segunda-feira, 23 de setembro de 2013

AINDA MAIS MENSALÃO

Esta matéria do jornal Brasil 247, que introduz o vídeo feito pela Revista Retrato do Brasil, de Raimundo Rodrigues Pereira, é destinada a quem não está completamente convencido da culpa dos réus do mentirão, chamado de mensalão pela mídia comercial e por seus leitores. Para os demais não, porque para seus argumentos, os fatos não têm chance. É de se notar que alguns próceres do conservadorismo nacional - Ives Gandra Martins e Claudio Lembo, vêm apontando o caráter de exceção do julgamento da AP 470 pelo Supremo Tribunal Federal. 


DO LUIS NASSIF, SOBRE AS BASES DE APOIO PARA AS PRÓXIMAS ELEIÇÕES

FHC sinaliza para mídia e empresários desembarcarem de Serra

José Serra tornou-se o antípoda de Cid, el Campeador. Como Cid, está morto, foi colocado no cavalo da mídia para aparentar estar vivo. Mas, ao contrário de Cid, poderá levar seu partido para a derrota.
Nos últimos meses, os jornais turbinaram como nunca a candidatura José Serra. Visitas inexpressivas a parlamentares amigos, declarações vazias sobre a crise, blefes – exigir “prévias” do PSDB, sabendo que não dispõe de apoio algum da militância -, tudo isso contribuiu para uma versão anti-heróica da lenda de Cid Campeador. 
Hoje, no “Valor”, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fala o óbvio, informa que Serra não dispõe sequer de 3% de apoio do partido, duvida que ele sairá do PSDB para “uma coisa que você não sabe como é” (o PPS), e afirma que não irá jogar contra Aécio em São Paulo, porque ganharia a pecha de traidor.
As afirmações de FHC não mudam em nada o quadro interno do PSDB pró-Aécio. Seu objetivo foi o de coordenar as ações de dois setores relevantes – a velha mídia e o grande capital paulista – para abandonarem de vez o barco furado de Serra e se concentrarem em candidatos competitivos.

O viés regional

Por esses paradoxos tipicamente paulistanos, há dois vetores movendo o grande empresariado: um, o regional; outro, a visão anti-Brasilia.
O regional é o de resistir a tudo o que saia do eixo-Rio-São Paulo. O anti-Brasilia, na verdade, é contra toda forma de estrutura burocrática, seja das próprias organizações empresariais (como a FIESP) seja das administrações públicas.
Dos três pré-candidatos à presidência – Marina, Aécio e Campos -, Marina é a única candidatura paulista.
No jogo político, Marina é apenas o símbolo, com uma imagem bem concatenada com os novos tempos – de militância digital, dos símbolos ligados à natureza etc. Mas quem pensa por ela são grandes empresários, respeitados em seus negócios, refratários aos órgãos de classe e com posição crítica em relação ao Estado. Surgiram na militância em fins dos anos 80, através do PNBE (Pensamento Nacional das Bases Empresariais), contra o burocratismo da FIESP. Alguns deles tornaram-se grandes empresários, mas mantiveram a resistência aos órgãos de classe.
Parte deles é associada do IEDI (Instituto de Estudos e Desenvolvimento Industrial) – o instituto de defesa da indústria. E tem preocupações com a legitimação da atividade empresarial.
Já Aécio Neves e Eduardo Campos são candidatura fora do eixo Rio-São Paulo.
A rivalidade geográfica fez com que a velha mídia sempre ignorasse os trabalhos administrativos tanto de Campos quanto de Aécio. A “denúncia” de que Aécio desviou dinheiro da saúde – uma atitude condenável mas praticada por todos os governadores (atribuir à saúde gastos com saneamento) – partiu da Folha, aliada de Serra, assim como várias reportagens tentando descontruir o tal “choque de gestão” de Minas. O “Pó Para, governador!” – que suscitou a reação da “Privataria Tucana” – foi do Estadão.
Embora bancando Marina, os grandes grupos paulistas admiram a gestão Campos e mantém boas ligações com Aécio. Duvidam da capacidade do PSB de dar uma dimensão nacional à candidatura Campos e aguardam maior profundidade nos pronunciamentos e definições conceituais de Aécio.
Com o balizamento dado por FHC, haverá alinhamento entre os grandes grupos paulistas e a mídia. Daqui para diante, dependerá do potencial de cada candidato. Marina sai na frente, mas duvida-se de sua capacidade de encarar os grandes debates nacionais. Campos sai atrás, mas é o mais articulado. Aécio sai com o apoio maciço de Minas e de FHC.
Tudo é possível, mais ainda a dobradinha Campos-Aécio.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

AS MULHERES DE PRETO E PAULO MOREIRA LEITE

Este veio do site Carta Capital. 

"Mensalão"

Barbara Paz postou duas imagens no Instagram na tarde desta quinta-feira. Estão na foto Carol Castro, Rosamaria Murtinho, Nathalia Timberg, Susana Vieira e Bárbara
por Lino Bocchini — publicado 19/09/2013 15:59, última modificação 19/09/2013 22:30
Luto
Carol Castro, Rosamaria Murtinho, Nathalia Timberg, Susana Vieira e Bárbara Paz "de luto"
A atriz Bárbara Paz postou duas fotos em sua conta de Instagram nesta quinta-feira com a legenda: "Atrizes em luto pelo Brasil". Na primeira imagem estão Carol Castro, Rosamaria Murtinho, Nathalia Timberg, Susana Vieira e a própria Bárbara, todas de preto e com expressão triste.  Na segunda imagem aparecem apenas Rosamaria, Nathalia e Susana Vieira. A iniciativa é uma espécie de protesto artístico das atrizes por conta do voto de Celso de Mello ontem no julgamento do "mensalão", que reabriu o julgamento para 12 réus do processo. (colaborou José Antonio Lima)

E este, do ISTOÉ Independente - Paulo Moreira Leite 


Os benefícios de uma vitória da democracia

Se o futuro aguarda por outros desafios da Ação Penal 470, o presente oferece bons motivos para comemorar. Há novo oxigênio em Brasília

Aprovada por 6 votos a 5, a aceitação dos embargos infringentes para 12 réus da ação penal 470 trará os benefícios saudáveis de uma vitória da democracia. Ninguém sabe, agora, como o STF irá examinar os pleitos de cada um dos condenados nem quantos poderão receber benefícios que podem ser considerados legais. 
Mas o debate sobre os embargos não era uma decisão corriqueira do tribunal. Continha um risco político que não pode ser desprezado. 
 
