segunda-feira, 11 de novembro de 2013

DESASTRES NUCLEARES CIVIS

Recentemente, meu amigo e ex-chefe Professor Roberto Hukai, que pretende escrever um livro sobre problemas da energia nuclear, mandou um e-mail a um outro amigo, o professor Edson Gomes, em resposta ao e-mail original de Edson, com um link para uma matéria sobre o acidente nuclear de Fukushima publicada pelo site RT (Russia Today,neste link), com o conteúdo que vem abaixo, em outra fonte de escrita. Mudei muito pouco o texto, sem alterar o conteúdo, que é extremamente rico em informações e traz a posição de Hukai sobre o futuro da energia nuclear. Este é um tema que vale discutir muito, juntando os acidentes anteriores, com destaque para Chernobyl.


Obrigado pelo artigo. Eu já tinha conhecimento da participação dos Yakusas em Fukushima. Os trabalhadores do Yakusa eram japoneses pobres e dekasseguis das Filipinas, chineses, etc., talvez até brasileiros. Não tinha a menor importância a quantidade de radiação em cima deles.

Em verdade, a coisa foi muito pior do que você imagina. Não vou mencionar todos os absurdos. Eu fiquei tão revoltado com os executivos da TEPCO que sugeri aos japoneses que, sinceramente, eles deviam fazer um HARA-KIRI coletivo em praça pública pela demonstração da extrema ignogância- soma de arrogância com ignorância e atos criminosos. De modo que, discutindo com os professores de engenharia nuclear da Universidade de Toquio (lembra do PhD. da Nanami, a primeira mulher PhD. daquele departamento?) sobre esta arrogância e ignorância.  

Diversos dos seus ex-colegas, meus ex-alunos de engenharia nuclear, me têm enviado milhares, realmente mais de 1.000 páginas, sobre o acidente de Fukushima e me incentivado a escrever um livro sobre Energia Nuclear no Japão. Tenho seguido a história da energia nuclear do Japão entre 1942 até 1978, seguida da visita que fiz com o Prof. Rômulo R. Pieroni, em 1972 ao Japão, em que vimos todas as grandes fábricas de reatores, os centros de pesquisas e de reprocessamento de U-Pu em Tokai Mura e algumas usinas, por exemplo, o site de Monju FBR (Fast Breeder Reactor, reator regenerador refrigerado a sódio), o PWR de Mihama-I etc. 

Bem, hoje os japoneses são os maiores fabricantes de reatores nucleares do mundo (além deles só existem a Areva-Francês, e os coreanos Hyndai-Doosan). Os japoneses anteviram o renascimento da indústria nuclear no mundo, há 7 anos atrás, mas não esperavam que eles mesmos provocariam a morte deste renascimento. A Toshiba pagou U$ 5 Bi. pela Westinghouse Nuclear Division para entrar no mercado Chinês; a Hitachi que tem a tecnologia da GE, e fabricou alguns dos reatores de Fukushima I e de Fukushima II, e a MHI que tem tecnologia própria, derivada da Westinghouse. Quando visitei Mihama I, ainda a MHI pagava 5% pelo know-how da Westinghouse. 

Estive na semana passada em Stanford University discutindo com o Prof. Scott Sagan, exatamente a ressurreição da energia nuclear. O MIT tinha publicado um importante relatório sobre este renascimento, logo antes do acidente de Fukushima (The Future of Nuclear Energy), sob a chefia do Richard Lester, que foi meu colega no MIT e hoje é o Chefe do Departamento de Eng. Nuclear. Infelizmente, Fukushima MATOU este renascimento, e o Shale Gas enterrou para sempre este assunto até o fim deste século. Visitei detalhadamente um shale oil/gas production plant no Texas. Somente no West Texas se produzem 700.000 bbl/d de petróleo e gás de xisto. Em 3 anos deve ir para 3.0 Mi.bbl/d (1,5 vezes maior que petróleo hoje no Brasil). Além da nuclear estarão mortos também as usinas de carvão nos EUA.

Em Tokai Mura houve um acidente de criticalidade com Pu, e 27 técnicos ficaram muito mal de radiação e 2 deles morreram em 3 dias. Houveram dezenas de incidentes nucleares no Japão. Mas, na cultura japonesa, costuma-se ficar quieto para todos esquecerem. Com Fukushima, a merda foi para o ventilador. Um comitê de professores independentes tinham escrito um relatório secreto, contratado pelo Premier Noda em que, se o derretimento atingissem o Nível 7 de Chernobyl, haveria que evacuar 38 Mi. de japoneses, inclusive a Grande Tóquio!   
O que mais me enojou é que o meu antigo colega no MIT, Kenichi Ohmae, fez um relatório adocicado sobre Fukushima, em que mentiu que ele sabia sobre acidente nuclear pois havia estudado com Norman Rasmussen do MIT. Ele estudou materiais nucleares e nada de design. Norman foi meu Supervisor de Tese. Depois, eu soube que o Kenichi havia sido pago pela Hitachi! E, descobriu-se que 3 professores de Eng. Nuclear (Osaka, Toquio e Kyoto) receberam mais de US$ 320.000 para falar sobre quão seguros eram os reatores japoneses. O fato é que, eu visitaria o lugar da explosão da bomba de Hiroshima dois dias depois da explosão pois a radiação foi para 32 km de altura em forma de gases e daí espalharam por milhares de km com os ventos da estratosfera, enquanto que em Fukushima a nuvem radioativa caiu NO LOCAL, das chaminés com 50-70 metros de altura. Até hoje há 100.000 refugiados que não podem voltar para casa. A limpeza do terreno começou a ser discutida com a IAEA há uma semana e levará anos para se completar.

Não pense que eu sou contra energia nuclear. Sou contra a inverdade científica. Fui estudar energia nuclear poque se prometia gerar eletricidade por U$ 1,2/MWh naquela época. Assim foi também com meus colegas que vieram do Japão (era o maior contingente de estudantes estrangeiros no MIT até então). Eles acharam que a rota Urânio-Plutônio proporcionaria ao Japão atingir a INDEPENDÊNCIA ENERGÉTICA. Uma bolinha de uns 5 cm de diâmetro, de 1,0 kg de Urânio totalmente queimado seria energeticamente equivalente a 52 vagões cheios de Carvão (com 72 ton por vagão). Uma bola de Urânio com menos de 80 cm de diâmetro seria equivalente a 1.000 trens de carvão. Esta é a razão porque os meus colegas japoneses estavam no MIT, e eu fui também para lá, pensando em salvar o Brasil do subdesenvolvimento (falava-se então em um custo de1,2 US$/MWh gerado). 

Mera ilusão. A Lei de Murphy era superior à disciplina e técnica japonesas. Monju, que em budhismo significa Sabedoria Luminosa iluminou aos japonêses com a sabedoria que, a Lei da Entropia, vale também no Japão. O sódio de Monju explodiu e, depois de 20 anos de parado, e U$ 16 Bi. de prejuízo,  dois operadores de Monju cometeram hara-kiri por ter derrubado robô com o carregamento de plutônio dentro do Reator Regenerador Rápido, em 2010.

Uma tragédia atrás de outra. Hoje estou escrevendo um livro sobre tudo isto.

Nenhum comentário: