terça-feira, 2 de agosto de 2011

Desastre eficiente 5 - Incapacidade das sociedades e das pessoas de pensar com limites e agir de acordo.


Propomos um modelo de visão e comportamento para descrever a situação de um ser humano na atualidade. Este modelo foi herdado das sociedades de caçadores e coletores, dos quais descendemos todos. Estas, por sua vez, mantiveram os padrões de comportamento de seus antepassados primatas, aos quais adicionaram a capacidade de revolucionar as formas de relacionar-se com o meio ambiente, e de migrar, tudo isso em frações de tempo muito menores do que seus ancestrais.

Nesse modelo, existe a toca (ou casa), e o mundo em torno da toca.
Fora da casa, mais perto ou mais longe, existem fontes de alimentos, e há sempre lugar suficientemente longe para lançar o lixo. A fumaça e as contaminações nos corpos de água se dissolvem. Quando as formas de exploração do meio ambiente passam do limite, há colapso do ajuntamento e ou sua emigração, parcial ou total.

As sociedades humanas assemelham-se a sistemas ecológicos, ou a organismos vivos. Nascem, nutrem-se, eventualmente dão origem a novas formas de sociedade, e morrem. Sua duração e seus efeitos dependem de sua forma de interação com o meio físico e biológico. Há uma importante particularidade que marca sua diferença em relação aos organismos vivos. Num ambiente de contínua revolução das formas de produção, as civilizações não possuem mecanismos de auto-regulação eficazes no limitar seu crescimento e o crescimento de ações que destruam o seu habitat: esses mecanismos teriam que ser aprendidos pelas sociedades e pelos seres que as compõem. Na realidade, tais mecanismos nascem, mas não crescem em alcance e poder de modo a ter possibilidade de influenciar de maneira notável essas ações.

Um exemplo pode ser encontrado na mídia. Quando uma revista como Carta Capital, que aceita dar alguma atenção para as questões ambientais, encara a indústria automobilística crescente como um componente normal da economia, não como um dos vários tumores que empurram a Terra para o abismo. Toda a imprensa, de fato, dá algum espaço para poluição, aquecimento global, destruição das florestas e da biodiversidade em geral, mas quando trata da produção agrícola e industrial, omite a dimensão de perdas ambientais. São dois mundos que não se tocam. Um deles é uma máquina em crescimento permanente, o outro um conjunto de linhas de defesa em permanente recuo.

Do mesmo modo, um político que se candidate a um cargo do executivo deve se mostrar amigável com o crescimento econômico, que é o único instrumento que dentro das estruturas de poder vigentes permite conciliar minimamente as tendências de concentração de renda com o apoio de uma parte considerável da população – todo governo de país com mau desempenho em termos de crescimento econômico deve esperar ser derrotado nas próximas eleições. Inversamente, mesmo com desemprego alto, serviços públicos e infra-estruturas deficientes, se o governo puder exibir um crescimento econômico razoavelmente alto, ele deverá conseguir eleger seu sucessor.

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