A simples hipótese do Supremo se recusar a aplicar um direito legal garantido pelo Congresso em deliberação de 1998 iria criar uma situação esdrúxula. Num país onde a Constituição reserva aos parlamentares o direito de elaborar as leis, e à Justiça a missão de aplicar o que os legisladores aprovaram, teríamos um Supremo capaz de se considerar no direito de seguir essa regra apenas quando optasse por fazer isso. Em outras ocasiões, se dedicariam a reelaborar os ordenamentos do país, mesmo sem dispor de mandato popular para tanto. 
O nome disso nem é mais judicialização. Equivaleria a uma agressão direta à democracia, capaz de criar uma situação instável e perigosa, ainda que pudesse ter aparência de normalidade porque resolvida por senhores de togas negras, senhos franzidos e linguagem que nem todo mundo entende. 
 
O último voto foi dado pelo ministro Celso de Mello e é preocupante que o saldo final tenha sido marcado por uma diferença tão estreita. Assuntos mais polêmicos, que tinham menos impacto direito como as garantias fundamentais, e que geravam compreensível polêmica em vários setores da vida social, como cotas raciais e as uniões homoafetivas, foram aprovadas por unanimidade. 
 
Até o último dia, era possível ler apelos nos meios de comunicação para que o ministro ignorasse a legislação em vigor. Confundindo a realidade com seus desejos, colunistas ameaçavam com “as ruas” e “o monstro.” Nem os cidadãos foram mobilizados. Nem o ministro ficou acovardado, como se pretendia. 
 
Como o próprio Celso de Mello fez questão de demonstrar, nenhum dos argumentos levantados contra os embargos poderia sobreviver a uma análise serena e consistente. Ele respondeu à tese da “multidão” ao lembrar que a imparcialidade, a isenção e independência de um juiz dependem de sua capacidade para distanciar-se dessas pressões para tomar decisões de acordo com sua consciência e suas convicções, exclusivamente. A tese de que havia um vazio jurídico perdeu sentido quando se verificou que o assunto fora debatido e resolvido pelo Congresso há mais de uma década e nunca mais se falou disso. A visão de que os embargos seriam uma porta aberta para a impunidade dos condenados comprovou-se puro absurdo. O ministro recordou que os condenados não terão direito a um segundo grau de jurisdição – garantia elementar não só das leis brasileiras, mas também da jurisprudência da Corte de Costa Rica, à qual nossa Constituição está subordinada, por decisão do próprio Congresso Nacional. 
 
Numa intervenção precisa, em que se dirigiu de forma explícita ou implícita a cada um de seus adversários, naquele tom de quem tem autoridade para olhar no olho de cada integrante do plenário, Celso de Mello foi simples e profundo quando recordou: “Nada se perde quando se respeitam e se cumprem as leis da Constituição da República.” 
 
O país perderia muito caso o dia tivesse terminado com um ato de desrespeito à democracia. Se o futuro aguarda por outros desafios da Ação Penal 470, o presente oferece bons motivos para comemorar. Há novo oxigênio em Brasília

terça-feira, 17 de setembro de 2013

MAIS MAIS MÉDICOS

Este post, do Tijolaço:

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Dr. Coxinha, tenha vergonha de ver como eles são mais brasileiros que você

16 de setembro de 2013 | 20:21
Separei uns videos gravados pelo Ministério da Saúde com médicos cubanos que estão começando a trabalhar nas periferias e nos cafundós deste Brasil, onde a grande maioria dos médicos brasileiros não querem nem pisar.
Claro que, para não deixar isso evidente, dizem que não tem equipamento tecnológico e infra estrutura. E muitas vezes não tem mesmo, é verdade. Mas vai ter o ingrediente mais importante da medicina: o médico, e um médico que não despreza seu paciente – paciente, viu, Dr. Coxinha, não seu “cliente”.
Tem vários, mas eu coloco três, mostrando que, com uma semana, o portunhol já da pro gasto – tirando um doutor, que já está dando “show de bola” em português.
Assista e veja se, com portunhol e tudo, essa gente não está mais brasileira que os que gritaram que eram eles eram escravos….
Dr. Angel Dominguez
Dra. Vivian Chavez
Dra. Aleida Diaz
O Dr. Coxinha jamais vai ser capaz de entender o que eles dizem. E não é por causa da língua, não, é por causa do coração.
Por: Fernando Brito

NAZARENO GODEIRO: DILMA ENTREGA LIBRA A FAMÍLIAS ROCKEFELLER E ROTHSCHILD

Este vídeo foi publicado no Viomundo. Li recentemente um livro muito belo do médico, pintor, ativista antifascista escritor italiano Carlo Levi, Cristo si é fermato a Eboli, ou seja, Cristo parou em Éboli, que por suas atividades políticas foi exilado e confinado na região então chamada de Lucania, no sul da Itália. Nele, é citada a atitude indiferente, resignada, submissa, dos camponeses da região mais pobre da Itália, hoje chamada de Basilicata. Em uma ocasião do passado, os camponeses foram salvos de um dragão por um herói nobre, que por isso devia receber um tributo. Em vez de parte de suas terras, como era usual, os camponeses ofereceram o direito à água do rio que passava por lá, que eles usavam entre outras coisas para irrigar suas lavouras. Isto passou a ser um tributo que empobreceu ainda mais os camponeses daquela região, sempre vivendo no limite, ou abaixo, da sobrevivência. Será que o povo brasileiro vive tão bem que pode se permitir ser assim generoso com o poder financeiro, aquele dos 1 por cento que dominam o mundo, através mídias corporativas e dos governos submissos e resignados?


