quarta-feira, 16 de outubro de 2013

COMENTANDO A DESIGUALDADE CRESCENTE NA GRÃ-BRETANHA E OUTROS ACONTECIMENTOS

O Carlos Eduardo Magalhães (Gato) comentou abaixo sobre a matéria do Roberto Savio que vem na sequência, e eu faço também um comentário. Ontem dia 15 de outubro, dia do professor, houve quebra-quebra. Não por parte dos professores, ou dos estudantes da USP que montaram a manifestação partindo do largo da Batata em SP, não dos componentes do PSTU e do PSOL que levantaram faixas contra PT e PSDB. Mas dos "black blocs", esses jovens mascarados que, que fizeram depredações na loja Tok Stok, uma loja de automóveis na avenida Eusébio Matoso e em sete agências bancárias da avenida Vital Brasil (inclusive, certamente a em que eu tenho conta).

Os sociólogos e os cientistas políticos, além naturalmente dos jornalistas investigativos que possam acompanhar esses jovens, mais a polícia, poderiam dar algumas pistas sobre quem são eles, e qual o significado de suas ações. Mas eu enxergo algo, para além da possível manipulação deles ou de parte deles por grupos políticos ou sociais interessados na desordem. São pessoas não politizadas, no sentido de que não acreditam e não tentam atuar nas instituições e instâncias de poder do Estado. Essa postura é muito explicável! 

Os partidos que ocupam o poder, o judiciário, os bancos, as grandes empresas, as agências reguladoras, atentos às demandas dos poderosos, têm negligenciado as pessoas comuns. Isto reforça a desigualdade, que no Brasil tem diminuído, mas ainda está bem acima dos níveis dos países mais ricos, inclusive esses onde essa mesma desigualdade está aumentando, como a Inglaterra e os EUA, que são hoje os campeões de desigualdade entre os países ricos. No Brasil, a desigualdade, o consumismo, o cínico exibicionismo dos mais ricos e poderosos tem forçosamente que causar mal estar, que eventualmente fica violento, ainda bem que por ora não contra as pessoas. Agora, eu concordo com o Lula, quando ele diz que fora da política não há solução. Mas os políticos também têm que passar dar mais atenção às pessoas comuns, e menos aos interesses concentrados dos poderosos.




Repassando - Grã-Bretanha retrocede para a era vitoriana

Carlos Eduardo Magalhaes


Impressiona ver como a outrora rica e poderosa Grã-Bretanha está retrocendo no ponto de vista social e econômico... o empobrecimento da sua população, e não só dela mas de quase todos países antes considerados do primeiro mundo, salta a olhos vistos. Como já dizia o velho Marx, para tristeza e desconforto de muita gente, o capitalismo necessita das crises econômicas para se ajustar e este ajuste tem significado ao longo da história, uma maior concentração de capital. Com isso, o empobrecimento aumenta visto que poucos concentram enormes fatias da riqueza produzida mundialmente... e é exatamente isso o que está acontecendo no mundo desde o início da atual crise, em 2008/2009.
Rosa de Luxemburgo, revolucionária e teórica marxista alemã, no início do século 20, escreveu que enquanto o capitalismo tiver regiões no mundo para avançar o sistema continuará forte e acumulando riquezas... se pensarmos que hoje, com uma China e uma Índia, cujas populações somadas chegam a quase 2 bilhões e meio de pessoas (o mundo tem hoje aproximadamente 7 bilhões de pessoas), países de grande extensão territorial, com enormes riquezas naturais (minérios, diversidade biológica, água, talvez petróleo e gás etc.) e que só agora começaram de fato a se integrar no mundo globalizado do capitalismo, há ainda muitas crises pela frente e muito crescimento capitalista a se ver. Quando a África, continente imensamente rico em quase todos recursos naturais, for inteiramente domado, dominado e ocupado pelas grandes corporações capitalistas, por meio das forças militares dos países que ainda dominam o planeta, esse espaço para crescer e concentrar capital será ampliado mais ainda.
Claro que tudo isso provoca grandes contradições, especialmente convulsões sociais... não será nada fácil para os capitalistas esta rota. As inúmeras guerras ao longo da história do capitalismo mostram exatamente isso. As guerras mundiais, locais ou de cunho revolucionário, além de serem ferramentas de dominação e ocupação  dos países, também representam um forte componente na acumulação da riqueza para os capitalistas. O complexo industrial-militar, aliança entre o Pentágono americano e as grandes empresas fabricantes de armas nos EUA, começou a ficar importante neste contexto mundial a partir do final da segunda guerra mundial (1939-1945) e se fortaleceu durante o período da guerra fria (1945-1990).
Dwight D. Eisenhower, comandante supremo das tropas aliadas na Europa e ex-presidente americano (republicano, de 1953 a 1961), na sua despedida do cargo denunciou a existência desta relação e o seu perigo para o país e para o mundo. De lá para cá, a situação só piorou, visto que as indústrias de armas cresceram e continuam crescendo mesmo durante as crises, deixando claro que, ao lado do sistema financeiro (bancos, financeiras, bolsas de valores etc.), da indústria energética e de alimentos, fabricar armas, cada vez mais sofisticas, mortíferas e destrutivas, é um excelente negócio. Confira o texto e saiba mais sobre o que acontece no ex-império britânico...
Grã-Bretanha retrocede para a era vitoriana
Um estudo aponta que, se continuar crescendo no ritmo atual, em 2025 a desigualdade social do Reino Unido será igual à do século 19             
Fonte: Carta Capital

