto essa tática várias vezes, inclusive nas últimas manifestações no Rio e em São Paulo, onde policiais infiltrados nas passeatas no Rio atiraram bombas tipo molotov contra policiais ou quando soldados da PM paulista depredaram viaturas policiais para incriminar o movimento.

Ano passado, na cidade paulista de Limeira, um jovem foi preso pela polícia militar de São Paulo acusado de participar de um assalto. Foi revistado a procura de armas, algemado com as mãos para trás, colocado dentro da viatura e, segundo os policiais, se matou com uma arama calibre 38! Como? Algemado com as mãos para trás? (Estadão, A26, Metrópole, sábado, dia 15/02/2014). Essa é a polícia preparada para lidar com manifestações de ruas?

No mesmo jornal, página A24, Metrópole, o ministro da justiça Eduardo Cardozo defende o uso de balas de borracha por considerar de baixa letalidade... ora, mesmo que fosse verdade, coisa que não é, visto que a bala de borracha é uma bala comum revestida por uma película de borracha apenas, só por ser de "baixa letalidade" deveriam ser proibidas. Baixa ou não, há letalidade e isso é suficiente para evitar seu uso em manifestações, ainda mais que as PMs envolvidas atiram em qualquer pessoa, esteja ou não na manifestação... inclusive em jornalistas cobrindo o evento!

O que existe de fato é a criminalização dos movimentos sócias e de ruas para tentar impedir que as pessoas saiam para reivindicar qualquer coisa. A criação de mais leis de exceção, em que pese a lei de segurança nacional continuar existindo, só mostra o lado ditatorial de um governo que se elegeu a partir de bandeiras sociais e de respeito a democracia. Ao invés de acabar de vez com a lei de segurança nacional, o Estado brasileiro prefere endurecer mais ainda os controles sociais por meio das polícias e da criação de leis... isso porque a presidenta Dilma foi uma ex-guerrilheira presa e torturada pela ditadura... quem diria... mesmo com tudo, as manifestações de ruas continuarão existindo... quantos corpos serão precisos ainda?


Liberdade corre riscos quando não se sabe o que fazer com ela

Por Alberto Dines em 14/02/2014                
A história está mal contada. E mesmo assim a imprensa a entrega ao freguês como absolutamente verdadeira, verossímil. E inquestionável.
Dois jornalistas do Rio, ambos da Folha de S.Paulo (Janio de Freitas e Paula Cesarino Costa), não engoliram a armação (quinta, 13/2, págs. A-7 e A-2). Mas não são todos os leitores que se dispõem a ler comentários dissidentes, céticos, em textos distantes do noticiário, das fotos e da badalação marqueteira (ver “Sem resposta” e “Quem são eles?”).
Nas matérias factuais sobre a caça aos responsáveis pela morte de Santiago Andrade, transparece o desdém pela inteligência do leitor. Vale o que dizem as fontes e autoridades. Porém, tanto as fontes como as autoridades parecem empenhadas em encerrar o caso atribuindo a culpa pela violência nas manifestações a partidos e políticos de extrema esquerda.
E por que não se investiga a hipótese de que o aliciamento dos baderneiros faz parte da estratégia das milícias para desacreditar o governo estadual e as autoridades policiais?
Foi impecável o trabalho de edição e análise do material televisivo apresentado pela TV Globo no sábado (8/2) com a ajuda do perito Nelson Massini. Graças a ele foi possível identificar com incrível rapidez e chegar ao Bandido nº1, Fabio Raposo, e dois dias depois ao nº 2, Caio de Souza, corresponsáveis pelo disparo do rojão que matou o cinegrafista da Band.
Esta “incrível rapidez” é que chama a atenção. No domingo (9), o Bandido nº 1, ainda na condição de suspeito, já havia contratado um advogado, se apresentara à polícia e era longamente entrevistado pelo Fantástico.
Na quarta-feira (12), o Bandido nº 2 era localizado numa pousada em Feira de Santana (BA), já com um advogado a tiracolo – o mesmo do outro! – e dava entrevista à Globo antes de embarcar para o Rio sob escolta policial.
A informação de que os arruaceiros recebiam dinheiro de políticos para radicalizar os protestos foi dada por Caio de Souza e confirmada pelo advogado, Jonas Tadeu Nunes. Se ele conhecia esta conexão política, por que razão não a adiantou à polícia tão logo prenderam o Bandido nº 1?
Contra a democracia
E quem é este super-causídico que se desloca com tanta rapidez e eficiência para atender clientes aparentemente sem conexão e, de repente, implicados no mesmo crime? Jonas Tadeu Nunes não parece o clássico rábula de porta do xadrez. Tem escritório num shopping fuleiro do Recreio dos Bandeirantes, tem amigos na polícia civil do Rio, já defendeu um ex-deputado estadual (Natalino Guimarães) acusado de fazer parte das milícias e tem entre os clientes um ex-coronel da PM fluminense, exonerado pelo secretário de Segurança do Estado do Rio. Alega que o Bandido nº 1 era conhecido do estagiário do seu escritório e que chegou ao nº 2 porque eram amigos.
A suspeita de que partidos de extrema-esquerda são aliciadores dos vândalos permeia insistentemente o noticiário desde segunda-feira (10/2) sem comprovações ou indícios concretos. A presença do advogado Jonas Tadeu Nunes não despertou desconfianças.
Neste mix de tons de cinza, siglas, militâncias e agentes provocadores circula a figura sofisticada da “ativista” Elisa Sanzi, vulgo Sininho. E a partir da edição de quinta-feira doGlobo, incorporou-se ao insólito grupo o ex-governador Anthony Garotinho (hoje no PR tentando chantagear o PT), desde o ano passado acusado de ser o instigador da cruzada contra o governador Sérgio Cabral Filho.
O ingrediente mais preocupante desta desconjuntada cobertura começou logo depois do anúncio da morte cerebral do cinegrafista da TV Bandeirantes, quando a mídia em peso lançou-se numa emocionada cruzada em defesa da liberdade de expressão. Na sua edição de quinta-feira (13/2), seis páginas do Globo levavam no cabeçalho o selo “Ataque à Liberdade de Expressão”, numa evidente exploração política da tragédia.
Tanto os vídeos como os depoimentos da dupla de bandidos coincidem em demonstrar que o rojão-assassino foi aceso e colocado no chão. Não foi apontado contra o cinegrafista, nem contra alguém em especial. O cadáver que se procurava era o da democracia.
A liberdade de expressão corre perigo sempre. Em qualquer momento e lugar. Mas, sobretudo, quando seus beneficiários e defensores se atrapalham e não sabem o que fazer com ela.

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