Uma entrevista de Ildo Sauer sobre o assunto, aqui,  traz outros poderosos argumentos sobre a questão. Infelizmente, em sua recente adesão ao partido proposto pela candidata Marina Silva o professor Sauer não esclarece se ela partilha essa visão estratégica sobre o petróleo, ou se pelo menos pretende usar esse debate num eventual embate eleitoral.



publicado em 15 de setembro de 2013 às 22:09

sábado, 14 de setembro de 2013

TROCAR LIBRA POR SUPERÁVIT PRIMÁRIO É CRIME CONTRA O BRASIL


Foi lobby? (Wilson Dias/Agência Brasil)
Trocar Libra por superávit primário é crime contra o Brasil
por Raul Tadeu Bergamnn* e Roberto Requião**
Do jornal dos Economistas-Corecon/Sindecon/RJ
As privatizações e desnacionalizações feitas por FHC foram os maiores crimes já perpetrados contra a sociedade brasileira.
Significaram a entrega de centenas de bilhões de dólares de patrimônio do povo a preços aviltantes, milhões de empregos destruídos, perda de autonomia tecnológica, substituição de fornecimento de máquinas e insumos nacionais por importados, centenas de bilhões de dólares de remessas de lucros para o exterior e tarifas de serviços públicos extorsivas, as maiores do mundo.
Elas continuam causando sérios problemas econômicos e são as principais responsáveis pela séria crise que poderemos ter no futuro muito próximo. As elevadas tarifas de serviços públicos privatizados são um dos principais fatores que fazem com que nossa moeda se mantenha tão valorizada. Portanto, são uma das principais causas da desindustrialização.
A indexação dessas tarifas é a responsável pelo fato de a inflação no Brasil ser tão resistente. Esses fatores, mais a grande remessa de lucros das empresas desnacionalizadas e importação de insumos e equipamentos por elas realizadas são responsáveis por boa parte do rombo em nosso balanço de pagamentos. O buraco no balanço de pagamentos e essas tendências inflacionárias dos serviços públicos privatizados colocam o governo em posição difícil, sendo praticamente impossível evitar uma crise infl acionária ou de desemprego.
Apesar disso, há quem advogue que mais privatizações sejam a solução para os males causados pelas privatizações do passado. Ao contrário, isso alimenta uma bola de neve: as privatizações e desnacionalizações geram mais remessa de lucros, mais déficit em transações correntes, mais necessidade de atrair capital estrangeiro para cobrir o déficit, gerando um círculo vicioso que redundará em falência do país, esvaindo o pré-sal sem retorno para o Brasil.
O lucro do pré-sal tem que ser reinvestido no desenvolvimento nacional, o que não ocorrerá se ele for entregue ao cartel internacional. O leilão de Libra é uma forma de privatização, cujo valor supera todas as de FHC. Nesse sentido, Dilma estará cometendo um erro até maior do que os de FHC.
A produção de Libra sozinha permitiria um grande avanço econômico, financeiro e tecnológico, resolvendo muito do nosso histórico passivo social, resolvendo os nossos problemas de educação, saúde, segurança, tecnologia, mobilidade urbana, tornando-nos uma sociedade mais próspera e justa.
Com o leilão, o governo entregará para o cartel das multinacionais a propriedade da maior parte do petróleo a ser extraído do campo recém-descoberto e o maior do mundo, com 15 bilhões de barris.
A reserva brasileira de petróleo antes do pré-sal, fruto de 50 anos de exploração, era de 14,2 bilhões de barris, que assegurava 15 anos de autossuficiência.
A Petrobras já descobriu, só no pré-sal, campos com potencial superior a 60 bilhões de barris de óleo de reservas: Libra – 15 bilhões; Lula – 9 bilhões; Iara – 4 bilhões; Carioca – 10 bilhões; Franco – 9 bilhões; Guará – 2 bilhões; área das baleias – 5 bilhões e vários outros. Somadas às anteriores ao pré-sal, ultrapassamos 74 bilhões, 60 anos de autossuficiência.
Fazer leilões em áreas não exploradas é absurdo. Ainda pior é leiloar Libra, campo já descoberto de alto retorno financeiro. Se não precisamos achar mais petróleo, como justificar leilões? É para entregar nosso petróleo?
O pré-sal é a maior oportunidade que já tivemos para o País se tornar uma potência energética, tecnológica e econômica. Possui 100 bilhões de barris, no mínimo, pois até o limite da zona economicamente exclusiva existem mais áreas com boas possibilidades de óleo e gás, atingindo 300 bilhões de barris, segundo o ex-diretor de exploração da Petrobrás e descobridor do pré-sal, Guilherme Estrella.
O regime de partilha, aplicável ao pré-sal, prevê 15% em dinheiro para o Brasil como royalty e uma participação no óleo-lucro de somente de 0 a 30% do petróleo na prática. Assim, o cartel internacional fica com a maior parte da riqueza mais cobiçada do mundo.
A situação é ainda pior fora do pré-sal, como no 11º leilão feito por Dilma, sob o regime de concessão de FHC. Nele, a propriedade do petróleo é entregue à concessionária, pagando 10% em royalties e podendo incluir para alguns campos uma participação especial de, na prática, 11% do valor da produção.
No mundo os países exportadores ficam com a média de 80% da produção.
Assim, abre-se mão do petróleo que deveríamos usar na geração de novas riquezas e empregos no Brasil, bem como seu poder geopolítico, dado pela garantia de suprimento aos países dependentes de petróleo, especialmente o G-7. Esse suprimento causou muitos conf itos desde a Segunda Guerra.
Diante disso, devemos perguntar: por que o governo Dilma está promovendo um leilão para entregar o campo de Libra, já descoberto, com risco zero, diretamente às multinacionais do petróleo?
Seriam três os motivos:
Pressões externas – O Congresso Mundial de Petróleo ocorrido em fevereiro de 2013, no Riocentro, foi um grande lobby pela reabertura dos leilões. No encerramento, o Ministro de Minas e Energia Edison Lobão declarou reabertos os leilões.
É provável que a vinda do vice-presidente americano, Joe Biden, em maio de 2013, tenha visado “convencer” a presidenta Dilma a leiloar Libra e a presidente da Petrobrás, Graça Foster, a não se empenhar na aquisição desse campo.
Agradar os especuladores financeiros – O governo prometeu ao mercado financeiro uma meta contábil de superávit primário. O bônus de Libra, no valor de R$ 15 bilhões, vem a calhar para atingi-la. Todavia, o valor não aumentará o patrimônio do povo brasileiro porque, segundo o contrato da ANP (Agência Nacional de Petróleo), será simplesmente devolvido às multinacionais. Ou seja, por um irrisório adiantamento de 0,6% do PIB, serão entregues, nos próximos 35 anos, mais de R$ 3,45 trilhões em petróleo, um bem finito com demanda e preço permanentemente em elevação.
Pressões externa e interna – O grave problema cambial: o déficit em conta corrente externo está caminhando para US$ 80 bilhões e cresce avassaladoramente devido, em grande parte, à remessa de lucros das mais de 4.000 grandes empresas que foram privatizadas ou desnacionalizadas no governo FHC e nos governos petistas.
Ora, o pré-sal se destina a garantir o futuro dos brasileiros, e não a cumprir uma meta meramente contábil de superávit primário, cuja função é mostrar ao sistema financeiro que o governo é “obediente” e coloca seus “compromissos” com “o mercado” acima das necessidades prementes de aumentar os investimentos em saúde, educação e tecnologia.