Protesto LondresManifestantes protestam no centro de Londres contra a privatização dos correios do Reino Unido, na sexta-feira 11. As políticas do atual governo são apontadas como parcialmente responsáveis pelo aumento da desigualdade
Por Roberto Sávio
Um informe recente do Centro de Análises de Exclusão Social na London School of Economics prevê que, se continuar no atual ritmo de desigualdade, em 2025 a Grã-Bretanha voltará a viver a realidade social injusta que a caracterizava no final do século 19. Em outras palavras, estamos retrocedendo aos tempos da rainha Vitória!
Em 2010, a renda dos principais executivos das cem maiores empresas britânicas aumentaram 49%, enquanto o aumento salarial médio foi de 2,7%. Segundo um informe da Autoridade Bancária Europeia, em 2011 havia 2.436 banqueiros britânicos que ganhavam por ano mais de um milhão de euros (US$ 1,3 milhão), contra 162 na França e 36 na Holanda com essa renda.
A tendência mundial é a mesma. Na China há 1,3 milhão de milionários.
Forbes, a revista dos ricos, informa alegremente que registra 1.426 multimilionários no mundo, incluídos 122 na China, com patrimônio líquido de US$ 5,4 trilhões.
Isto significa que a riqueza combinada dos multimilionários da Forbes supera o orçamento federal dos Estados Unidos para este ano, de US$ 3,8 trilhões. E se somarmos as fortunas conjuntas dos dez primeiros multimilionários teremos o resultado de US$ 451 bilhões.
Se colocássemos em um avião as 300 pessoas mais ricas do mundo, sua fortuna superaria o patrimônio combinado de três bilhões de pessoas, quase metade da humanidade.
Paul Krugman e Joseph Stigliz, ganhadores do prêmio Nobel de Economia, escreveram extensivamente sobre como as injustiças sociais freiam o desenvolvimento e fomentam crises econômicas.
Krugman documentou que as crises de 1929 e 2008 foram acompanhadas de aumento da desigualdade.
Na década de 1930 foram tomadas medidas contundentes para enfrentar a desigualdade e os interesses ocultos. No mundo atual, esta deve ser nossa principal reflexão, algo que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, não fez. Não esqueçamos que nos tempos de Charles Dickens, Karl Marx denunciava a exploração infantil nas minas britânicas.
Em 1848, a Europa foi sacudida por uma série de convulsões sociais provocadas pela exploração extrema dos trabalhadores. Apesar da repressão, os sindicatos se expandiram e nasceu um movimento político progressista. Marx deu um contexto científico a esta onda crescente, e em 1917, quando triunfou a Revolução Russa, o capitalismo se sentiu ameaçado.
Para conjurar o perigo, muitos países adotaram reformas. Foram legalizados os sindicatos, integrando-os ao sistema político, a esquerda entrou nos parlamentos e houve uma série de iniciativas para dar respostas às demandas populares.
Depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o mundo se transformou rapidamente. Os valores de governança tinham uma forte carga social, que também constava das constituições nacionais: a justiça social, a igualdade, a participação, os direitos trabalhistas, os direitos humanos, a promoção da mulher, a educação para todos, etc.
Mas, façamos uma pausa: seria possível hoje em dia adotar a Declaração Universal dos Direitos Humanos? Os Estados Unidos se comprometeriam a pagar 25% do orçamento da Organização das Nações Unidas (ONU)?
Com a queda do Muro de Berlim (1989) surgiu um novo mundo. O capitalismo, e não o Ocidente, foi o ganhador. E quiseram nos fazer crer que a globalização, entendida como total liberdade para o capital e os investimentos (não para os bens e pessoas), produziria e difundiria bem-estar, segundo a teoria do derrame.
O resultado foi diferente: concentração, iniquidade e evasão de impostos. E já que tanto se publicou sobre paraísos fiscais, espero que baste recordar que eles abrigam US$ 32 trilhões.
A Associação de Bancos Americanos reconhece ter gasto US$ 800 milhões no ano passado fazendo lobby contra a lei de reforma financeira norte-americana, chamada Dodd-Frank, aprovada há mais de três anos. Mas, graças à campanha dos banqueiros, 240 das 398 regras incluídas nessa lei não entraram em vigor.
Desta forma, a verdadeira pergunta é, se em uma sociedade profundamente injusta, a democracia pode funcionar. Ou simplesmente se converte em um mecanismo formal a serviço dos que fazem parte do sistema, ignorando os excluídos? Compartilham a mesma visão do mundo os 300 multimilionários a bordo do avião com os três bilhões de pobres? E, se não é assim, sua visão do mundo conta tanto como a dos 300 multimilionários?
Sabemos que para o tipo de democracia da época vitoriana os indivíduos não eram iguais e estamos conscientes da quantidade de sangue e sacrifícios que foram necessários para alcançar o período de expansão e harmonia social do qual pudemos desfrutar até 1989. Mas, ouviu-se os Obama, as (Angela) Merkel, os (David) Cameron, questionarem sobre esta volta ao passado?
Não esqueçamos o caso de Silvio Berlusconi, o magnata italiano que criou e financiou seu próprio partido, exerceu quatro vezes o cargo de primeiro-ministro, foi declarado culpado de fraude contra o Estado e agora dele depende a estabilidade de seu país. É um expoente da democracia atual, mas, esta é um autêntica democracia? Envolverde/IPS
Roberto Savio é fundador e presidente emérito da agência de notícias IPS (Inter Press Service) e editor do Other News.

Nenhum comentário: