domingo, 15 de dezembro de 2013

TEXANOS NO BRASIL

Texanos são um tipo especial de estadunidenses. Tem gente boa de lá, como tem em todo lugar. Mas no coletivo eles tendem a encarnar o cowboy mais que os outros. É de lá que vieram os Bush. E é de lá que veio a AES, dona da AES Eletropaulo.

Os eletricitários que na década de 1990 depararam com o início da ofensiva de privatização do setor elétrico, e que começaram a reagir ainda no começo do governo FHC, começaram a reagir em atos públicos, em que se contestava as premissas dos privatistas. Nesse atos públicos vieram sindicalistas de outros países que estavam passando há mais tempo pelo processo. E veio um jornalista estadunidense, Greg Palast (ele pode ser encontrado aqui), que foi o primeiro a comentar sobre a corporação de energia AES, em suas atividades lá na grande república do norte.

Em poucas palavras, ele disse que a empresa estava se expandindo no exterior porque nos EE. UU. as comissões de energia estaduais e as organizações de consumidores estavam conseguindo conter a AES em suas práticas abusivas com os consumidores e trabalhadores, e estavam buscando ambientes mais amigáveis.

E eles conseguiram um ambiente muito, muito amigável aqui no Brasil. A maior empresa de distribuição de energia elétrica do país estava sendo vendida pelo governo de Mario Covas, do PSDB. O modelo de privatização tinha sido elaborado por uma consultoria que tinha as empresas de energia interessadas na privatização. A lei de concessões aprovada pelo governo e pelo parlamento do PSDB-PFL (atualmente DEM) tinha entre outras pérolas a de, em um modelo supostamente de mercado, ter incluída uma cláusula em que as tarifas seriam aumentadas para assegurar a viabilidade econômico-financeira do concessionário. 

Por cima de tudo, a AES comprou a Eletropaulo com dinheiro do estado brasileiro (BNDES), e depois recusou-se a pagar. Uma das justificativas da privatização foi a de que o estado brasileiro não tinha capacidade de investir, o que era uma empulhação grosseira, já que o setor elétrico era capaz de se autofinanciar com as tarifas. 

Mas o pior de tudo é que o serviço de energia elétrica continua, quatorze anos depois da privatização, precário, sujeito a apagões localizados em qualquer tempo, por vezes por mais de sete horas, que certamente causaria reações até violentas lá na terra dele. Sabe porque? porque o dinheiro que deveria ser gasto em manutenção e investimentos para tornar o sistema mais confiável é remetido como dividendos para os acionistas da AES. A culpa é de quem?

Texanos não são apenas aqueles senhores que apreciam usar chapéu de vaqueiro, mascando chicletes, de voz fanhosa, executivos e acionistas da AES e dos outros urubus da privatização. Eles estão na ANEEL - Agência Reguladora de Energia Elétrica, que inclui gente que veio e que vai voltar para as empresas reguladas. Estiveram encarnados em Mario Covas, Geraldo Alckmin Fernando Henrique, David Zylbersztajn, Adriano Pires e deputados e senadores, 
responsáveis não só pela privatização em si como pela forma enviesada a favor dos compradores e contra os interesses dos consumidores. Têm estado encarnados nos governos de Lula e Dilma, na medida em que eles se abstêm de iniciativas para impor controle social efetivo aos serviços públicos, o que exige confrontar de forma cautelosa sim, mas firme, com visão estratégica, o tal de "mercado", até em benefício de um mercado feito de toda a gente, não só de uns poucos.

Texanos, ou mexicanos conquistados tambem tem sido os que como eu não aplicamos toda a energia e o talento próprios de cada um, necessários para combater as boas causas deste país. Inclusive dizendo não a eles, de forma clara e direta. Vamos tratar de assumir nossas responsabilidades?


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