Hoje praticamente nenhum país do mundo se obriga a cumprir uma meta de superávit primário, especialmente se não depende de empréstimos de instituições multilaterais como o FMI. E poucos têm superávits primários tão grandes quanto o brasileiro. Entre as grandes nações, também poucas possuem dívidas públicas menores do que a brasileira. Ou seja, em termos do interesse público não há razão para o Brasil cumprir uma meta de superávit primário. Essa irracionalidade, no fundo, se baseia na submissão ao interesse dos grandes bancos em manter um sistema onde mesmo taxas de jurs não levem a uma espiral explosiva de crescimento da dívida pública.
Ou seja, a meta de superávit primário brasileira tem como objetivo de fundo simplesmente dar sustentabilidade à mais inócua política de juros já conhecida, implantada por FHC e mantida até hoje, ainda que de forma abrandada.
Se é um crime contra o Brasil trocar petróleo por meta contábil de superávit primário, pior ainda é saber que, mesmo aceitando a tese do governo da necessidade de fazê-lo, vemos que se tivesse entregado esse bloco à Petrobras, o volume de superávit primário gerado este ano poderia ser imensamente maior.
O campo de Libra foi descoberto pela Petrobras. Logo após a descoberta de seu fabuloso potencial, a ANP e o governo decidiram retirar o bloco de Libra do conjunto que a União lhe havia entregado em cessão onerosa visando à capitalização da empresa. Ao invés de negociar com a Petrobras um contrato de partilha (a nova lei, no seu art. 12º, permite), decide fazer leilão para entregar ao cartel internacional do petróleo.
Se o bloco fosse mantido com a Petrobras, a empresa poderia ser recapitalizada pela mesma forma adotada sabiamente pelo presidente Lula. Se isso tivesse sido feito, o governo poderia obter, se quisesse, o dobro ou mais do valor que “obterá” com o leilão para o cartel internacional. Esse resultado poderia ser obtido, por exemplo, com um adiantamento a ser viabilizado pela Petrobras com empréstimos.
A Petrobras ofereceria Libra como garantia, pois o campo vale mais de um trilhão de dólares. Outra alternativa seria a União vender Libra em troca de ações ou em títulos de dívida da Petrobrás.
Ou seja, nada, nem mesmo o argumento do superávit primário, justifica o leilão, verdadeiro atentado contra o interesse público.
O problema cambial, por sua vez, decorre, entre outros motivos, da desnacionalização das grandes empresas brasileiras, estatais e privadas. Já são mais de 4.000, a partir do governo FHC, passando pelos governos petistas.
As empresas desnacionalizadas remetem enormes montantes de lucro para o exterior, gerando vultoso déficit nas transações correntes. Há quem preveja um déficit de US$ 80 bilhões para 2013.
Assim, foi criado um circulo vicioso perverso: a remessa de dólares gera déficit, exigindo a atração de mais capital estrangeiro para cobri-lo.
O governo atrai capital estrangeiro através de juros altíssimos ou realizando privatizações.
Essas duas modalidades agravam o problema, porque aumentam as remessas de lucro futuras.
Se esta sangria não for estancada, vira hemorragia e poderá consumir ao longo das próximas décadas toda a riqueza de US$ 20 trilhões prevista do pré-sal. Isso sem que o seu verdadeiro dono, o povo brasileiro, obtenha qualquer vantagem.
Assim, aproveitando-se de nossas limitações, o cartel internacional pretende usufruir lucros fantásticos sem riscos para remetê-los para fora.
É preciso parar essa insanidade, não privatizando mais o patrimônio público, instituindo uma política industrial que fomente a criação de empresas genuinamente nacionais públicas ou privadas e revendo a lei de remessas de lucros.
A lei do governo Lula para o pré-sal define a Petrobras como operadora única da exploração do petróleo e a participação obrigatória em todos os consórcios exploradores com no mínimo 30% do investimento.
Isso contraria os interesses internacionais, pois ter a Petrobras como operadora inibe as duas maiores fontes de corrupção na produção internacional do petróleo: o superfaturamento nos custos de produção (ressarcidos em petróleo) e a medição fraudulenta da produção, sempre para baixo.
O Tribunal de Contas da União constatou em auditoria que a ANP não realiza o acompanhamento sistemático dos volumes de petróleo e gás natural que as operadoras alegam produzir (Acórdão 657/2013, no processo TC 010.147/2012-8), o que motivou o Senado a requerer explicações ao Ministro de Minas e Energia.
Mais grave: o leilão do Campo de Libra e os próximos do pré-sal ocorrem num momento em que a Petrobras está sendo, irresponsavelmente, estrangulada financeiramente pela política governamental que a obriga a importar combustíveis e repassar ao mercado nacional por preços menores, mas não obriga as suas concorrentes a fazer o mesmo.
Trata-se de um absurdo, porque a Petrobras não tem mais o monopólio na importação de petróleo e derivados, e, portanto, não tem o dever de vender com prejuízo em relação às suas concorrentes.
Esse estrangulamento financeiro proposital está fazendo com que a empresa fique impedida de ter uma maior participação no consórcio vencedor. Além disso, em razão do inexplicável e elevadíssimo valor do bônus de adiantamento envolvido, também dificilmente teremos participação significativa de empresas nacionais ou mesmo estrangeiras não pertencentes ao cartel.
A quem interessa o afastamento da Petrobras, a redução da concorrência no leilão e a desnacionalização de uma riqueza que pertence ao povo brasileiro?
O petróleo é um recurso mineral estratégico, não renovável e cada vez mais escasso, que, além de combustível ainda insubstituível (move 90% do transporte do mundo), é matéria-prima para mais de 3.000 produtos petroquímicos (presente em 85% dos produtos que usamos).
O Brasil é um país privilegiado, pois sua matriz energética para os próximos 20 anos dependerá de apenas 53% de combustíveis fósseis, ao passo que no resto do mundo a dependência ficará em 86%.
A Petrobras é líder mundial na exploração e produção de petróleo em águas profundas, reconhecida mundialmente pela OTC (Off shore Technology Conference), que já lhe concedeu dois prêmios. Metade da exploração e produção mundial de petróleo no mar é feita pela Petrobras.
Por outro lado, a história demonstra que a presença estrangeira na indústria do petróleo é fator de inquietação social, instabilidade política, fraudes, guerras, corrupção, assassinatos, golpes de estado e outros incidentes.
O artigo 12º da nova lei do petróleo permite que o governo, atendendo ao interesse nacional e ao suprimento de energia, negocie com a Petrobras a cessão de áreas, sem leilão, e mediante contrato de partilha de produção.
Se o governo fizer isso pode obter um superávit primário muito maior do que pretende com a entrega às multinacionais. Tomar o campo de Libra e leiloá-lo é entregá-lo ao cartel internacional do petróleo.
O governo admite explicitamente sua submissão aos interesses dos rentistas e dos grandes bancos, ao “justificar” a necessidade de atingir a meta do superávit primário.
Mas os fatos mostram que, além do absurdo desta submissão admitida explicitamente, há outra, não admitida, mas petróleo. Leiloar petróleo é um contrassenso, mas leiloar petróleo já descoberto, e o maior campo do Brasil, é um verdadeiro crime de lesa-pátria que comprometerá o nosso futuro e o das gerações vindouras de brasileiros.
Os brasileiros, onde puderem, devem dizer um rotundo “não aos leilões do petróleo”, pois eles são desnecessários, inoportunos e injustificáveis.
* Raul Tadeu Bergmann é engenheiro aposentado da Petrobras e diretor da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet).
** Roberto Requião é senador pelo Estado do Paraná.



