segunda-feira, 23 de setembro de 2013

DO LUIS NASSIF, SOBRE AS BASES DE APOIO PARA AS PRÓXIMAS ELEIÇÕES

FHC sinaliza para mídia e empresários desembarcarem de Serra

José Serra tornou-se o antípoda de Cid, el Campeador. Como Cid, está morto, foi colocado no cavalo da mídia para aparentar estar vivo. Mas, ao contrário de Cid, poderá levar seu partido para a derrota.
Nos últimos meses, os jornais turbinaram como nunca a candidatura José Serra. Visitas inexpressivas a parlamentares amigos, declarações vazias sobre a crise, blefes – exigir “prévias” do PSDB, sabendo que não dispõe de apoio algum da militância -, tudo isso contribuiu para uma versão anti-heróica da lenda de Cid Campeador. 
Hoje, no “Valor”, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fala o óbvio, informa que Serra não dispõe sequer de 3% de apoio do partido, duvida que ele sairá do PSDB para “uma coisa que você não sabe como é” (o PPS), e afirma que não irá jogar contra Aécio em São Paulo, porque ganharia a pecha de traidor.
As afirmações de FHC não mudam em nada o quadro interno do PSDB pró-Aécio. Seu objetivo foi o de coordenar as ações de dois setores relevantes – a velha mídia e o grande capital paulista – para abandonarem de vez o barco furado de Serra e se concentrarem em candidatos competitivos.

O viés regional

Por esses paradoxos tipicamente paulistanos, há dois vetores movendo o grande empresariado: um, o regional; outro, a visão anti-Brasilia.
O regional é o de resistir a tudo o que saia do eixo-Rio-São Paulo. O anti-Brasilia, na verdade, é contra toda forma de estrutura burocrática, seja das próprias organizações empresariais (como a FIESP) seja das administrações públicas.
Dos três pré-candidatos à presidência – Marina, Aécio e Campos -, Marina é a única candidatura paulista.
No jogo político, Marina é apenas o símbolo, com uma imagem bem concatenada com os novos tempos – de militância digital, dos símbolos ligados à natureza etc. Mas quem pensa por ela são grandes empresários, respeitados em seus negócios, refratários aos órgãos de classe e com posição crítica em relação ao Estado. Surgiram na militância em fins dos anos 80, através do PNBE (Pensamento Nacional das Bases Empresariais), contra o burocratismo da FIESP. Alguns deles tornaram-se grandes empresários, mas mantiveram a resistência aos órgãos de classe.
Parte deles é associada do IEDI (Instituto de Estudos e Desenvolvimento Industrial) – o instituto de defesa da indústria. E tem preocupações com a legitimação da atividade empresarial.
Já Aécio Neves e Eduardo Campos são candidatura fora do eixo Rio-São Paulo.
A rivalidade geográfica fez com que a velha mídia sempre ignorasse os trabalhos administrativos tanto de Campos quanto de Aécio. A “denúncia” de que Aécio desviou dinheiro da saúde – uma atitude condenável mas praticada por todos os governadores (atribuir à saúde gastos com saneamento) – partiu da Folha, aliada de Serra, assim como várias reportagens tentando descontruir o tal “choque de gestão” de Minas. O “Pó Para, governador!” – que suscitou a reação da “Privataria Tucana” – foi do Estadão.
Embora bancando Marina, os grandes grupos paulistas admiram a gestão Campos e mantém boas ligações com Aécio. Duvidam da capacidade do PSB de dar uma dimensão nacional à candidatura Campos e aguardam maior profundidade nos pronunciamentos e definições conceituais de Aécio.
Com o balizamento dado por FHC, haverá alinhamento entre os grandes grupos paulistas e a mídia. Daqui para diante, dependerá do potencial de cada candidato. Marina sai na frente, mas duvida-se de sua capacidade de encarar os grandes debates nacionais. Campos sai atrás, mas é o mais articulado. Aécio sai com o apoio maciço de Minas e de FHC.
Tudo é possível, mais ainda a dobradinha Campos-Aécio.

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