sexta-feira, 13 de setembro de 2013

ANITA MAKINS NÃO É BOA PARA O CFM


Deu no tijolaço
Como a nossa elite é racista e desumana, para mostrar a monstruosidade do corporativismo médico e das dificuldades que impõe aos profissionais que se formam fora do Brasil,  o acaso trouxe uma brasileira, loura, formada em Medicina na Inglaterra, experiente a ponto de ter chegado ao mais alto grau como “consultant” em Ginecologia e Obstetrícia no hospital da Universidade de Oxford, o que significa dirigir e orientar estudantes e médicos nesta área.
Anita Makins Huxley cresceu em São Paulo, mas se formou em Medicina na Universidade de Nottingham e tornou-se Mestre em Saúde Pública em Países em Desenvolvimento, pela London School of Hygiene and Tropical Medicine.
Anita quis voltar ao Brasil e atender pacientes brasileiros.
Mesmo tirando as melhores notas entre todos os que tentaram o “Revalida” na USP, por duas vezes, não conseguiu ser considerada capaz para exercer a medicina no Brasil.
Para seguir sua vocação de cuidar da saúde de mulheres e crianças carentes, teve de ir trabalhar na República dos Camarões, em Cabo Verde e em Moçambique, através daONG Solidarmed.
Deixemos que Anita conte a sua história, como fez ano passado à seção de cartas doEstadão fui buscar os dados sobre sua carreira profissional, para que possamos nos envergonhar mais do corporativismo abjeto que tomou conta desta questão:
Parece-me lógico que o país precise se defender da entrada de médicos mal qualificados no sistema de saúde, o que não entendo é por que médicos brasileiros competentes, formados pelas melhores instituições internacionais, com ampla experiência, estão sendo barrados de exercer a sua profissão no seu país.
Sou brasileira com 2º grau completo em conceituado colégio paulistano.  Estudei Medicina na Inglaterra, onde adquiri 12 anos de experiência no sistema de saúde do governo (National Health System), chegando ao mais alto nível dentro da hierarquia de Consultant Obstetrician and Gynaecologist no prestigioso John Ratcliffe Hospital, hospital da Universidade de Oxford. Também trabalhei nos Camarões e durante um ano na Serra Leoa com os Médicos Sem Fronteiras.
Tentei por duas vezes revalidar meu diploma pela USP, gastei uma fortuna em documentação e viagens, mas o exame, que levaram seis meses para corrigir, foi feito para ninguém ser aprovado. Fiz mestrado em Saúde Pública no London School of Hygiene and Tropical Medicine.
Também sou membro do Royal College of Obstetricians and Gynaecologists e fiz parte do International Executive Board dessa Instituição.
Não estudei Medicina para ganhar dinheiro, mas para ajudar os outros.
Como meu país não quer aproveitar minha formação e experiência, estou atualmente trabalhando para uma ONG suíça numa região muito pobre do norte do Moçambique, encabeçando um projeto em Saúde Materna e Neonatal. Sinceramente não entendo por que a minha experiência não é levada em consideração neste processo de revalidação, e é muito pretensioso afirmar que todos os médicos formados no exterior são incompetentes.
Por favor, Doutora Anita, não descreia definitivamente de seu país, por conta disso.
É que gente que estudou Medicina para ajudar os outros, como a senhora diz, envergonha os dirigentes das corporações médicas e de parte dos círculos acadêmicos.
É que gente com solidariedade, disposição, vontade, ganas de usar seu trabalho para melhorar a vida e o mundo passou a “não servir”.
É porque equipamentos complexos, hospitais com hotelaria, congressos financiados pela indústria farmacêutica, coisas assim, são essenciais.
Não essencial são as crianças, como o garoto de três anos que vesti para ser enterrado, morto por meningite porque um médico que não olha direito para os pacientes e manda embora rapidamente o devolveu ao lar pobre e distante na zona rural de Niterói, para voltar às pressas, horas depois, numa madrugada de domingo de Carnaval, com cianose e quando já nada se podia fazer.
Vivi os minutos mais tristes da minha vida ali, porque o pai e a mãe – ele servente de pedreiro, ela caixa da padaria proximo à minha casa – estavam inválidos pela dor.
Um garoto mulatinho, tão bonito quanto o seu pequeno Frederico – que vi com vc, toda orgulhosa, no Facebook- e tão bonito quanto tantos negrinhos assim que a senhora cuidou aí na África.
Faça ele crescer amando a vida e as pessoas, e não os títulos e os preconceitos.
Faça isso por ele e por todos os meninos e meninas daqui, daí, do mundo inteiro, que não precisam de um “Revalida”, de uma certidão, de um papel para que os reconheçamos seres humanos  independente de que cor tenham, de que língua falem, de que seus pais sejam ricos ou pobres, de que tenham ou não o cartão de um plano de saúde.
E que, por isso, faz com que eles sejam sagrados.
Faça isso para que ele creia que ainda somos seres humanos, por favor.
Por: Fernando Brito

SOBRE MARINA SILVA

Embaixo, um post de alguns dias atrás que saiu no tijolaço, transcrito pelo Conversa Afiada de Paulo Henrique Amorim. 

Algumas dúvidas minhas sobre Marina:

No caso de ser eleita, espera ter maioria parlamentar eleita por seu partido, a "rede" de sustentabilidade? Se não, que partidos seriam chamados a compor uma maioria?

É sério que Deus criou o mundo em sete dias, etc., etc.? Qual seria o papel do pastor e deputado Marcos Feliciano em seu governo?

Qual é a sua visão sobre a política externa brasileira? Pretende ser mais ou menos, ou algo como o governo atual, firme em relação aos comandos da grande república do norte? 

Como vai ser dua relação com os um por cento que mandam no mundo, ou seja, o poder financeiro?

Tem propostas definidas para o combate à corrupção, ou utilizará o tema como o PIG e seus partidos, apenas para fustigar o PT e os partidos que apoiam o governo Dilma?



“MARINA LEITÃO”,
A NOVA URUBÓLOGA

Comentário neolibelê (*) não foi da Miriam Leitão. Foi, sim, da Bláblárina Silva 
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Saiu no Tijolaço:

SURGE UMA NOVA URUBÓLOGA: “MARINA LEITÃO”



“No aspecto do controle da inflação: temos o risco de retorno da inflação. Temos um problema que sinaliza uma série de dificuldades que comprometem alguns dos instrumentos mais importantes para o equilíbrio, que são o tripé meta de inflação, câmbio flutuante e superávit primário”.

O comentário não é da Miriam Leitão, é da candidata Marina Silva, na entrevista que deu à Folha, hoje.

Questionada se a questão econômica não seria o ponto fraco de sua candidatura, disse que a ideia de sustentabilidade a tornou preparada em economia. E defendeu, tintim por tintim, a agenda econômica liberal, numa avaliação que podia ser subscrita integralmente, por qualquer economista tucano.

Marina, infelizmente, se junta ao coro catastrofista, tentando assustar as pessoas com um perigo de uma explosão inflacionária que não existe, mas que serve para justificar as pressões pelo aumento dos juros, inibe os investimentos públicos e rema contra expansão da economia, da produção e do emprego.

Se Marina criticasse o Governo Dilma por se aferrar demais aos preceitos neoliberais que, há quase 20 anos, vêm manietando este país, se falasse no absurdo que é a economia dos países centrais nos envolver no torvelinhos de seus fluxos de capital especulativo, se falasse ao menos, desse uma palavrinha contra este escândalo que é a tentativa de controle de nossas riquezas petrolíferas pela espionagem, ou sobre a discriminação aos médicos estrangeiros e a crueldade que é querer privar o povo pobre de assistência médica…

Mas nada, nadinha…

Marina, de olho no vácuo criado na direita pela fraqueza de Aécio Neves e pelo expurgo de José Serra, tirou de vez a indignação social de seu discurso, substituindo-a por um discurso afetado, udenista, moralista e…frio, extremamente frio.

O Brasil já teve muitos governos de gente fria, sem emoções. Se a paixão não resolve tudo, a falta dela não permite resolver nada.

Das profundezas da floresta acreana, de uma vida de dificuldades e discriminações, surge uma Marina Silva que ficou igual a todos eles.

E, portanto, querendo ou não, servindo aos mesmos propósitos.

Por: Fernando Brito 

DE PAULO NOGUEIRA, SOBRE LUIS GUSHIKEN


O que os anos recentes de um dos grandes líderes sindicais das décadas de 1970 e 1980 contam sobre o Brasil de hoje.
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Este texto foi escrito 4 dias antes da morte de Luiz Gushiken
Montaigne escreveu que o tamanho do homem se mede na atitude diante da morte, e citava como exemplos Sócrates e Sêneca.
Os dois morreram serenamente consolando os que os amavam. Sócrates foi obrigado a tomar cicuta por um tribunal de Atenas e Sêneca a cortar os pulsos por ordem de Nero.
Meu pai jamais se queixou em sua agonia, e penso sempre em Montaigne quando me lembro de sua coragem diante da morte, confortando-nos a todos.
Me veio isso ontem à mente ao ler no twitter a notícia de Luís Gushiken morrera aos 63 anos. Depois desmentiram, mas ficou claro que ele vive seus dias finais num quarto do Sírio Libanês, com um câncer inexpugnável.
Soube que ele mesmo se ministra a morfina para enfrentar a dor nos momentos em que ela é insuportável, e para evitar assim a sedação.
Li também que ele recebe, serenamente, amigos com os quais fala do passado e discute o presente.
A força na doença demonstrada por Gushiken é a maior demonstração de grandeza moral segundo a lógica de Montaigne, que compartilho.
Não o conheci pessoalmente, mas é um nome forte em minha memória jornalística. Nos anos 1980, bancário do Banespa, ele foi um dos sindicalistas que fizeram história no Brasil ao lado de personagens como Lula, no ABC.
Eu trabalhava na Veja, então, e como jovem repórter acompanhei a luta épica dos trabalhadores para recuperar parte do muito que lhes havia sido subtraído na ditadura militar.
Os militares haviam simplesmente proibido e reprimido brutalmente greves, a maior arma dos trabalhadores na defesa de seus salários e de sua dignidade. Dessa proibição resultou um Brasil abjetamente iníquo, o paraíso do 1%.
Fui, da Veja, para o jornalismo de negócios, na Exame, e me afastei do mundo político em que habitava Gushiken.
Ele acabaria fundando o PT, e teria papel proeminente no primeiro governo Lula, depois de coordenar sua campanha vitoriosa.
Acabaria se afastando do governo no fragor das denúncias do Mensalão. E é exatamente esta parte da vida de Gushiken que me parece particularmente instrutiva para entender o Brasil moderno.
Gushiken foi arrolado entre os 40 incriminados do Mensalão. O número, sabe-se hoje, foi cuidadosamente montado para que se pudesse fazer alusões a Ali Babá e os 40 ladrões.
Gushiken foi submetido a todas as acusações possíveis, e os que o conhecem dizem o quanto isso contribuiu para o câncer que o está matando.
Mas logo se comprovou que não havia nada que pudesse comprometê-lo, por mais que desejassem. Ainda assim, Gushiken só foi declarado inocente formalmente pelo STF depois de muito tempo, bem mais que o justo e o necessário, segundo especialistas.
Num site da comunidade japonesa, li um artigo de um jornalista que dizia, como um samurai, que Gushiken enfim tivera sua “dignidade devolvida”.
Acho bonito, e isso evoca a alma japonesa e sua relação peculiar com a decência, mas discordo em que alguém possa roubar a dignidade de um homem digno com qualquer tipo de patifaria, como ocorreu. A indignidade estava em quem o acusou falsamente e em quem prolongou o sofrimento jurídico e pessoal de Gushiken.
O episódio conta muito sobre a justiça brasileira, e sobre, especificamente, o processo do Mensalão. A história há de permitir um julgamento mais calmo, e tenho para mim que o papel do Supremo será visto como uma página de ignomínia.
Gushiken não foi atropelado apenas pela justiça. Veio, com ela, a mídia e, com a mídia, o massacre que conhecemos.
Um caso é exemplar.
Uma nota da seção Radar, da Veja, acusou Gushiken de ter pagado com dinheiro público um jantar com um interlocutor que saiu por mais de 3 000 reais. A nota descia a detalhes nos vinhos e nos charutos “cubanos”.
Gushiken processou a revista. Ele forneceu evidências – a começar pela nota e por testemunho de um garçom – de que a conta era na verdade um décimo da alegada, que o vinho fora levado de casa, e os charutos eram brasileiros.
Mais uma vez, uma demora enorme na justiça, graças a chicanas jurídicas da Abril.
Em junho passado, Gushiken enfim venceu a causa. A justiça condenou a Veja a pagar uma indenização de 20  mil reais.
O tamanho miserável da indenização se vê pelo seguinte: é uma fração de uma página de publicidade da Veja. Multas dessa dimensão não coíbem, antes estimulam, leviandades de empresas jornalísticas que faturam na casa dos bilhões.
Não vou entrar no mérito dos leitores enganado, que construíram um perfil imaginário de Gushiken com base em informações como aquela do Radar. Também eles deveriam ser indenizados, a rigor.
Gushiken enfrentou, na vida, a ditadura, as lutas sindicais por seus pares modestos, a justiça e a mídia predadora.
Combateu — ainda combate — o bom combate.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

O ARTIGO DE PUTIN, PUBLICADO NO NEW YORK TIMES

Ao criticar o excepcionalismo, doutrina estadunidense que serve para justificar as agressões a outros países independente de legalidade ou justiça, Putin se coloca em nome de todos os outros países, fora EUA e Israel.

por Heloisa Villela, de Nova York, especial para o Viomundo
O artigo que tomou quase uma página inteira do New York Times deu o que falar.
Foi assunto na blogosfera norte-americana o dia inteiro e provocou até mesmo uma explicação do jornal.
Margaret Sullivan, ombudsman, publicou um post no site do Times para explicar como e porque a publicação decidiu postar, ontem à noite — e publicar hoje no jornal impresso — o artigo assinado pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin.
Ela conta que na última quarta-feira o editor da página de opiniões e editoriais, Andrew Rosenthal, recebeu um telefonema da empresa de relações públicas americana que representa Vladimir Putin oferecendo o artigo.
Ele estava tão bem escrito e a argumentação era tão forte que Rosenthal decidiu publicar.
A repercussão foi enorme. Segundo o Times, nos últimos tempos foram poucos os artigos que receberam tanta atenção imediatamente.
Só se compara aos que foram escritos por Mona Simpson, irmã de Steve Jobs; Angelina Jolie sobre a mastectomia dupla à qual se submeteu e ao artigo de Greg Smith contando porque pediu demissão do banco Goldman Sachs.
Segue a tradução:
Um pedido de cautela, da Rússia
Eventos recentes envolvendo a Síria me impeliram a falar diretamente com o povo norte-americano e com seus líderes políticos. É importante fazê-lo num tempo no qual a comunicação entre as sociedades é insuficiente.
As nossas relações passaram por estágios distintos. Estivemos uns contra os outros durante a Guerra Fria. Mas também já fomos aliados, e derrotamos os nazistas juntos.
A organização universal internacional – as Nações Unidas – foi estabelecida para evitar que devastações como esta acontecessem novamente.
Os fundadores das Nações Unidos entenderam que as decisões que afetam a guerra e a paz devem ser tomadas apenas por consenso, e com o consentimento norte-americano o veto dos membros permanentes do Conselho de Segurança foi preservado no Estatuto das Nações Unidas.
A sabedoria profunda dessa decisão sustentou a estabilidade das relações internacionais por décadas.
Ninguém quer que as Nações Unidas sofram a mesma sorte da Liga das Nações, que desmoronou por não ter alavancagem real. Isso é possível se países influentes ignorarem as Nações Unidas e agirem militarmente sem a autorização do Conselho de Segurança.
O ataque potencial dos Estados Unidos contra a Síria, apesar da forte oposição de vários países e grandes líderes políticos e religiosos, incluindo o Papa, resultará em um aumento do número de vítimas inocentes e pode, potencialmente, espalhar o conflito para além das fronteiras da Síria.
Um ataque aumentaria a violência e deflagraria uma nova onda de terrorismo.
Ele poderia minar esforços multilaterais para resolver o problema nuclear iraniano e o conflito Israel-Palestina além de desestabilizar o Oriente Médio e o Norte da África.
Ele poderia desequilibrar todo o sistema internacional de lei e de ordem.
A Síria não está assistindo uma batalha pela democracia, mas um conflito armado entre o governo e a oposição em um país multireligioso.
Existem alguns defensores da democracia na Síria. Mas há um número mais do que suficiente de rebeldes e extremistas da Al Qaeda de todos os tipos lutando contra o governo.
O Departamento de Estado dos Estados Unidos designou a Frente Al Nusra, o Estado Islâmico do Iraque e o Levante, que lutam do lado da oposição, como organizações terroristas.
Esse conflito interno, alimentado por armas estrangeiras fornecidas à oposição, é um dos mais sangrentos do mundo.
Mercenários de países árabes que estão lutando lá, e centenas de militantes de países ocidentais e até mesmo da Rússia, são assuntos que nos preocupam profundamente.
Será que eles retornarão a seus países com experiência adquirida na Síria?
Afinal, depois de lutar na Líbia, extremistas se deslocaram para o Mali. Isso nos ameaça a todos.
De fora, a Rússia defendeu o diálogo pacífico permitindo aos sírios desenvolver um plano de compromisso para seu próprio futuro. Nós não estamos protegendo o governo da Síria, mas a lei internacional.
Nós precisamos usar o Conselho de Segurança das Nações Unidas e acreditamos que preservar a lei e a ordem no complexo e turbulento mundo de hoje é uma das poucas formas de evitar que as relações internacionais deslizem para o caos.
A lei ainda é a lei, e nós devemos seguí-la gostemos dela ou não.
De acordo com a atual lei internacional, o uso da força só é permitido em defesa própria ou por decisão do Conselho de Segurança.
Qualquer outro motivo é inaceitável, de acordo com o estatuto das Nações Unidas, e se constituiria em um ato de agressão.
Ninguém duvida que gás venenoso foi usado na Síria. Mas existe muita razão para se acreditar que ele foi usado não pelo Exército Sírio, mas pelas forças de oposição, para provocar uma intervenção de patronos estrangeiros poderosos, que tomariam o partido dos fundamentalistas. Informes de que militantes estão preparando outro ataque – desta vez contra Israel – não podem ser ignorados.
É alarmante que a intervenção militar em conflitos internos de países estrangeiros tenha se tornado comum para os Estados Unidos.
É de interesse dos Estados Unidos no longo prazo? Eu duvido. Milhões, no mundo, cada vez mais veem os Estados Unidos não como modelo de democracia, mas se apoiando somente na força bruta, formando coalizões sob o slogan “ou você está conosco ou contra nós”.
Mas a força tem se mostrado ineficiente e sem sentido. O Afeganistão está cambaleando e ninguém sabe dizer o que vai acontecer quando as forças internacionais forem embora.
A Líbia está dividida em tribos e clãs.
No Iraque, a guerra civil continua, com dúzias de mortes todos os dias.
Nos Estados Unidos, muitos fazem uma analogia entre o Iraque e a Síria, e perguntam por que seu governo gostaria de repetir um erro recente.
Não importa quanto precisos os ataques ou quão sofisticadas as armas, as mortes de civis são inevitáveis, incluindo idosos e crianças que o ataque tem como objetivo proteger.
O mundo reage perguntando: se você não pode contar com a lei internacional, então deve encontrar outras formas de garantir a sua segurança.
Daí o crescimento do número de países que estão tentando adquirir armas de destruição em massa. Existe uma lógica: se você tem a bomba, ninguém vai tocar em você.
Nos resta a conversa sobre a necessidade de fortalecer a não-proliferação, quando na realidade ela está sendo erodida.
Nós temos de parar de usar a linguagem da força e voltar ao caminho da diplomacia civilizada e dos acordos políticos.
Uma nova oportunidade para evitar a ação militar surgiu nos últimos dias. Os Estados Unidos, a Rússia e todos os membros da comunidade internacional devem abraçar a oportunidade da intenção do governo sírio de colocar seu arsenal químico sob o controle internacional para subsequente destruição.
A julgar pelas declarações do presidente Obama, os Estados Unidos veem esta como uma alternativa à ação militar.
Eu dou as boas vindas ao interesse do presidente em continuar o diálogo com Rússia e Síria. Nós devemos trabalhar juntos para manter essa esperança viva, como concordamos no encontro do G8 em Lough Erne na Irlanda do Norte em junho, e levar a discussão de volta para as negociações.
Se pudermos evitar o uso da força contra a Síria, isso vai melhorar a atmosfera das relações internacionais e fortalecer a confiança mutual.
Será nosso sucesso coletivo e abrirá  as portas para a cooperação em outros assuntos críticos.
Meu trabalho e minha relação pessoal com o presidente Obama são marcados por uma confiança crescente. Eu sou grato por isso.
Eu estudei cuidadosamente seu discurso à nação na terça-feira. E discordaria de um argumento que ele apresentou sobre o excepcionalismo americano, afirmando que a política dos Estados Unidos é “o que torna os Estados Unidos diferentes, é o que nos torna excepcionais”.
É muito perigoso encorajar as pessoas a se verem como excepcionais, seja qual for a motivação.
Existem países grandes e pequenos, ricos e pobres, aqueles que têm uma longa tradição democrática e os que estão ainda encontrando o caminho da democracia.
Suas políticas também são diferentes. Nós somos todos diferentes, mas quando pedimos ao Senhor suas bênçãos, não devemos nos esquecer de que Deus nos criou todos iguais.